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Mostrando postagens de maio, 2020

A Aljava, a Flecha, o Arco, o Arqueiro e a Presa

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Ao longe, como expectador, observo um quadro distante de mim... O habilidoso arqueiro saca de sua aljava uma flecha, retesa ao máximo o seu arco, aponta para a presa distante e dispara; a flecha mortífera voa vertiginosamente pelo espaço em um movimento parabólico, e certeira e impiedosamente atinge a sua presa. Aquela imagem causa-me indignação; aproximo-me do quadro e observo o arqueiro; sinto por ele raiva e desprezo; caminho agora em direção a sua pobre presa contorcendo-se em dores no chão; sinto por ela uma profunda compaixão;  Afasto-me do quadro em total desequilíbrio emocional; maldita aljava; maldita flecha; maldito arco; maldito arqueiro; sinto a profunda dor da indefesa presa.  Sou impelido por uma voz interior e imperiosa que vem de dentro de mim:  — Volte e olhe novamente! Aproximo-me e observo atentamente cada detalhe daquele quadro; sou eu a aljava; sou eu a flecha; sou eu o arco; sou eu o arqueiro; sou eu a indefesa presa. De perto, com

O Agricultor Urbano e o Sorriso do Olhar

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O fato aqui narrado ocorreu há muitos anos; foi na época da grande pandemia mundial do coronavírus, período em que todas as pessoas precisavam sair de suas casas de máscara, a fim de evitarem o contágio.  O Agricultor Urbano naquele dia precisou abandonar sua enxada e seu campo, suas perneiras e suas botas, e ir até a loja de produtos agropecuários comprar ração para os seus três vira latas.  Saiu ele então de sua casa, devidamente mascarado e sem suas perneiras e suas botas  —   evento muito raro  — , e enquanto andava pelas ruas, procurava sempre manter uma distância de mais ou menos um metro e meio das pessoas que o circundavam. Chegando à loja, aguardou pacientemente na fila do lado de fora desta; naquele dia ele não poderia entrar e conversar com os seus amigos que trabalhavam ali; naquele dia ele não poderia namorar as ferramentas; naquele dia ele não poderia admirar as botas nas prateleiras; naquele dia ele não poderia tocar nos grãos; naquele dia ele não poderia sentir a

O Agricultor Urbano e o Seu Ego Falante

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Era uma fria manhã de outono, e o Agricultor Urbano, como de hábito, havia levantado muito cedo a fim de cuidar de suas amadas árvores. Ele não estava solitário na cozinha, pelas imediações, como costumeiramente, seus vira latas aguardavam ansiosamente o momento de partirem para o campo. Seu habitual silêncio — o Agricultor Urbano era de pouquíssimas palavras — e seus solitários pensamentos foram interrompidos pela visita do seu velho Ego Falante, que entrou sem mesmo ser convidado, como já era de praxe. — Bom dia Agricultor! — falou o seu velho Ego falante. — Bom dia Ego Falante — respondeu silenciosamente o Agricultor, enquanto esperava a fervura da água do seu café. Enquanto a água não entrava no seu natural processo de ebulição, as palavras de seu Ego Falante já estavam quase em estado de efervescência... — Agricultor, Agricultor... hoje particurlamente está muito frio, e você tem trabalhado muito nos últimos dias. Suas mudas já foram todas plantadas na primavera e