Príncipe Zinho, Garboso e Formoso
Era uma vez, no Grande Reino dos Confins do Sul da Escuridão, o Reino do Sul, um rei, senhor de todos aqueles domínios, de nome Zão; seu filho, o Príncipe Zinho, um hipódromo, um domingo perdido no tempo e uma corrida de cavalos.
Rei Zão possuía um cavalo de raça, um grande vencedor de corridas, adquirido a peso de ouro de viajantes distantes. Sua empolgação era total: No próximo domingo, Garboso, seu fabuloso cavalo, estaria competindo pela primeira vez no grande hipódromo de seu amplo reino; uma barbada.
Ao longo daquela interminável semana, Rei Zão cantarolava e assobiava por todos os cantos do palácio, cheio de ansiedade. A corrida seria um dia glorioso para ele e o seu invencível cavalo, o garanhão Garboso.
— Príncipe Zinho, domingo iremos juntos ao hipódromo. Você assistirá a um grande espetáculo, venceremos com muitos corpos de vantagem — Falava o rei alegremente com o seu filho.
Príncipe Zinho foi aos poucos entrando na empolgação do grande rei, seu amado pai. Então, durante aqueles dias que antecediam à grande corrida, eram os dois pelo palácio rindo, cantando e comemorando antecipadamente o grande dia de glória do rei Zão e do invencível cavalo Garboso.
No domingo pela manhã o autódromo estava lotado; haviam súditos por todos os lados, muitos nobres estavam presentes, e, de aldeias e reinos distantes vieram muitos, muitos... Aquele era o dia da corrida anual de cavalos mais importante do Grande Reino dos Confins do Sul da Escuridão.
Os cavalos — muitos cavalos — estavam todos à postos, a corrida iria finalmente começar. Nas tribunas o coração do rei e de seu filho batiam aceleradamente, era muita emoção, muita ansiedade...
A corrida teve o seu início, os cavalos correram por aquela pista de areia em uma acelerada carreira, era mesmo um grande espetáculo assistir aqueles animais — verdadeiras forças da natureza —, correndo com tanta força, graça e leveza.
Percorridos três quartos da pista, já na reta final, Garboso pela direita estava em primeiro lugar, com mais de quatro corpos de vantagem sobre o segundo colocado, o cavalo Formoso — um autêntico azarão —, trazido por um plebeu qualquer de uma aldeia distante.
O rei pulava e gritava: "Vamos Garboso, vamos... só mais alguns metros, vamos meu herói, vamos cavalo de ouro, vamos grande vencedor, vamos ó invencível, vamos meu invicto, vamos rumo à vitória, vamos...". Príncipe Zinho acompanhava seu pai em emoção e empolgação; faltavam poucos metros para a grande glória do glorioso Garboso e de seu grande rei.
Mas Formoso, o segundo colocado, ouviu os gritos empolgados do grande rei nos instantes finais; ele era um simples, obscuro e humilde cavalo de arado, com uma grande força física. Então ali, tão perto da linha de chegada, achou que os estímulos reais vindos da grande tribuna eram para ele, que ouviu ao passar: "Vamos Formoso, vamos..., só mais alguns metros, vamos meu herói..."
Formoso então buscou forças onde não havia, e através de um último e grande esforço, hercúleo, quase descomunal, a poucos metros da linha de chegada, no derradeiro instante, ultrapassou Garboso, e venceu a corrida por menos de uma cabeça de vantagem, uma formosura de proeza.
Ninguém acreditava no que havia acontecido; um cavalo de arado havia vencido a corrida mais importante do Reino do Sul, havia vencido muitos cavalos de raça, havia vencido mesmo o grande cavalo Garboso, o invencível cavalo do Rei Zão. A alegria era total, todos comemoravam o grande feito no hipódromo, aquele seria para sempre um dia histórico para todo o Reino do Sul; todos estavam alegres com o inusitado incidente, todos, exceto o grande Rei.
Rapidamente o rei e o seu filho partiram do hipódromo — haviam muitos papeis para despachar —; o semblante do monarca estava fechado, deixando vir à tona para quem tivesse olhos de ver, uma grande frustração e um sentimento interior de raiva contida.
— Você é um grande tolo Príncipe Zinho, um bobo, o bobo da corte. Ficou a semana inteira com esta conversa fiada de grande e invencível cavalo Garboso. Aprenda a lição: Não se ganha corrida de véspera, coisa mais infantil, corrida se ganha correndo. Eu sabia o tempo todo que Formoso poderia vencer, eu sabia... de hoje em diante não quero mais ouvir conversas de corridas pelos corredores do palácio, e hoje mesmo venderei aquele seu cavalo inútil, o tal do Garboso, aquele pangaré desqualificado.
Enquanto cavalgavam de volta para o palácio, naquela manhã de domingo, Príncipe Zinho, sentindo em si um enorme sentimento de culpa, desconforto e confusão mental, tentava entender o que se passava. Aquele dia que havia começado tão radiante e garboso, viria mesmo a ser, por muitos e muitos anos, um tão longo e quase eterno dia nada formoso.
Antes que tudo se apague pelo rápido e incessante tropel do incansável cavalo do tempo, deixo escrito, que no coração do Príncipe Zinho, gravado para sempre em letras douradas, ficou aquele instante de maravilhosa glória, em que um anônimo cavalo de arado superou o grande favorito, o cavalo do Rei Zão.
Antes que tudo se apague pelo rápido e incessante tropel do incansável cavalo do tempo, deixo escrito, que no coração do Príncipe Zinho, gravado para sempre em letras douradas, ficou aquele instante de maravilhosa glória, em que um anônimo cavalo de arado superou o grande favorito, o cavalo do Rei Zão.
Num grande livro de Sabedoria diz que os últimos serão os primeiros! Se observarmos bem, vamos ver isto se repetir na vida. Humildade agrada o Criador e Mantenedor de todas as coisas!
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