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Mostrando postagens de agosto, 2015

As Escadas do Convento

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Escadas do Convento de Santo Antônio Era uma segunda feira, hora do almoço, o agricultor estava na cidade do Rio de Janeiro. Seu bilhete único carioca precisava de carga, a fim de poder voltar para sua casa urbana no final do dia. E assim ele fez, desceu de elevador, chegando na rua Uruguaiana, virou à esquerda e foi seguindo pela Rua da Assembléia, cruzando a Avenida Rio Branco, Rua do Rosário e Rua do Carmo, até o ponto de recarga do cartão. Depois de entrar na loja e colocar os créditos, resolveu voltar para o trabalho, porém, havia algo estranho, ele não estava se sentindo muito bem, é como se houvesse dentro dele um vazio de alegria, algo ainda precisava ser recarregado. E o agricultor foi subindo pela Rua da Assembléia, fazendo o caminho inverso, chegando na Rua Uruguaiana, olhou para sua esquerda, e avistou lá no alto o convento de Santo Antônio, era lá que ele precisava ir agora. Seguiu em direção ao convento, lá chegando, subiu as escadas, passou pelo pátio e entrou na ig

Tempo de Crescer

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Pinheiro da casa do agricultor No alto de um morro, sob a sombra de um pinheiro, o agricultor começou lentamente o processo de reflorestamento de uma área bastante degradada, ou melhor, desprezada por todos. Além  do pinheiro, pouca coisa crescia ali, o solo era muito pobre e seco, haviam alguns sombreiros, um pé de eucalipto, um pé de sansão do campo e umas poucas árvores nativas da região. A maior de todas estas árvores era o pinheiro, um pouco acomodado, possivelmente com uma altura em torno de 15 metros, com potencial, porém para crescer muito mais, os pinheiros crescem muito.  E as novas árvores foram sendo plantadas, e com o passar do tempo foram se desenvolvendo e começando a fazer sombra. Nas proximidades do pinheiro cresciam o pau jacaré, a santa bárbara, a gameleira, o angico branco e muitas outras, de forma que a cada dia a acomodada árvore recebia cada vez menos luz solar. Aquele pinheiro estava ali talvez a uns 30 anos, poderia ter se desenvolvido mais, os pinheiros a

O Engenheiro Celeste

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Na vastidão das alturas brotou a saudade A vida não é fácil para ninguém, principalmente para os brasileiros. Quando ainda era jovem o garoto perdeu o pai, que morreu em um acidente de trabalho, e daí em diante a vida ficou ainda um pouco mais difícil, o pai faz sempre muita falta, é uma referência para toda a vida. Porém a vida continuou, e ele, mesmo sentindo aquele eterno e impreenchível vazio interior continuou o seu caminho, foi vivendo, estudando, sonhando, sofrendo, rindo, chorando, seguindo adiante... A educação poderia ser uma ponte para o futuro, e o garoto. apesar das dificuldades, estudou bastante e conseguiu completar o curso técnico. Ele, além da juventude e beleza, era também talentoso e inteligente, e logo, com a sua qualificação profissional conseguiu um trabalho lá em Vitória, capital dos Capixabas, e por lá ficou alguns anos, ganhando a sua vida e construindo a sua família. Seu pai havia sido também um técnico, e era também um aviador, com brevê e tudo, e o

Os Outros em Mim

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Não sei se escrevo, ou se escrevem através de mim Pelos canais de minha emoção, muitas vezes, inesperadamente, aqueles que se foram, ou os que ainda estão, me visitam. Chegam de mansinho, com suavidade, e sem dizerem uma única palavra, falam de suas vidas, suas histórias, dores e amores, falam da tristeza, da aventura, da alegria de ser e viver, falam da saudade e sobretudo da esperança. Tudo é muito rápido, não sei precisar o tempo, quando percebo, as palavras já estão brotando de dentro de mim, povoando linhas e linhas, as lágrimas já estão escorrendo pelos olhos, num processo leve que me traz tanta paz e contentamento. Sinto que eles querem me dizer que a vida nunca morre, que vale a pena viver sempre, aceitando tudo o que a vida nos reserva. Não sei se sou eu quem escrevo, ou se sou escrito por eles, mas o que leio depois traz para mim uma infinita alegria, uma alegria que vem de dentro, é como se eu e eles, os outros que estão em mim, formássemos um único ser, algo integral

