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Mostrando postagens de setembro, 2019

Dongo Sente a Vergonha Tóxica

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Era uma vez um camundongo chamado Dongo que, de segunda a sexta-feira frequentava o grupo escolar perto de sua casa. Naquele tempo houve uma grande crise financeira e os recursos andavam escassos — na casa de Dongo o dinheiro sempre terminava antes do fim do mês —, e a escola passava por dificuldades também; foi realizada então uma campanha para que os alunos doassem alguns ovos para o complemento da merenda escolar. Dongo e muitos de seus colegas levaram os ovos.   Algum tempo depois, na hora do recreio, Dongo comentou com um de seus amigos que não sabia que fim havia levado aqueles ovos todos, pois na merenda eles não apareciam. Foi apenas um comentário, e ninguém jamais soube explicar como, ou de que forma, mas, de alguma maneira, as palavras do camundongo Dongo chegaram aos ouvidos da Gata Diretora — para Dongo todos eram gatos.  Após o recreio as crianças voltaram para as salas  — ou seriam celas? —  , e a rotina da escola seguiu o seu curso. Era um tempo de

Dongo Vai a Um Lugar Grande

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Era uma vez um camundongo chamado Dongo , que, aos domingos, acompanhado pela Grande Gata, ia a um lugar muito grande e muito alto  — muitos iam lá.  No lugar grande Dongo ficava quietinho  — todos precisavam ficar quietinhos  —, enquanto lá na frente, em um lugar um pouco mais elevado, um gato muito branco  — diziam que era um gato alemão  —  vestido com uma preta, comprida e estranha roupagem falava coisas em uma linguagem um pouco confusa. A Grande Gata dizia a Dongo para prestar  atenção e não falar nada, caso contrário, o Gato Branco da roupa preta ficaria muito nervoso e vermelho, chegando mesmo a interromper toda a cerimônia  —  Dongo amava a Grande Gata . Só de imaginar a cena Dongo quase caiu morto de medo ali no lugar grande. Imaginou todos olhando para ele; imaginou o silêncio universal e os olhares inquisidores; imaginou ainda o Gato Branco da roupa preta ficando rubro de raiva e apontando o dedo e gritando com ele.  Caso isto viesse a acontecer, Dongo desejaria muit

A Creche do Sexto Passo

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O Sexto Passo  —   Prontificamos nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos estes defeitos de caráter  — ,  é uma Creche, onde diariamente tenho a liberdade — ou não — de  deixar alguns de meus rebeldes e amados filhos, aos cuidados do Poder Superior  —  é ele o responsável pela Creche. Os meus rebeldes filhos? Medo, Angústia, Autopiedade, Ressentimento, Culpa, Solidão, Raiva, Indiferença, Vergonha Tóxica e tantos e tantos outros sentimentos negativos, ou quem sabe, sentimentos abandonados e não cuidados em mim.   Sou eu o pai dos meus rebeldes filhos  —  os meus filhos emocionais  — , assim como, naturalmente, sou eu o pai de meus naturais filhos. Frequentando as Salas de 12 Passos, vou, pouco a pouco, descobrindo o desconforto causado pela minha meninada rebelde, os meus desnaturados sentimentos, mas como bom pai, acho que dou conta  —  os homens sempre acham que dão conta  — , como bom pai quero tê-los sempre ao meu lado  — Ah que horror aquela síndrome do ninho v

O Camundongo Dongo e a Grande Gata Avó

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Era uma vez um camundongo chamado Dongo , que morava em um lugar bem longe da cidade; numa certa tarde, na frente da casa de Dongo parou um caminhão cheio de mudanças; daquele dia em diante, Dongo teria novos vizinhos. Não demorou muito e Dongo já era amigo daqueles gatos que moravam na casa de frente — para Dongo todos eram gatos —, e Dongo, apesar de ser um camundongo, gostou daqueles gatos, todos os gatos daquela casa, todos gatos pretos.  Então, numa outra tarde, bastante tempo depois, no quintal da casa daqueles seus amigos gatos, onde brincava, a grande gata avó passou por Dongo, olhou bem nos olhos dele e falou: "Dongo, você tem o olhar de um menino muito inteligente."  Dongo jamais esqueceu daquela gata  — nem todos os gatos são hostis  —, d aquele olhar e daquela frase,  dita com tanta candura e simplicidade para ele, naquele dia tão distante no tempo. Muitos e muitos anos depois, Dongo finalmente constatou que a grande gata avó, a grande gata preta,

