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Mostrando postagens de agosto, 2014

É tudo tão concreto

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Estou trabalhando na Cidade do Rio de Janeiro, esta é a vista da minha janela. Consigo por ela observar um pedacinho do céu, tão lindo é o céu. Nem praia, nem bondinho, nem pão de açúcar, nem floresta da Tijuca, nem Maracanã, nem Quinta da Boa Vista, nem Morro da Mangueira, como é lindo o Morro da Mangueira, nem nada.... Uma visão apenas de uma montanha de concreto, concreto por todos os lados .É como se fossem gaiolas, um montão de gaiolas. A minha gaiola é a 1201, a do meu vizinho é a 1202, tem gaiola para o médico, o advogado, o engenheiro, o contador, o funcionário público, o banqueiro, tem gaiola em cima, gaiola embaixo, gaiola ao lado, gaiola em frente, gaiola atrás, gaiolas e gaiolas. Estou louco de vontade de dar uma fugidinha da gaiola, ir lá embaixo, observar as árvores, as pessoas, o céu, o sol, a brisa... Que vontade de fugir da gaiola, mas agora não posso, tem telefone na gaiola, e o telefone não vai demorar para tocar, pode ser também que um outro engaiolado bata na

O Bicho da Goiaba

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Goiaba Vermelha Por esta eu não esperava. Inverno ainda, tudo seco, um bom tempo sem chuva, já estava cansado, preparando-me para ir embora, com sede e com fome, meus amigos, os cachorros vira latas já haviam partido,  e de repente... Passei ai do lado desta goiabeira, bem pequena ainda, pouco mais de 1 metro de altura, e não é que tinha uma bela goiaba bem ao alcance de minha mão. Pensei comigo: esta goiaba deve estar com bicho! Relutei, pensei em deixar o fruto no pé para os pássaros comerem, mas... Peguei a goiaba, comi com cuidado, estava doce, muito doce, sem um bicho sequer, foi um presente da goiabeira, eu acho. Como forma de agradecimento, separei algumas sementes e plantei, para que lá na frente tantas outras pessoas e bichos, também possam desfrutar desta coisa deliciosa, que é comer uma goiaba colhida no pé, sem o bicho, o bicho da goiaba.

O Ipê da Professora Isabel

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Estamos no final de agosto, final do inverno. O ipê da professora Isabel está florido, tem sido assim a alguns anos. A professora ficava tão alegre quando via seu ipê todo florido, às vezes perguntava-me: Será que ele vai florir este ano? Floriu Isabel, o ipê floriu. Olho para ele, passo em frente à sua casa, entro e não te encontro por lá, para batermos um papo, tomarmos um cafezinho, falarmos das suas pinturas, dos seus netos, de qualquer coisa...  Como você gostava do ipê, e creio também que ele gostava (e ainda gosta) muito de você também. Cresceu bem rápido, hoje alcança os 10 metros de altura, sabe Isabel, acho, tenho quase certeza, que ele cresceu tanto assim somente para olhar para você, para cuidar de você e te presentear com sua beleza e flores, as árvores são assim, tal como os cães, gostam de seus donos, amam a todos indistintamente. Como você não mais podia ir até ele pelas limitações impostas pela vida, ele resolveu ir até você, e por isto cresceu e sempre aparecia,

A Árvore que a Cidade Esqueceu

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Avenida Presidente Vargas, Cidade do Rio de Janeiro Naquela manhã de primavera na cidade do Rio de Janeiro, o Agricultor Urbano passava pela Avenida Presidente Vargas, próximo à Candelária, quando ouviu uma voz: — Ei você, você aí... consegue ouvir-me? — O Agricultor olhou para o lado, percebendo de imediato uma infeliz árvore dentro de um enorme vaso de metal. — Sim, posso ouvi-la minha amiga, em que posso ajudá-la? — Bem... Talvez não haja muito mais o que fazer, podemos então conversar um pouquinho, só um pouquinho? Muitas pessoas passam por aqui todos os dias, porém, ninguém tem tempo, estão todas correndo. O Agricultor teria que chegar as oito horas em ponto no escritório na rua Uruguaiana, percebeu então com alegria que havia tempo, que seria possível conversar com a árvore. — Como você tem passado minha amiga? — Não estou  bem Senhor, no  passado os  humanos deixaram-me neste  vazo metálico no meio desta avenida barulhenta, naquela época eu era bem pequena. No início havia ba

Restô Dontê, ou se o Agricultor não vai à montanha...

