Agricultor Urbano

Solitariamente naquela manhã de domingo, no alto de um morro, onde cultivava suas árvores, aquele homem deparou-se com um lindo ipê florido naquele chão outrora desolado, olhou para o alto, admirou toda a beleza delicada daquelas flores sob o céu azul e o sol nascente, aquietou sua mente e deixou o seu coração falar... Poder Superior, conforme eu o concebo: Sob a sombra deste majestoso ipê roxo, nesta manhã de domingo, quero agradecê-lo por ter me levado um dia a uma sala de doze passos. Daquele dia distante no tempo até o dia de hoje, realizei descobertas extraordinárias em minha vida e não sou mais tão doente o quanto fui. Este ipê florido Poder Superior, bem como milhares de outras árvores plantadas pelo chão, são provas extraordinárias de Tua Presença em minha vida.  Obrigado Poder Superior, por naqueles difíceis e doloridos dias de minha falência moral e ignorância espiritual, amparar-me e conduzir-me a uma sala de doze passos, onde descobri um novo e maravilhoso

Estrelas brilham no céu Estrelas vivem no mar Estrelas brotam no chão Estrelas que não vivem no mar Estrelas que não brilham no céu Estrelas que florescem no coração... No coração do menino que aprendeu a olhar No coração do menino que aprendeu a cuidar No coração do menino que aprendeu a plantar No coração do menino que aprendeu a brotar No coração do menino que aprendeu a amar

Naquele dia de julho ensolarado e de céu azul, apesar do inverno, o Agricultor Urbano na cidade grande andava na entrada da vila de cabeça baixa, olhando atentamente para o chão. Cotidianamente quando saia para o seu urbano trabalho, ele tinha por hábito olhar para o alto, para o céu, para as encostas próximas, para as árvores... não naquele dia,  porém. Ali na entrada da vila onde morava, caminhava a passos muito lentos, olhando atentamente entre as frestas das pedras do calçamento à procura de algo... Depois de muitos passos e quase desistir da procura, já próximo ao portão que dava acesso à rua, finalmente encontrou o que tanto buscava.  Havia no acesso às casas da vila uma linda embaúba preta, contudo, naquela manhã, para pesar do seu coração, ele percebeu que ela havia sido cortada, e avistou ainda pelo chão algumas de suas folhas e pequenos galhos dispersos pelo vento. Doeu a ausência de sua amiga lá na beira daquele muro, então, mesmo com o coração dolorido passou a p

Existe alguém que me incomoda muito, alguém de quem eu não gosto, inimigo meu... O Inimigo meu já existia na minha infância, e na presença dele perdia toda a naturalidade e retraia-me completamente, escondendo-me atrás das portas, escondendo-me através do medo. Conforme fui crescendo e andando pelo mundo, novos inimigos meus foram surgindo, e o comportamento em relação a eles sempre foi o mesmo dedicado ao íntimo inimigo meu. A convicção mais profunda era a de que precisaria me afastar sempre destes inimigos, ou não sendo possível, relacionar-me com eles da forma mais superficial possível. Fiz isto por décadas, e como resultado, a vida sempre colocou em meu caminho novos inimigos meus, e eu, por falta de tantas portas para continuar me escondendo, defensivamente liberei muito medo a fim de me proteger. Cheguei mesmo a fugir para longe, quase para o fim do mundo, porém mesmo lá, os inimigos meus estavam sempre presentes, e o medo também. Sonhei muitas vezes co

Seu mundo era muito pequeno, um diminuto barril, onde ele procurava equilibrar-se o tempo todo para não cair, um barril muito perigoso que podia explodir a qualquer momento, um barril de pólvora. MENINO, MENINO, gritavam o tempo todo os Poderosos Senhores do Barril.... MENINO! Se você falar, o barril explode, se você sorrir o barril explode, se você cantar o barril explode, se você chorar o barril explode, se você mover um único dedo o barril explode... MENINO! Se você não fizer o dever de casa, o barril explode, se você não for à igreja, o barril explode, se você não varrer o quintal o barril explode, se você não for obediente e submisso o barril explode, se você olhar para nós o barril explode... E o menino, cada dia mais e mais encolhidinho, bem no seu cantinho, ali em cima do seu barril, morrendo de medo da explosão, seria mesmo o seu fim, seria o fim do barril, seria o fim de tudo, seria o fim do mundo. MENINO, MENINO, proclamavam o tempo todo os Poderosos