O Agricultor Urbano e Aladim

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Era um domingo, e o Agricultor Urbano andava pelo campo. De repente, do nada, surgiu alguém à sua frente; era nada mais nada menos que Aladim, o gênio da lâmpada maravilhosa. O Agricultor já o conhecia das mil e uma noites. —   Bom dia Agricultor. —   Como você me encontrou aqui? —   Graças àquela foto divulgada pelos satélites indianos na semana passada. Gostaria de conceder-lhe quatro desejos, pode pedir o que quiser. —   Quatro? Nos contos são apenas três!  —   Exclamou o Agricultor sorrindo. —   Quero então um carrinho de mão, uma pá, uma enxada e um monte de terra amarela. "Este homem simples do campo não consegue compreender o meu poder", pensou o gênio, após realizar aqueles insólitos e simplórios desejos. —   Concedo-lhe em caráter excepcional mais três desejos. —   Quero então três cachorros vira latas. O gênio atendeu mais uma vez  —  já com uma certa má vontade  —,  e começou mesmo a achar que o Agricultor Urbano não e

Dongo vai à Fábrica de Refrigerantes

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Era uma vez um camundongo chamado Dongo , que, estando na escola, ficou muito contente em saber que ele e todos os seus colegas iriam fazer uma visita a uma fábrica de refrigerantes; aquele era, sem dúvida nenhuma, o maior acontecimento da escola naquele ano tão distante no tempo. Nos dias que antecederam à visita, Dongo ficou a imaginar que seria realmente algo extraordinário  —  dois ônibus seriam alugados  — , e ele ficava só pensando que beberia mais de dez, ou quem sabe, mais de vinte garrafinhas daquele refrigerante que ele só via em alguns poucos armazéns.  O dia finalmente chegou; foram todos para a fábrica logo cedo, na estrada uma alegria só, tudo era bonito, tudo era festa, tudo era fantasia. Dongo e seus amigos finalmente chegaram na fábrica, e lá, um gato uniformizado mostrou para os professores e as crianças algumas dependências da fábrica, mas Dongo não estava interessado em nada daquilo, Dongo queria era beber aquilo, beber quem sabe, vinte, ou ainda trint

Dongo vai à Escola

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Era uma vez um camundongo chamado Dongo , que, em um belo dia, teve que ir para a escola. Dongo tinha medo de sair de sua casa e ir para a escola, mas não tinha jeito, o único jeito que tinha era ir para a escola. Dongo foi para a escola, e lá, ficou sentadinho em seu canto; Dongo não queria ser visto pela professora, não queria ser visto pelos coleguinhas, não queria ser visto pela diretora, não queria, enfim, ser visto por ninguém. Dongo tinha medo de gato, qualquer gato. Durante a aula, quando tinha dúvidas, Dongo tinha medo de perguntar para a professora gata  —   ela poderia ficar tão brava como alguns gatos que ele conhecia  — , então Dongo ficava quietinho no seu canto, e levava a dúvida para sua casa; lá ele daria um jeito de resolver aquilo, ou não. Neste dia, lá na escola, na hora do recreio, Dongo foi para o pátio comer a sua merenda  —  estava com fome  — , e quando abriu a merendeira, seus colegas gatos chegaram perto dele  —   aqueles gatos famintos  —   e, comer

O Camundongo Dongo

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Era uma vez uma noite muito escura, e um imenso navio infestado de gatos, navegando pela imensidão do oceano... Imagine que no interior deste navio, bem abaixo da superfície, exista um porão... Imagine que dentro deste porão vivam os gatos mais hostis... Imagine que em um dos cantinhos deste porão, existe uma toca onde vive um camundongo... Dongo é o seu nome. Imagine que exista somente este camundongo no navio, o Dongo... Imagine que o camundongo Dongo precisa sair da toca todos os dias, e ir ao convés para dar conta de sua vida... Imagine que todo o controle do navio esteja nas mãos dos gatos, e que o camundongo Dongo necessita interagir com eles diariamente a fim de viver... Imaginou e montou o quadro? Dongo, porém, não é um camundongo comum, na verdade, Dongo não é camundongo nenhum, Dongo é apenas uma criança, e seu sentimento constante de medo é apenas um dos sintomas de uma doença chamada codependência, da qual Dongo, infelizmente é portador. 

