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Mostrando postagens de outubro, 2018

A Árvore da Felicidade

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Era uma vez em uma cidade não muito distante, uma festa de bodas; o dia estava lindo, todos estavam felizes, os noivos, no esplendor da juventude, eram a própria imagem da alegria. Naquele dia eles receberam muitos presentes, cada um mais bonito do que o outro. No final da festa, quando todos começaram a partir, surgiu, com sua tez morena e seu chapéu e sorriso largo, o avô do noivo - não cabem aqui palavras para descrever o amor que aquele jovem sentia por aquele homem. - Meus filhos... - falou o avô. Trago para vocês um presente muito raro. Muitos o procuram palmo a palmo pelos campos, florestas e caminhos da vida, e não conseguem jamais encontrá-lo. O avô, que era lavrador, lenhador, sábio, e carpinteiro por ofício, entregou para o neto e sua esposa duas mudas de árvores muito pequeninas, porém, de uma beleza estonteante. - Cuidem destas plantas crianças. São as árvores da felicidade, o bem mais procurado pela humanidade, desde os tempos mais remotos. Para que a f

Primeiro a Luz

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Primeiro a luz depois o raio, depois o trovão, depois a chuva Primeiro a chuva depois os brotos, depois as flores, depois os frutos Primeiro os frutos depois as árvores, depois a sombra, depois o abrigo Primeiro o abrigo depois os passarinhos, depois os ninhos, depois os filhos Primeiro os filhos depois o olhar,  depois o desejo, depois o beijo Primeiro o beijo depois o abraço, depois o afeto, depois o amor Primeiro o amor depois o cativar,  depois o semear, depois as sementes Primeiro as sementes depois o chão, depois o trigo, depois o pão   Primeiro o pão depois o crescer, depois o viver, depois o saber Primeiro o saber depois o despertar, depois o ser, depois a luz Primeiro a luz...

A Greve da Angústia

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Era uma vez um homem que estava sentindo muita, muita angústia, então... - Pode ir parando por ai, sem mais então. - Quem está interrompendo a minha escrita? - Sou eu! - Eu quem? - Sou eu, a Angústia. Não quero continuar no seu texto. - E desde quando amiga Angústia, você tem autonomia para dizer se vai ou não participar da crônica? - Desde agora. Eu me recuso a continuar, por favor, busque outra emoção, existem várias... - Mas por que amiga, você está dificultando o meu trabalho no dia de hoje? - Ora escritor... Costumeiramente você me inclui nos seus textos, Angústia para cá, Angústia para lá... confesso que já ando um pouco cansada disto,  afinal de contas, ninguém gosta mesmo muito de mim; todos aqueles que sentem minha presença tentam fugir e me esquecer, tentam me esconder nos porões de sua alma, fazem de tudo, enfim, para negar a minha existência; melhor então eu ficar quietinha e despercebida. Não quero, pelo menos no dia de hoje, tirar o

Árvores, Árvores...

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Árvores, árvores... Naqueles distantes dias de sofrimento e solidão; Árvores, árvores... Naquela cidade tão longínqua, vocês me salvaram da alienação; Árvores, árvores... Desde então entre nós a mais profunda amizade; Árvores, árvores... Amor recíproco, eterna solidariedade; Árvores, árvores... Hoje é o maravilhoso dia de cuidar de vocês, domingo; Árvores, árvores... É cedo e já estou no campo, parece um sonho, porém não estou dormindo; Árvores, árvores... Que crescem cotidianamente onde piso, no chão; Árvores, árvores... Que nascem diariamente onde sinto, no meu coração; Árvores, árvores... O amor mais profundo; Árvores, árvores... O maior amor do mundo; Árvores, árvores... Se um dia eu muito crescer; Árvores, árvores... Como vocês eu quero ser.

Feliz e Infeliz do Nascimento

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Era uma vez um homem muito feliz, tão feliz, que seu nome era Feliz do Nascimento e Silva. Sua felicidade era total, e por onde ele andava, sua felicidade andava também. Feliz do Nascimento, um dia conheceu uma linda mulher de nome Infeliz do Nascimento. "Como é infeliz está mulher, vou fazê-la feliz então, darei para ela muita de minha felicidade", pensou Feliz, e Feliz logo se apaixonou e logo se casou com a Infeliz.  O nome da Infeliz desde então passou a ser  Infeliz do Nascimento e Silva. A Infeliz, ao perceber aquele homem tão bonito e tão feliz, logo imaginou que todos os seus problemas estariam resolvidos; havia finalmente encontrado o príncipe dos contos de fadas, e dali em diante seria muito, muito feliz também. Feliz e Infeliz passaram a viver juntos, e viviam bem; Feliz do Nascimento e Silva era feliz, e Infeliz do Nascimento e Silva continuava na sua infelicidade, apesar de ter se casado com o Feliz, que procurava a cada dia torná-la feliz também.

