Estou Voltando Para Casa

Domingo, 10:00 horas da manhã, estou terminando o trabalho na mata; tirei as botas e as perneiras e estou agora pisando no chão, com os pés descalços, que delícia. Estou preparando-me para ir embora para minha casa, vou dando uma última espiadinha ao redor, tantas árvores crescendo... a vontade de ficar é grande, mas preciso ir para casa.

Onde é minha casa? Digo para você que é bem pertinho daqui, 5 minutinhos de carro, 20 minutinhos a pé; lá no alto de um morro, é lá que fica a minha casa. Nesta casa eu chego com facilidade, conheço tão bem o caminho, mas a verdadeira Casa...

Na verdadeira Casa ainda tenho dificuldades de chegar, está tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe! Tenho uma vaga noção do caminho, porém não o conheço bem, de forma que me perco com facilidade, e nunca consigo chegar lá. Nesta Casa tem conforto, alegria, esperança, paz, tranquilidade, descanso...

Nesta Casa os ruídos do mundo não entram, o isolamento é perfeito; lá não existe medo, pânico, desespero, doença, solidão, balas perdidas, tiros de canhão... É o local ideal, tão idealizado e sonhado, o local onde eu me encontro, me entrego e descanso.

Como chegar até lá, se eu mesmo tenho dificuldades de encontrar o caminho, e ninguém pode me informar o endereço? Para a minha Casa o caminho e o caminhar é somente meu. Muitas vezes, no processo de caminhar para lá me detenho cansado, sentindo-me solitário, muitas vezes perdido, porém não desisto, continuo caminhado, sinto-me claramente indo na contramão, caminhando solitariamente, encontrando pela minha frente tantos outros  na direção contrária.

Preciso continuar a caminhada; lá na minha Casa tudo é tão belo e agradável, lá existe o gosto pela vida, a alegria do ser e do viver, a magia da presença, o sentimento de gratidão por tudo o que existe. São tantos os obstáculos para chegar até lá, tantas as armadilhas... 

Ora o medo me acompanha e assopra em meu ouvido: "Não vá, é perigoso, volte, é tudo tão incerto..."; Ora vem o amigo cansaço e sugere que eu me detenha, que pare de caminhar, que descanse pelo caminho... Ora vem a amargura e me diz que estou enganado, que o caminhar é inútil, que estou indo no sentido inverso, que devo voltar... Ora os que vou encontrando pelo caminho com rostos sem expressão e alegria, dizem para mim que é tudo uma ilusão, que o melhor é ficar onde estou e entregar-me aos prazeres que a vida me oferece aqui e agora, prazeres mundanos, prazeres que podem ser comprados, degustados, fumados, cheirados...

Continuo caminhando, buscando minha Casa, preciso continuar, não quero mais me deter. Cada árvore plantada representa muitos passos no caminho de volta, cada sorriso espontâneo e sincero muitas léguas, cada gesto de amor milhas e milhas, e assim, devagarinho vou voltando, voltando para a Casa, para aquele lugar maravilhoso que existe dentro de mim. 

Como já tirei as botas, vou mesmo é com os pés no chão, minha Casa fica logo ali, daqui a pouco chego lá.

Comentários

  1. Muito lindo! Inspiração divina! Ah! quando vc encontrar o endereço da "nossa Casa", me leva junto. Bjs

    ResponderExcluir
  2. Que Blz e generosidade compartilhar teu nos de caminhar de volta para Casa. Obrigada

    ResponderExcluir
  3. Me trouxe paz, gratidão!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

O Agricultor e a Poetisa Ferida

O Marido, a Mulher, o Rio e a Calça

A Finitude das Redes e a Infinitude do Mar