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Mostrando postagens de abril, 2022

O Agricultor, Seu Velho Ego e a Mariola

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Ainda não eram cinco horas da manhã, estava escuro ainda, contudo o Agricultor já estava de pé. Tomou o seu café, encheu sua garrafa com água da fonte, pegou um tablete de mariola (*)  e caminhou em direção ao seu campo; o período seco estava chegando e era necessário fazer um aceiro ao longo de toda a cerca, a fim de evitar as desastrosas queimadas de inverno na plantação — alguns inconsequentes incendiários faziam das maravilhas que brotam do chão um verdadeiro cemitério de carvão. O campo ficava do lado leste de sua casa, para onde caminhou com suas velhas botas; chegou lá junto com os primeiros raios do sol da manhã que surgiam na linha do horizonte, vindos de um distante leste onde seus pés jamais pisariam um dia. Pouco tempo depois seu corpo e sua alma já estavam aquecidos com o movimento constante e vigoroso da enxada sobre o africano capim braquiária. Três horas mais tarde, já bastante suado e cansado pelo esforço contínuo, resolveu fazer uma pausa para beber um pouco d'águ

O Agricultor, Seu Velho Ego e o Cacho de Bananas

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O Agricultor Urbano amava o mês de abril. Acordou cedo, pegou sua querida enxada e seguiu para o campo a fim de cuidar de suas plantas e tomar um bom banho de sol. Seu velho ego estava por ali e não estava nada disposto a sair de casa, na verdade, não tinha mesmo disposição para nada, seu universo favorito era um quarto fechado e milhões de livros para ler. — Agricultor, segundo os cientistas o sol vai brilhar por aproximadamente dez bilhões de anos, portanto você pode aquecer seu corpo em outro dia qualquer, voltemos para casa! — exclamou o velho ego. — Velho ego, certamente não viverei dez bilhões de anos, nem Matusalém viveu tanto, vou para o campo agora viver intensamente algumas horas por lá, com ou sem a sua presença — retrucou o Agricultor. O velho ego que odiava ser contrariado não gostou da resposta; bateu os pés no chão, fechou a cara e voltou emburrado para dentro da casa, num profundo e desagradável mal humor. Três horas depois de trabalhar com intensa alegria sob os raios

O Amor é Atemporal

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Era uma vez uma manhã de sábado chuvoso de outono, princípio de abril. Estava na rua prestes a voltar para casa, quando passei defronte ao sacolão do bairro, e passando segui adiante, mas fui detido poucos passos depois por uma voz que vinha de dentro de mim dizendo "meu filho, um homem nunca deve voltar para sua casa com as mãos vazias". Eu conhecia aquela frase e, sobretudo, um sem número de recordações que atestavam sua veracidade — o amor é atemporal. Dei meia volta e entrei no sacolão, levaria um pouco de quiabo para o almoço; mas as mangas estavam bonitas, as bananas encantadoras, os caquis vermelhinhos, o alface e o almeirão cobertos de um verde cheio de esperança, e as laranjas amarelinhas e radiantes como o ouro ao sol. No caixa ainda comprei doce de amendoim e abóbora, partindo, enfim. Retornei com três sacolas cheias de coisas que alegram o paladar; fui recebido pela minha mulher que olhou para mim, sorriu e comentou "lá vem o filho do Sebastião" — os fru