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Mostrando postagens de 2019

Meu Irmão, o Minotauro

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Por muitos anos vivi no escuro, triste e fundo poço da depressão. Este estado de espírito era tão profundo em mim, que não consigo definir exatamente quando ele começou. Nas minhas lembranças mais remotas a depressão já estava lá.  Teria começado quando respirei pela primeira vez? Faz parte de minha humana natureza? Sinceramente não sei dizer. Então, por muito e muitos anos eu fui o homem do fundo do poço, do fundo do poço da depressão.  No poço da depressão eu experimentava muitos sentimentos, entre outros: Amargura, raiva, ressentimento,  indiferença, falta de fé, falta de esperança, falta de Deus, isolamento total, rejeição... No fundo do poço da depressão sentia um eterno sentimento de cansaço físico e mental, e tinha a impressão de que haviam pesadas correntes atadas aos meus pés. Outro sentimento doloroso que eu sentia no fundo do poço da depressão, era a terrível impressão de que aquilo era um inferno sem fim, e por mais que fosse o meu esforço, eu jamais conseguiria acha

Gratidão Companheiros

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O ano de 2019 começa a fechar as suas portas. Neste momento venho até você para agradecer e dizer com toda a sinceridade da sua importância em meu processo de recuperação. Minha eterna gratidão pela sua presença nas reuniões e pelas suas partilhas. Quando te encontro nas salas ou em outro lugar qualquer, sinto uma grande alegria, pois sei seguramente que ao seu lado não estou só, e que podemos ser nós mesmos, com todas as nossas humanas mazelas. Isto para mim é muito significativo, e através de cada um de vocês eu descubro o significado das palavras amizade e solidariedade. Graças ao Poder Superior, o programa de 12 Passos, e a cada um de vocês, neste período do ano eu consigo sentir que este espírito natalino ocorre em minha vida todas as vezes que eu encontro alguns de vocês por estas muitas veredas da vida, ou seja, com vocês eu tenho dezenas de natais por ano, uma verdadeira graça do Poder Superior. Meu coração exulta de tanta alegria ao saber que eu tenho tant

O Rei Não da Codependencia

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Era uma vez um rei chamado NÃO Que não gostava do não dos outros No Reino do rei NÃO Todo não foi banido para sempre E desde então Nenhum súdito dizia não Nenhum nobre ou plebeu dizia não Nem a rainha dizia não No reino do rei NÃO Eu não podia dizer não Eu não podia escrever não Eu não podia pensar não Eu não podia sentir não No reino do rei NÃO Se eu dissesse não Não seria amado pelo rei NÃO Não seria aceito pelo rei NÃO Não seria tolerado pelo rei NÃO Não seria abraçado pelo rei NÃO No reino do rei NÃO O banimento do não Transformou cada súdito Em um súdito anão Anão emocional Anão racional Anão calado Anão acanhado Anão sofrido Anão reprimido Anão sem sentido O decreto de banimento do rei NÃO Expulsou de todo o reino A criatividade A espontaneidade A solidariedade A naturalidade A bondade A amizade Pois o decreto do rei NÃO quando  impresso Contaminou o progresso Dificultou o sucesso Enfar

Décimo Segundo Passo

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Depois de muitas 24 horas nas Salas de 12 Passos, depois de mais de cinquenta anos no poço escuro de minha depressão, estava finalmente na hora de sair — não das salas, mas do poço. Paulatinamente eu percebia que aquilo estava prestes a acontecer, dia a dia eu sentia intuitivamente que finalmente daria passos em outras direções — no poço somente andava em círculos, criando profundos sulcos de amargura e desolação. Minhas duas malas já estavam prontas; todas as demais, as pesadas malas das minhas insanas e egoístas ilusões estavam ficando lá, ou seja, estava indo embora carregando somente as malas da esperança e liberdade. O poço sempre foi escuro, tudo o que eu sofri e vivi no poço foi feito no escuro, no poço eu não conseguia enxergar absolutamente nada — o orgulho e o egoísmo são cegos, o amor porém, enxerga muito bem. Peguei minhas duas malas, e tateando no escuro caminhei para a porta de saída do poço; intuitivamente eu sabia onde ela se encontrava. Estava a poucos pas