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Imagine você a seguinte situação: Acordei 6:00 horas da manhã, caminhei 1 hora até o Centro do Rio de Janeiro, subi 215 degraus de escada, trabalhei mais de 9 horas, e no início do anoitecer, ainda peguei o metrô, fui ao Largo do Machado, participei de uma reunião, peguei o metrô de volta, de forma que cheguei em casa, bem cansado, lá pelas 22:00 horas. Imaginou? Agora imagine que você está sem pai, nem mãe, nem mulher, nem ninguém, e com uma fome daquelas. O Que fazer? A situação é esta, você está na república, bem longe do lar, doce lar, e a fome apertando... Ai o milagre acontece, ocorre a salvação: Você se lembra que cozinhou no dia anterior, que tem comida na geladeira... Junta tudo em uma panela, coloca azeite, um ovo, farinha, pimenta malagueta, dá uma mexida e o resto de ontem transforma-se no famoso prato francês Restô Dontê! Meu amigo da república, estupefato com o tamanho do prato pergunta se eu vou comer aquela montanha? Tranquilamente digo para ele: Se o Agricultor não

Então os olhos dos bichos vão ficando entristecidos

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Nina Alegria Domingo à noite, está chegando a hora da minha partida para o Rio de Janeiro. Já é assim a alguns anos, faz parte da minha rotina, não me queixo, porém os bichos... Geralmente saio de casa lá pelas 19:00 horas, e lá pelas 5:00 horas da tarde os vira latas começam a mudar o comportamento, vão procurando os cantos da casa, param de latir, vão ficando quietos, estão captando alguma coisa. Não digo para eles que é domingo, que vou partir, que ficarei 5 dias fora, não digo nada disto para eles, porém, eles sabem, eles percebem algo que está além das palavras, além do tempo e do espaço. Se por exemplo, eu não tiver que partir no domingo, digamos que em função de um feriado na segunda feira, eles não ficam amuados... Será que eles conhecem o calendário gregoriano, ou o juliano, ou outro calendário qualquer? Não sei dizer, falo muito com eles, mas jamais obtive uma resposta objetiva, algo com sim ou não, ou não sei, ou concordo, ou discordo, e assim por diante. Ouvi uma

30 Km/h

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Eu era menino, e meu pai um caminhoneiro que dirigia uma Scania vermelha, grande,  imensa.... Meu pai Tinha por aquele caminhão um amor infinito, era sua segunda casa. Antes das viagens, acordava bem cedinho, ligava o motor e deixava o mesmo aquecer por um bom tempo. Dizia para mim:  - É para circular o óleo meu filho, o veículo funciona melhor assim, este processo simples aumenta o tempo de vida útil do motor. Possuía um martelinho de madeira, e verificava calmamente, a calibragem de todos os pneus, batendo em cada um deles. Na empresa onde trabalhava era considerado um motorista exemplar, manejava a lona da carroceria como poucos, dirigia sempre com muito equilíbrio e cuidado; quando fazia longas viagens sempre descansava, não tinha pressa de chegar, respeitava os seus limites e os limites da máquina também. Um dia, nas minhas férias fiz com ele uma viagem para o Rio de Janeiro, juntamente com o meu irmão. Esta foi a minha primeira lembrança da Rodovia Presidente Dutra, t