O Agricultor Urbano Existe

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Finalmente a prova da existência do Agricultor Urbano.  Na manhã de ontem a agência espacial da Índia, com muito pesar, revelou ao mundo que sua nave não tripulada perdeu o contato com a terra, minutos antes de pousar em solo lunar.  Os indianos ficaram todos cabisbaixos com o fracasso da missão; quando todos já se preparavam para irem para suas casas, uma última foto foi enviada pelo satélite, mas não era a foto da nave perdida no espaço, era a de um homem com uma enxada na mão.  Através das coordenadas do GPS, os indianos descobriram que estas coincidiam de forma exata com as possíveis aparições  não comprovadas do Agricultor Urbano no Brasil. Um menino que estava na agência espacial naquele momento  —  filho de um burocrata do governo  —,  exclamou maravilhado: Olhem lá o Agricultor Urbano! Naquele momento histórico, a alegria reinante na agência espacial indiana e em toda a Índia, que acompanhava tudo pela televisão foi imensa, alegria comparada tão somente ao término

O Birrento

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Segunda-feira, 09 de setembro de 2019; cheguei no escritório para trabalhar. Não foi nem possível aquela fase de ambientação tão corriqueira neste dia, mal entrei na sala e já haviam algumas solicitações de serviços aguardando por mim.  Sentei-me e comecei a trabalhar, e pouco a pouco fui ficando aborrecido e comecei então a entrar no velho padrão do coitadinho: Como é dura a vida; ontem estava lá em casa no quintal com meus vira latas; estou farto de tudo isto; a vida deveria ser composta por infinitos domingos intercalados; quero minha chupeta, quero minha mamadeira, quero papai, quero mamãe, quero ir embora ler um livro... Lá estava eu fazendo birra com a vida  —   algo tão comum na minha infância  — , não cheguei a rolar no chão e a bater com  os pés  —    sessenta anos de idade  — , mas estava tentando impor a minha pseudo soberana  vontade sobre a existência, estava tentando controlar o dia e tudo o mais  —  tem que ser do meu jeito e ponto final. Então, parei e

Acorde Menino! Eu Sou a Realidade

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Ela chegou como chegava o meu pai; olhar firme, presença absoluta, força, doçura, disciplina... não havia como evitar a sua presença ali naquele momento. Não falou absolutamente nada comigo  — era, como papai, de poucas palavras  —, caminhou lentamente, d eu uma olhada em torno, olhou profundamente para mim que estava despertando e disse-me: — Vamos lá fora! Sai juntamente com minha visitante para o ambiente exterior, o dia estava amanhecendo, mas o sol ainda demoraria um pouco para dar o ar de sua divina graça; não fazia frio, creio que era março. Andamos um pouco e então ouvi novamente aquela voz tão presente: — Pare agora e olhe para trás! O que você está vendo? — Vejo meu belo castelo de contos de fadas e a ponte levadiça; vejo as galinhas no quintal, os sapos nos brejos e as mangueiras floridas; vejo as fadas, as princesas e os príncipes; vejo mamãe deixando o almoço prontinho as doze horas em ponto; vejo os pratos emborcados sobre a mesa com toalha azul e branc

Eu, Lolô

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Eu, robô? Não querido Isaac Asimov, não... Eu, Lolô! Já vivi muitos anos como robô, muitos anos... confesso que foi necessário, foi o jeito que eu encontrei para sobreviver, mas agora não quero mais o Eu, robô, agora eu quero o Eu, Lolô. O robô, Asimov, era profundamente mental e infeliz, e tentou ao longo de tantos e tantos anos viver de forma independente do Lolô — como se isto fosse mesmo possível  — , e além de tudo isto, era mecânico, frio e metálico, e como tal, adquiriu ferrugem mental e emocional, e finalmente emperrou.  Pensando ainda como robô, a poucos segundos antes do ferro velho de minha falência metálica  — que coisa extraordinária  — , achei que era o fim do robô em mim e de tudo o mais, mas não era, era tão somente o começo, pois, muito além do robô pensamento, descobri o Lolô sentimento, ou melhor, redescobri o Lolô, pois ele nunca deixou de ser e existir, apesar do pensamento contrário do robô.  A encrenca toda ocorreu  Asimov,  há muitos anos, lá na minha i

Só Por Hoje Serei Mais Responsável

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— Meu bem, quando viajar, leve sempre com você uma reserva prudente em dinheiro, imprevistos acontecem. — Minha mulher me diz isto a anos, bem como minha mãe no passado também. Pois bem... Saí ontem do interior as dezenove e vinte em direção ao Rio de Janeiro, e no bolso dezessete reais somente  —  quase uma fortuna . A viagem dura em média duas horas. No Rio, o último ônibus urbano para Botafogo é meia noite, portanto, quase três horas de margem de segurança  — quase uma eternidade .  Em muitos anos nunca tive nenhum problema, mas ouve um dia em que cheguei a cinco minutos da saída do último ônibus — este foi o primeiro aviso da vida.  Mas ontem foi diferente... virou um caminhão de etanol na Serra das Araras, a pista de descida foi interditada, e o tempo de viagem foi se dilatando, dilatando... Lá pelas vinte uma e trinta eu já sabia que não chegaria a tempo de pegar o último ônibus, e com dezessete reais não chegaria em casa de táxi. Nesta hora não adianta oração da s