O Sapateiro dos 12 Passos

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A chapa está quente Estou em cima da chapa Meus pés queimam, não resisto Pulo, pulo em cima da chapa A chapa está quente Não consigo manter os meus pés na chapa Pulo, pulo o tempo todo Não posso tocar os meus pés na chapa A chapa está quente Estou exausto de tanto pular Décadas pulando sem parar A chapa é a realidade Não consigo pisar na chapa Não consigo viver a realidade Por mais que eu pule A força da gravidade Me trás de volta para a realidade Por mais que eu negue A força da necessidade Me trás de volta para a realidade Meus pés estão feridos Não aguento mais pular sobre a chapa Rogo ajuda aos céus Em um domingo de agosto Encontro uma singela sapataria  Leio na fachada: Sapateiro dos 12 Passos Entro com os pés feridos e encontro um sapateiro Que me dá de presente Divinos calçados O sapateiro me diz: Caminhe 12 Passos todos os dias E desde então Com os meus divinos calçados Todos os dias eu caminho 12 Passos Sob

O Meu Pessoal Estado de Buda

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Eu era jovem e estava namorando uma bela de olhos verdes. Gostava muito de ir à casa dela, e confesso com sinceridade que, além dela, gostava também de alguns livros sobre o budismo que eu encontrava na estante. Lendo alguns daqueles livros, vim a conhecer a história do príncipe Gautama, que conseguiu atingir a iluminação meditando durante muitos meses sob uma grande figueira, alcançando um estado constante de paz; decidi então que um dia seguiria o mesmo caminho dele, o caminho da iluminação, o caminho do Buda. Com o passar do tempo esqueci completamente aquela ideia, e fui, como quase todos, arrastado pelas atividades do dia a dia — filhos, profissão, obrigações, rotina... Alguns anos depois, um pouco mais velho — talvez ficasse melhor mais antigo —, já um pouco cansado de tantas coisas do mundo, resolvi finalmente começar o processo de meditação — os livros ainda estavam lá, bem como a menina dos olhos verdes —, e então, não foi muito difícil encontrar nas proximidade de mi

A Caminhada dos 12 Passos

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Antes do Programa de 12 Passos,   eu era um sofredor compulsivo, e neste estado mental era completamente governado por um mar de emoções negativas: M edo, ressentimento, raiva, indiferença, solidão, mágoa, angustia, etc  —  tudo isto dentro de um imenso oceano de pensamentos negativos. No período mais ativo na doença  —  doenç a da emoção, doença da negação, doença da codependencia, doença da adicção, etc  —,  antes das salas, eu tinha a mais profunda convicção de que todos os  sentimentos narrados acima eram de responsabilidade dos outros, e que eu era uma vítima infeliz de um mundo repleto  de pessoas mesquinhas e intolerantes  —  eu era o centro do mundo, a grande vítima da intolerância alheia, o Messias injustiçado, o peixe fora d'água...  Com a constante frequência às reuniões, através dos depoimentos e prática dos Passos e Tradições do Programa de 12 Passos, fui percebendo  o meu grau de insanidade, e pouco a pouco minhas máscaras foram, assim como máscaras de cer