Estou Voltando Para Casa

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Domingo, 10:00 horas da manhã, estou terminando o trabalho na mata; tirei as botas e as perneiras e estou agora pisando no chão, com os pés descalços, que delícia. Estou preparando-me para ir embora para minha casa, vou dando uma última espiadinha ao redor, tantas árvores crescendo... a vontade de ficar é grande, mas preciso ir para casa . Onde é minha casa? Digo para você que é bem pertinho daqui, 5 minutinhos de carro, 20 minutinhos a pé; lá no alto de um morro, é lá que fica a minha casa. Nesta casa eu chego com facilidade, conheço tão bem o caminho, mas a verdadeira Casa... Na verdadeira Casa ainda tenho dificuldades de chegar, está tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe! Tenho uma vaga noção do caminho, porém não o conheço bem, de forma que me perco com facilidade, e nunca consigo chegar lá. Nesta Casa tem conforto, alegria, esperança, paz, tranquilidade, descanso... Nesta Casa os ruídos do mundo não entram, o isolamento é perfeito; lá não existe medo, pânico, desesper

Sinto muito.

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Sinto muito, não sinto nada. Não sinto o sol nascer, não sinto o sol se pôr... não sinto a vida, não  sinto a morte, não  sinto a guerra, não   sinto a paz... sinto muito, sinto tao pouco, perdoe-me por não   sentir. N ão sinto a brisa, o vento, não sinto calor, não sinto alento  não sinto o sol, a chuva, não   sinto nada, nada sinto,  sinto muito, quero dizer não   sinto nada  é muito triste a terra do não  sentir, não  é dia, não   é  noite,  não é morte, não é vida, não é partir, não é chegar, não é nada. Caminhei tanto e descobri que não  sinto, como é triste não   sentir   a beleza, nem  sentir a tristeza...  não sentir o amigo, não   sentir o inimigo,  não sentir o pai, o filho, o amigo, o irmão...  ou será que o que sinto é a constatação da tristeza, a tristeza milenar do não   sentir,  e quem sabe a tristeza do não   sentir me conduzirá  pelas portas do sentir, sentir a vida, sentir a morte,sentir o sul, sentir o norte...  sentir a guerra, sentir a paz, sentir a vida, sent

Você sabe o que é araçá?

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Araçá é uma fruta muito saborosa, uma parente das goiabeiras, ocorre na mata atlântica, é muito comum na minha cidade, no que restou da degradação total da mata primitiva. Ocorre em lugares secos, e o fruto tem uma grande vantagem em relação à goiabeira: Não tem bicho! Muitas vezes você ouvirá por aí a expressão: É o bicho da goiaba, porém você nunca ouvirá: É o bicho do araçá! Eu nunca vi o araçá sendo comercializado, apesar de tão brasileiro, creio ser desconhecido pela maioria de nós.  Este que está aí na foto não está mais, logo depois da fotografia eu o comi e estava delicioso, e como sou um agricultor, peguei alguns frutos que estavam no chão e semeei, para que daqui a algum tempo outras pessoas também possam, quem sabe, encontrar um pé de araçá pelos caminhos da vida. Você sabe o que é araçá? Nunca vi, nem comi, eu só ouço falar. (Trocadilho com o samba do Zeca Pagodinho).

Enquanto o seu ônibus não vem...

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Ei você parado ai no ponto, sob a sombra das árvores. Fresquinho e gostoso este lugar, árvores para todos os lados não é mesmo? Aproveite que você está por ai, e dê uma espiadinha ao redor, olhe só que beleza... Tem pitanga, goiaba, araça, graviola, ipê e jacaranda. Veja também as paineiras, cerejeiras e jatobás, mas não deixe de admirar o cedro, a uvaia e o jatobá. Olhe só quantos pássaros cantando, quanta alegria na mata, quanta vida, quanto verde... Não se preocupe com o ônibus, pode ser que ele demore um pouco, curta este momento, se possível, desligue seu celular, desligue-se de seus problemas, medos, angústias, preocupações e ocupações. Você já viu um tucano? Não? Então fique por ai mais um pouquinho, é provável que daqui a pouco passe um por ai. E o jacu você conhece? Não? Olhe bem, não estou falando do jacu dominical que passa por ai toda a semana, e vai deixando um rastro verde pelo caminho, não estou falando do agricultor urbano , estou falando do pássaro jacu, aquele

Não sou Bombeiro...