O Escritor e a Ansiedade

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Billy, o Vira lata tranquilo, sem ansiedade. Por favor leitor, por favor, não clique ainda, eu sei que existem ainda milhões de coisas para serem lidas e o tempo é curto, por favor, leia até o fim. Calma escritor, calma, escreva devagar. Vá escrevendo e observando, sem pressa, calma, calma, não poste ainda, você nem terminou, está ainda nas primeiras linhas do texto e já quer postar, mandar para a nuvem, calma... Continue escrevendo, sinta com o seu coração cada letra, cada palavra, cada sentença, escreva com carinho. Ei, continue escrevendo, eu sei que você quer parar, quer ir na cozinha comer alguma coisa, não vá agora, concentre-se na escrita, faça uma coisa de cada vez, escreva primeiro, e depois você vai comer. Ah, você deixou o fogo do fogão ligado enquanto está escrevendo, ou seja, quer fazer duas coisas ao mesmo tempo, enquanto escreve está preocupado em controlar o tempo do cozimento, e desta forma, nem escreve direito, nem coze direito. Tá bom, pare de escrever e vá dar

O Engenheiro Celeste

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Na vastidão das alturas brotou a saudade  A vida não é fácil para ninguém, principalmente para os brasileiros. Quando ainda era jovem o garoto perdeu o pai, que morreu em um acidente de trabalho, e daí em diante a vida ficou ainda um pouco mais difícil, o pai faz sempre muita falta, é uma referência para toda a vida. Porém a vida continuou, e ele, mesmo sentindo aquele eterno e impreenchível vazio interior continuou o seu caminho, foi vivendo, estudando, sonhando, sofrendo, rindo, chorando, seguindo adiante... A educação poderia ser uma ponte para o futuro, e o garoto. apesar das dificuldades, estudou bastante e conseguiu completar o curso técnico. Ele, além da juventude e beleza, era também talentoso e inteligente, e logo, com a sua qualificação profissional conseguiu um trabalho lá em Vitória, capital dos Capixabas, e por lá ficou alguns anos, ganhando a sua vida e construindo a sua família. Seu pai havia sido também um técnico, e era também um aviador, com brevê e tudo, e o

Bateria Recarregada

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Segunda feira, 7:15 horas da manhã, o agricultor está no ponto de ônibus, esperando pelo 217 ou 226 que vai levá-lo até o seu trabalho lá na cidade. O carioca não diz "vou ao centro", ele diz, "vou à cidade", e é na cidade que o agricultor trabalha. Depois de passar 2 dias no interior, de pisar no chão, cuidar de plantas, andar pelo mato, coletar sementes, cuidar das árvores, reencontrar os parentes e amigos, é chegada a hora de encarnar o seu lado urbano. Seus pés, agora, não mais descalços pisam sobre as pedras portuguesas, tão comum no Rio de Janeiro, daqui a pouco o ônibus vai passar, como ainda é bem cedo, provavelmente ele vai sentando, podendo desfrutar da paisagem urbana, passará pela Praça da Bandeira, seguirá em seguida pela Avenida Presidente Vargas, na altura da Central do Brasil, cruzará o Campo de Santana, passará pertinho, pertinho da Igreja de São Jorge, como o agricultor urbano, tal como os cariocas de um modo geral gostam de São Jorge, Saravá Og