Durante o dia ele brincava pelos campos, corria, jogava bola, soltava pipa, subia nas árvores, tomava banho nos regatos, vivia plenamente cada instante sob a luz do sol.  Quando a tarde chegava e o sol ia aos poucos desaparecendo no horizonte, ele se recolhia, pois havia aprendido com os demais a temer a escuridão. Entrava então em sua casa, fechava todas as portas e janelas, fechava mesmo todas as frestas, a fim de não permitir a entrada da escuridão , acendia então a luz, fechava os olhos e as portas de sua alma,  e ficava encolhidinho em seu canto esperando a escuridão passar. Quando, muitas horas depois, ele ouvia o canto matinal dos galos e passarinhos, abria as portas e janelas de sua casa e de sua alma, e saia novamente para viver sob a luz do dia, sob a luz do sol. Devia ser muito perigosa a escuridão, pensava o menino, melhor me precaver e fugir dela então... Um dia porém, encolhidinho em seu canto de olhos fechados, com tudo trancado, ele ouviu o canto do g

Era vez um homem abandonado que encontrou um campo abandonado também. O abandono do campo era muito grande, onde outrora crescia um bem cuidado cafezal, circundado por um belo cafezal, jabuticabeiras, pitangueiras, bananeiras, mangueiras e outras plantas mais, agora grassava somente o capim, que lentamente, dentro de sua ignorância, ia pouco a pouco sufocando tudo, trazendo para o campo o ar da mais profunda desolação. Então o homem abandonado lembrou-se de que no passado aquele campo era cuidado por um lavrador que havia partido para sempre, deixando órfão o seu amado pedaço de chão. Como o homem abandonado conhecia em si mesmo o abandono, e o abandono doía, resolveu então adotar aquele campo, e desde então passou a cuidar dele com o mesmo zelo e carinho do zelador anterior.  Dia após dia ele foi aos poucos retirando o capim inculto, cuidou ainda de cada árvore remanescente, plantando também muitas outras, e com o passar do tempo o campo ficou novamente bonito, vivo e flori

Existem as cavernas naturais criadas, creio eu, pelo Arquiteto do Universo, e existem outras cavernas também, as mentais, criadas pelos próprios homens que as habitam, penso eu. Se os homens conseguiram localizar e resgatar várias crianças em uma longa caverna alagada, escura, perigosa, distante, fria e estreita, então seguramente, Deus, conforme eu o concebo, pode também localizar e resgatar o homem na caverna em mim, preso também em sua escura, perigosa, fria, distante e estreita caverna mental, alagada esta não pelas águas da chuva, mas pelo mais completo medo da vida e da luz.   As crianças na caverna comportaram-se como homens da mais profunda fé e esperança, e o homem na caverna em mim, comporta-se ainda como uma criança egocêntrica e birrenta, tentando sempre impor a sua própria vontade, olhando sempre e sempre para seu próprio umbigo, um míope espiritual, que precisa ainda aprender a olhar a vida com aquele olhar de esperança e fé daquela criançada cheia de vida e lu

Brasil, você perdeu, mas continuo, de forma incondicional acreditando e investindo em você, não tem mesmo como ser de outra forma... Desistir de você Brasil seria o mesmo que desistir de mim mesmo, seria o mesmo que negar minha própria realidade, pois sou parte integrante de sua natureza Brasil, impossível seria para mim viver separado de ti. Perdemos juntos então Brasil, juntos não conseguimos virar o jogo, juntos chutamos aquela última bola para fora, juntos sofremos e juntos choramos... A primeira vez que chorei por ti na copa do mundo de futebol Brasil foi em 74, perdemos para a Holanda em um jogo de péssima memória, e naquele dia Brasil, não entendi muito bem, muitos dos que estavam ao meu lado na torcida, após a derrota começaram a bradar: "Bem feito, bem feito, eu já sabia... "  Demorei muitos anos Brasil para entender que estes que somente vibram nas vitórias e tanto criticam nas derrotas, são os únicos e verdadeiros derrotados, são os pessimistas de plantão,