O Tirano

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A doença da alma, ou doença da negação, ou codependência, ou neurose, ou adicção, ou ...  —  tantos nomes para a mesma dor  —     é um fardo pesado de carregar; é assim como uma mala grande, sem alças e sem rodinhas na subida da ladeira da Consolação, lá na capital dos paulistas.  Tenho dificuldades de dizer não; na hora do não meu coração dispara e vem um pensamento infernal: O que o outro vai pensar de mim. Sou um escravo deste outro imaginário e tirânico que vive em mim. Ele norteia a minha vida, e muitas vezes é quem diz o que eu posso ou não fazer. Este tirano acompanha todos os meus passos e vigia-me a cada instante, e ele não gosta de não; ele não gosta de alegria; ele não gosta de liberdade; ele não gosta de espontaneidade; ele não gosta de ser contrariado; ele tão somente gosta de controle e opressão. Muita da minha codependencia está ligada a este tirano imaginado em mim, ou seria,  —   quem sabe?  —  um ser real que feriu profundamente a criança que eu fui?  Gra

O Oitavo Homem Errado

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Eramos oito na reunião, e o clima estava quente; não conseguíamos chegar a nenhum consenso, no ar muitas palavras não ditas, e entre cada participante um mar de ressentimentos e sentimentos escondidos — como azes em um jogo de cartas. Eu estava muito aborrecido com tudo aquilo, e aos poucos, tal como um baiacu, fui inchando, inchando de raiva, de ressentimento, de mágoa, de intolerância... Todos na reunião eram pessoas de bem, e eramos todos dirigentes de uma casa espiritual, discutindo assuntos pertinentes a organização. Mas o clima estava pesado — aquela situação já vinha se arrastando a algum tempo —, e entre os oito haviam alguns tentando impor sua vontade em relação aos demais — eu silenciosamente não aceitava aquilo. Em certo momento, no meio da reunião, minha vontade foi virar a mesa, apontar o dedo para alguns de meus colegas — ou seriam meus inimigos viscerais — e dizer com todas as letras que eles estavam errados, todos errados, e que naquela mesa, era eu que

Todos os Dias

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Todos os dias, desde que eu tive consciência que existia, desde que eu era menino. Todos os dias, sorrateiramente ela visita-me. Todos os dias, com chuva ou sol, inverno ou verão, todos os dias, gentilmente ela visita-me. São mais de cinquenta anos ininterruptos, sem faltar um único dia sequer, todos os dias, sutilmente ela visita-me.  A presença dela é tão constante em minha vida, que muitas vezes tenho a impressão que ela faz parte da minha humana natureza; todos os dias, anonimamente ela visita-me.  A estada dela em minha casa incomoda-me, e quando ela chega, fico quieto, pensativo e triste; a visitante trás uma dor profunda, constante e indecifrável. Todos os dias, inesperadamente ela visita-me.  É como se fosse uma carência, não sei se de pai, ou de mãe, ou de Deus, mas a dor que sinto é seguramente uma dor de ausência, uma dor de orfandade sem fim. Todos os dias, elegantemente ela visita-me.  No bojo desta dor, quase companheira de tão próxima, quase amante de tã

Os Sapatos do Caminhoneiro Solitário

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Era verão e o menino estava de férias; seu pai, o Caminhoneiro Solitário , faria naquele dia uma viagem curta  —  voltaria no mesmo dia  —  à cidade do Rio de Janeiro; desta forma, o menino e o seu irmão foram passear na grande carreta.  Depois de algumas horas na estrada o Caminhoneiro Solitário e os seus filhos pararam para almoçar. O menino nunca havia entrado em um restaurante em sua vida, e a imagem daquele local foi tão marcante, que ele passou ao longo de toda a sua vida a ter uma relação quase santa com as mesas, os garçons, os pratos, o cheiro que vinha de algum local invisível, as conversas paralelas, os ventiladores no teto, as garrafas, os aventais...  —  o menino passou a amar todos os restaurantes do mundo. Durante o almoço o menino disse ao pai que queria beber um refrigerante  —  aquela era uma rara oportunidade de degustar aquela maravilha cheia de bolhas.  — Beba água meu filho, refrigerante não alimenta ninguém!  —  Retrucou o Caminhoneiro com a maior nat