Depressiva Fachada

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Era uma vez uma cidade onde moravam todas as emoções do mundo; cada emoção, tal como na cidade das pessoas, possuía sua própria casa e, na fachada de cada uma dessas residências havia escrita em cima o nome do proprietário.  Andando pelas ruas daquele pitoresco lugar, podia observar-se facilmente o que estava escrito em cada fachada: Lar do Amor, Lar da Alegria, Lar do Perdão, Lar da Mágoa, Lar da Solidão, Lar da Esperança... Num certo dia, a Amizade  —  que era uma emoção  muito calorosa  —,  ficou sabendo que um novo vizinho, o Medo, havia mudado para bem perto de sua casa. Dirigiu-se então para lá, a fim de   conhecê-lo e saudá-lo  —  talvez o Medo estivesse precisando de alguma coisa.  A Amizade estranhou um pouco o fato de não haver ainda nada escrito na fachada, "provavelmente o Medo faria a inscrição mais tarde", pensou ela. Chegou até a casa, que estava toda fechada, e bateu na porta... ninguém atendeu. A Amizade bateu novamente e ninguém respondeu. 

Presente Deus

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Deus é tão grande que não cabe no meu olhar Invisível Deus... Deus é tão grande que não cabe no meu falar Ignoto Deus... Deus é tão grande que não cabe no meu tocar Intocável Deus... Deus é tao grande que não cabe no meu ouvir Silencioso Deus... Deus é tão grande que não cabe no meu pensar Impensável Deus... Deus é tão grande que não cabe nos porões de minha'lma Livramento Deus... Deus é tão grande que não cabe em minha ansiedade Presente Deus... Deus é tão grande que somente cabe no meu sentir, ao me tocar... Amável Deus

O Plantador Solitário

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Era uma vez uma cidade onde havia um rio muito bonito, tão bonito que fazia uma volta redondinha, quase perfeita... Nesta cidade havia um homem que, frequente e solitariamente, plantava árvores pelos caminhos por onde costumam passar carros, cachorros e pessoas; o trabalho daquele homem era tão constante, que com o passar do tempo todos acharam aquilo absolutamente natural, assim como o sol, como a lua, como o céu... Na rua onde o homem plantava as árvores, vivia em uma casa grande e bonita, um menino que frequentemente andava de carro com o seu pai; quando o carro passava pela rua das árvores e do plantador solitário, o menino, com o olhar do seu coração observava tudo aquilo... - Papai, quem é aquele homem que está sempre ali plantando árvores? O pai, que estava com a atenção no noticiário do rádio, abaixou o volume e respondeu para o menino: - Ele é um amante da natureza meu filho, e já há muitos anos planta árvores em várias ruas da cidade. O menino registrou

Asas da Liberdade

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Só por hoje escolho a alegria.... não sei como será o dia, mas escolho a alegria; não sei quem vai ganhar a eleição, mas escolho a alegria; não sei se vai chover ou fazer sol, porém, escolho a alegria. Só por hoje escolho a alegria... viajo para dentro de mim, abro o meu guarda-roupa emocional, e vejo lá, como vestimentas, várias emoções penduradas, emoções que me pertencem; escolho e visto a alegria.  Só por hoje escolho a alegria... e a alegria, como um passarinho liberto de sua gaiola, leve e feliz, cheia de gratidão, aquece sob o sol o sentimento de alegria em mim,  transformando-o em refúgio de paz, onde pode crescer com proteção, como em um ninho em meu coração, o passarinho da liberdade. Só por hoje escolho a alegria... pois nada que é externo a mim posso controlar, porém, a alegria, que vive e habita em mim, esta eu posso, como em um descontraído desfile de escolas de samba, deixar desfilar feliz, por todas as avenidas por onde pisam os meus pés.  Só por hoje

O Guarda Florestal Canadense

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Era uma vez um menino que vivia em uma cidade; na cidade haviam escolas, hospitais, postos de gasolina, farmácias, havia tudo... havia também uma indústria muito grande, tão grande que demoraria um dia inteiro para alguém percorrê-la de ponta a ponta.  O menino amava ler gibis, não tinha muito acesso a eles, porém, sem que seu irmão mais velho soubesse, de vez em quando pegava emprestado alguns, e então devorava com os olhos e o coração cada gravura e cada palavra, formando em sua mente maravilhosos quadros.   Numa dessas leituras ele leu um dia sobre um guarda florestal canadense, com um enorme chapéu, que cuidava de uma imensa floresta, e a imagem do guarda, do chapéu e da floresta ficaram gravadas para sempre em seu coração; então ele disse de si para si: Um dia serei um guarda florestal também. Como já foi relatado, ele vivia em uma cidade, e não havia nenhuma floresta ou guarda florestal por perto como referência, e então o menino - apesar de seu brilhantismo em geo