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São 8:00 horas em ponto, e estou passando pelo quartel do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, no Campo de Santana. A banda está preparada para a execução do Hino Nacional. Detenho o passo, paro ao lado da grade, e por alguns instantes apenas ouço... Sinto uma profunda emoção invadir-me, acho lindo o hino, me vem pela cabeça um sentimento de brasilidade. É ao mesmo tempo belo e contraditório o que sinto, ora é alegria pelas belezas do País, pelo calor humano, pela solidariedade, pelo clima, pelos meus pais e avós, por toda a gente que vive aqui. Ora é tristeza pelas nossas misérias políticas, pelo nosso jeitinho às vezes tão daninho, pela violência, pelo abandono, pela falta de casas, escolas, hospitais.... Percebo que é mesmo assim, que no fundo o Brasil todo habita dentro de mim, que faço parte de um tecido maior que forma toda a nossa sociedade, que sou um brasileiro como todos os demais. Quando o hino termina, dou uma olhadinha pela grade e vejo os bombeiros, muitos bombeiros

O Inusitado

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Um domingo do mês de agosto, 7:00 h da manhã, um dia relativamente frio, porém com céu azul...Estava preparando-me para cuidar da área pública onde planto árvores, quando passou um taxi e parou. A passageira achou muito inusitado eu ali, naquela hora, com enxada, botas, perneiras, camisa quadriculada, parecendo um jeca urbano. Perguntou o que fazia e disse: - Planto árvores.... - Quantas árvores o Sr. já plantou, dez? - Mais que dez... -Cem? - Mais que cem.... - Mil? - Digamos que mais que mil. - E qual a árvore mais bela que o senhor já plantou? - A árvore mais bela ainda não plantei, esta sera a última a ser plantada! - E quando será? - Não tenho a resposta, somente o universo pode responder. A moça do taxi me achou muito engraçado, muito original, e pediu para tirar uma foto, e disse a ela que postaria, e ai está: O Agricultor urbano, ou o Jeca Tatu da Cidade, ou o Homem que gosta das árvores, de todas as árvores.... A moça se

Alegria, Alegria

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O nome da Vira Lata é Alegria. Quando ela apareceu lá em casa pela primeira vez, vinda da rua, era a própria imagem do abandono. Encontrou a porta da garagem aberta, entrou na varanda e me achou por lá. Deitou no chão com a barriga para cima, pois as patas sobre a face, e me olhou com aquele olhar cativante, implorante, dizendo assim: "Ei você, estou com fome, estou suja, não tenho onde dormir, não tenho onde morar, poderia, quem sabe, passar esta noite por aqui, só hoje...." Como desde criança aprendi a falar a linguagem dos cachorros (o Cachorrês), não foi muito difícil para mim deixar que ela ficasse lá até o dia seguinte.... Porém os dias se sucederam, vieram as semanas, os meses, os anos, e ela foi ficando, ficando e ficou. Hoje faz parte da família. Não contente com isto, em um belo dia de sol, deu um passeio pela rua, tão familiar para ela, arrumou um namorado, e apareceu lá em casa com aquela cara de carente, barriguda, barriguda. Desta aventura nasceram seus 4 f

Faça de mim um instrumento Senhor

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Senhor da vida, liberte-me de minha angústia milenar. Permita meu Pai que eu possa viver integralmente, com intensidade e alegria, ciente da Tua divina natureza em mim, integrado com tudo e com todos, participando ativamente da construção do universo. Incuta em mim Senhor o amor, a compreensão, a tolerância, o respeito por tudo o que vive. Que eu possa finalmente tornar-me consciente de minha grandeza, beleza, inteligência, que eu possa Senhor da vida, senti-lo plenamente dentro de mim, sentir Tua divina manifestação, ativa, única, intensa, sublime, que eu possa finalmente perceber que sou um reflexo de sua manifestação, uma centelha de sua chama infinita... Faça de mim um instrumento Senhor, faça de mim um instrumento de seu amor.