Assim Nasce Um Estado

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Sua benção meu Poder Superior, conforme eu o concebo, sua benção. Estava precisando enviar umas palavrinhas meu Pai Divino, mas havia perdido o seu endereço, porém, felizmente o reencontrei lá no Quarto Passo. Começo dizendo que não existem culpados — não gosto mais desta palavra —, não existem algozes ou vítimas, heróis ou bandidos... Depois de tudo o que aconteceu, restou tão somente a minha humana condição. Pai Divino, quando eu era criança, mesmo antes de falar e andar, eu recebi por um tempo muito amor e atenção de minha mãe, e aquilo era um estado feliz — tudo para mim a tempo e a hora. Com o passar do tempo, nos momentos de ausência de minha mãe, fui passando a sentir um certo desconforto com tudo o que me rodeava — mamãe nem sempre podia estar presente. Naquela época eu tinha a mais absoluta convicção de que tudo o que existia girava em torno de mim — eu era o único e era o centro de todo o universo. Quando as coisas não aconteciam no meu tempo — eu queria mamãe a

O Amor nos Tempos dos Botões

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Era uma vez um tempo em que havia cerração nas manhãs — amada cerração. Era comum nestes dias, bem cedo, com a cerração presente, eu e minha mãe irmos até ao portão para nos despedirmos de meu pai — papai era viajante e saía sempre com a cerração presente, antes mesmo do canto dos primeiros pássaros. Papai, meia hora antes da despedida, ligava o motor e acendia a luz da cabine; naqueles instantes derradeiros antes da partida, eu — já de coração partido  —  entrava naquele local sagrado para ele, sentava no banco e ficava olhando encantado o volante, os vidros, o teto, os pedais, e sobretudo, o painel com uma infinidade botões, maravilhosos botões — um derradeiro olhar mágico dentro da cabine envolvida pela cerração da manhã.  Papai então dizia-me: "Para poder ir e voltar meu filho, é necessário conhecer a função de cada botão, e acioná-los no momento apropriado" — a carreta era a vida do meu pai. Encantado com tudo aquilo, e orgulhoso pela sabedoria do meu pai, eu

A Insana Procissão

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A doença da emoção é como uma grande procissão, onde trafegam diariamente desde tempos imemoriais, somente os genuinamente loucos, andando sempre em círculos, do nada para lugar nenhum. Passa então um homem, que observa atentamente  a grande marcha daqueles alienados mentais; fica estupefato com tudo aquilo, e então, sentido-se muito feliz por não ser um deles, exclama: Que loucura! Como não tinha nada para fazer, não pretendendo mesmo ir a lugar algum, e completamente ciente de sua sanidade, resolve então ingressar na procissão, a fim de mostrar para todos, que ele, seguramente, jamais caminharia do nada  para lugar nenhum  —  Mais um na insana procissão .

Dongo Vivencia a Ira do Grande Gato Almirante

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Era uma vez um camundongo chamado  Dongo , o mais incomum dos camundongos ; num certo dia, enquanto caminhava pelo grande navio  — para Dongo o mundo era um grande navio  —, Dongo avistou em um canto o velho monte de sucatas  — aquilo já estava ali há muito tempo  — , e Dongo achava que não era problema dele.  Naquele momento o grande Gato Almirante  —  um gato angorá senhor de toda a vida e todo o navio  —,    que estava pelas proximidades, dirigiu-se a Dongo de forma direta e imperativa,  delegando a ele uma tarefa: "Dongo, hoje alguém virá aqui pesar e levar todo este ferro-velho, e o valor combinado foi de X Cruzeiros por quilo; preste contas para mim no final do dia!"   —  os gatos angorás não falavam, eles ditavam! O camundongo Dongo tinha pelo grande Gato Almirante um sentimento de profundo respeito e veneração  — Dongo amava aquele grande Gato ; seu coração disparou, ele precisava realizar aquela tarefa da melhor maneira possível  —  os angorás não admitiam f