A Primavera dos Homens

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Era primavera, as primeiras chuvas já haviam chegado; o Agricultor preparava a terra, brevemente deitaria no berço do chão muitas novas mudas. Estava ele ali bem tranquilo naquela manhã, em meio àquelas árvores que cresciam lentamente, distribuindo sombra, frescor, frutos e bem estar para todos. Depois de algum tempo de solitude, seu sossego foi quebrado por buzinas, palavras de ordem, ruídos de automóveis, músicas... Subindo a rua, aproximando-se dele, vinha uma longa carreata; era tempo de eleições, e os partidários vinham anunciando as novas promessas de renovação do planeta. O Agricultor ficou por ali com sua enxada na mão, e, aos poucos, a carreata foi passando com sua alegria e seus gritos de ordem, completamente indiferente ao homem ali na beira da rua.  Quase todos os carros já haviam passado, restava somente um, e então este aproximou-se da guia e estacionou; o motorista correu apressado, e bem ali perto do Agricultor, sob o pé de uma frondosa mangueira, tentando

O Agricultor, os Passarinhos e a Jabuticabeira

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O Agricultor Urbano precisava fazer uma viagem; ficaria fora por quinze dias. Era no tempo das primeiras chuvas da primavera, e naqueles dias, sua amada jabuticabeira estava repleta de pequeninos frutos, que logo logo iriam amadurecer. Antes de partir, o Agricultor, que era amigo dos pássaros de céu, pediu ajuda para seu amigo, o jacu, que sempre visitava as árvores do seu quintal: - Amigo jacu, - falou o Agricultor - farei uma viagem. Você pode, por gentileza, tomar conta do meu pé de jabuticaba? Serei eternamente grato meu amigo. - Sem problemas, pode viajar tranquilo... - respondeu o jacu. E assim ocorreu, o Agricultor partiu sereno, confiava no jacu, e sabia que de agora em diante os frutos estariam em boas mãos, ou melhor, em boas asas. A jabuticabeira era muito grande, então o jacu chamou seus outros amigos jacus, e no final daquele dia haviam vários jacus na jabuticabeira. A  dona da casa, contente, fotografou e enviou a foto para o Agricultor distante. -

O Édito do Sal

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Era uma vez, há muito tempo, lá no distante Reino do Sul dos Confins da Escuridão, o Reino do Sul , um pobre lavrador, que com sua pequena carroça, dirigia-se ao armazém geral, levando no seu interior uma pequena quantidade de grãos de girassol.  Havia no reino um príncipe chamado Zinho, que quando crescesse, herdaria o reinado governado pelo seu pai. Naquele tempo estava em vigor o Édito do Sal, promulgado pelo Rei Zão: "Para cada cinco arrobas de grão, uma arroba de sal". Em direção aos grandes armazéns reais, chegavam diariamente carroças de todas as aldeias produtoras distantes: do norte viam os grãos de trigo e cevada, do oeste os grãos de milho e feijão, do leste grãos de arroz, do sul grãos de girassol, das aldeias do noroeste grãos de centeio... No Reino do Sul, o sal era a principal moeda de troca, todo o seu comércio era controlado pelo Rei, e nos grandes armazéns reais, havia uma infinidade de sacas de sal. As grandes carroças entravam no arm

O Paradoxo do Vazio ou A Doida Mente

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"Somente o eterno e infinito vazio existe..." Pensou minha doida mente, na eterna â nsia de tudo negar... "Mas eu também existo..." Pensou ainda minha doente mente, depois de uma eternidade de tanto pensar... "Então some nte existe eu e o eterno e infinito vazio..." Pensou ainda doidamente a minha doida mente, ainda tentando se justificar... "Mas eu não criei o eterno e infinito vazio, bem como não criei a mim mesmo..." Pensou mais uma vez a quase insana mente, antes de se entregar... "Então existe mais alguém além de mim e do eterno e infinito vazio..."  Pensou e admitiu a doida mente, docemente, e finalmente percebeu que a existência do vazio absoluto era um paradoxo; percebeu também sua própria existência, bem como a de todo o universo e, sobretudo, descobriu a existência do seu próprio Criador, e consequentemente se rendeu, mansamente, a doida mente.

Não Conheço o Seu Menino

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Bom dia amiga, bom dia...  Não conheço o seu menino, não sei o nome dele, mas provavelmente conheço a dor que ele sente, ou ainda a dor que ele sentiu.  Não conheço seu menino, mas conheço quartos com portas fechadas, conheço a saudade que dilacera o coração, conheço o vazio do existir, conheço a profunda dor da saudade, conheço aquele anseio profundo da alma, que tanto espera pela chegada de alguém.  Não conheço seu menino, não sei o nome dele, mas hoje, dentro do metrô pensei nele, e então a dor que era a dele passou a ser também a minha própria dor, e isto é bom; é mesmo extraordinário poder sentir a dor do outro, é maravilhoso poder perceber a existência do outro, talvez seja este o real significado da palavra irmão.  Não conheço o seu menino, mas o menino que mora em mim o conhece, o menino que mora em mim conhece todos os meninos que sofrem de angústia, de medo, de solidão, de saudade; todos os meninos que por um ou outro motivo não conseguem mais abraçar o pai,