Bamba é a corda, e abaixo dela o poço que tanto conheço, o poço do qual desejo sair. Equilibro-me como posso na corda bamba acima do poço, tremendo de medo e insegurança. Se parar de andar, volto para o poço, se perder o equilíbrio, volto para o poço também. A corda onde piso é a linha de minha própria vida, e a vara que sustenta o meu equilíbrio é do tamanho de minha fé em Deus. Se largo a vara, perco o equilíbrio e mergulho novamente no poço. Muitas vezes largo mesmo a vara, ora por cansaço, ora por achar através de um sentimento de derrota, que o meu destino é mesmo viver no poço. Mas quando caio de volta no poço, não me sinto confortável lá, e então, depois de algum tempo pego novamente a vara e volto para a corda que paira acima dele. Tem sido assim toda a minha vida, desde o princípio até o presente momento, ora estou na corda, ora estou no poço. Quando na corda, o medo de prosseguir me leva para o poço, quando no poço, o sentimento e a dor da derrota me lev

Bom dia a todos. Acabei de acordar, são cinco e quinze da manhã, estou ainda na cama, mas meus pensamentos já estão de pé, ocupando-se com o café, com o metrô, com as questões do trabalho, com o jogo do Brasil na copa do mundo amanhã, com as contas que tenho que pagar... Repito: Acabei de acordar, cinco da manhã, e todos estes pensamentos em cinco segundos. Seria isto ansiedade meu Deus? Bem... já que acordei, vou levantar e tentar me ocupar com uma coisa de cada vez, começarei pelo café. Engraçada esta ansiedade que me transporta além do tempo... Olho para o relógio e percebo os ponteiros sempre em movimento, porém, sempre no lugar certo e na hora certa.  Olho agora para os ponteiros do relógio de minhas próprias emoções, e noto também os ponteiros em constante movimento, porém, sempre no lugar errado e na hora errada. Hora então de fazer o café, hora sobretudo, de ajustar os ponteiros do relógio de minhas emoções aceleradas. Será que sou ansioso... Será? Meu Deus, me

Lá está a chama da vela, equilibrando-se em um minúsculo pavio, pouco a pouco consumindo a parafina que a sustenta, mantendo sua luz e orientando sua irmã, a escuridão. Presente á a chama da vela... A chama não pensa no pavio e na parafina que já consumiu, isto é passado, bem como não se preocupa com o pavio e a parafina que ainda consumirá, isto é futuro.  Se a chama da vela deter-se no passado, ou preocupar-se com o futuro, perde o presente, perde sua própria luz, perde a oportunidade bendita de iluminar sua irmã, a escuridão. Sábia é a chama da vela, sempre iluminada e presente, sempre no aqui e agora, vivendo cada instante de sua existência permeada de luz, luz que não afasta, mas que abraça e educa sua irmã, a escuridão. Humilde é a chama da vela, que sabe que jamais brilharia, ou mesmo existiria,  sem a presença de sua irmã, a escuridão. Lá está a chama da vela, lá está a luz na escuridão...

Esperança de sair do poço das emoções em desequilíbrio; Esperança de seguir em frente e não desistir; Esperança de atravessar a noite escura de minha própria alma; Esperança de viver cada instante, com toda a intensidade de meu coração; Esperança de viver a minha vida em paz, deixando que os demais vivam as suas, também em paz; Esperança de viver com leveza, como os pássaros que voam no céu; Esperança de não responsabilizar absolutamente ninguém, quaisquer que sejam as circunstâncias de minha vida; Esperança de substituir meu tenebroso medo de viver pela fé em um Poder Superior a mim; Esperança de a cada dia ser um servo útil e fiel ao meu Poder Superior; Esperança de me encontrar, e neste encontro me encantar; Esperança de não descobrir a América como Colombo, mas tão somente o continente de amor ainda não revelado dentro de mim; Esperança de não esperar, mas caminhar a cada dia, pois a esperança é uma constante espera em movimento, é o p