Recarregando a Bateria

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Sexta Feira, 16 horas, o agricultor chegou da cidade do Rio de Janeiro, por lá ficou por 5 dias, andando de ônibus, a pé, de metrô, preso 9 horas por dia dentro do escritório, com telefone tocando, chefe falando, clientes reclamando, carros passando, barulho, buzina, asfalto, concreto, correria, hora para levantar, hora para almoçar, hora para dormir, hora para tudo. A vida é assim mesmo, ele não reclama, como todos, precisa também ganhar o seu pão, e também não é assim tão ruim, na rua onde ele mora existem muitas árvores, o carioca é um povo bastante simpático, todas as manhãs, invariavelmente as maritacas (maracanãs) pousam em árvores perto de seu apartamento fazendo uma grande algazarra, e de vez em quando, quando venta, ele consegue sentir o cheiro que vem do mar, como ele gosta do  ar marinho. O agricultor possui dentro de si o lado urbano, caso ele fique muito distante da cidade, acaba sentindo saudades, porém, se ele também ficar muito longe do campo, sente também a mesma sa

Dionísio, uma Luz na Escuridão

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Que Deus te Ilumine meu Tio  O nome do meu tio era Dionísio, ele era casado com a minha tia, irmã do caminhoneiro solitário que, graças a Deus,  ainda vive lá no Bairro de Padre Miguel, na cidade do Rio de Janeiro. Meu tio já partiu a muitos anos, tenho dele poucas lembranças, de vez em quando ele aparecia para visitar meus avós no interior, como de costume na época, pedia a ele sua  benção, e quando possível, ficava por ali, perto dos adultos, assim como quem não quer nada, ouvindo aquelas conversas de gente grande. Ele era sorridente, de olhar sereno e manso, passava-me a impressão de um homem sempre muito tranquilo e equilibrado, era calmo no falar. Hoje, passados muitos e muitos anos, passo pela frente do cinema Odeon, na Cinelândia, área central do Rio de Janeiro, região famosa pelos áureos tempos dos grandes cinemas no Brasil, olho para o prédio, antigo e bonito, e agora revitalizado, e então vem à minha mente a saudosa figura de meu tio. Ele trabalhou como lanterninha de ci

Ao Mestre com Carinho

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Saudações Bondoso Mestre E naquele dia o velho professor não estava sentindo-se muito bem. Já estava chegando à sua casa, em Niterói, porém uma dor mais forte no peito foi dificultando sua caminhada, e como estava perto do hospital universitário, por precaução, resolveu entrar e pedir ajuda. A vida dá lá as suas voltas, e naquele dia, no hospital público lotado de pacientes impacientes, lá estava de plantão o jovem médico, ex aluno daquele professor que ele agora via na emergência. E o médico, o ex aluno, atende com todo o carinho aquele professor querido, percebe que ele está à beira de um enfarto, e ao longo daquela noite, com os poucos recursos existentes na instituição pública, cuida com muito amor daquele mestre querido, seu ex professor numa escola do Rio de Janeiro, professor simples, bondoso, sincero, amigo dos seus alunos. Era a hora da retribuição, a hora da gratidão, a hora de doar ao mestre, com carinho, um pouco do que ele havia recebido. E no dia seguinte, o ex e gr

A Bola Vermelha

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O menino sonhava em ser um grande jogador de futebol. Na sua infância, lá pelos anos 70 haviam no país jogadores extraordinários, Pelé, Rivelino, Gerson, Ademir da Guia e muitos outros, e o garoto desejava treinar muito e quem sabe, no futuro ser também um grande craque. Mas o caminho dele era outro, ele era muito esforçado, corria bastante, era aplicado, porém, era muito, muito limitado tecnicamente, lá no bairro da Mangueira onde cresceu, dentre todos os meninos, era considerado sem nenhuma sombra de dúvidas o pior de todos, portanto, sem chances de ser no futuro um jogador de futebol, talvez, quem sabe, um gandula. Devido a sua limitação técnica, para não sobrecarregar os companheiros, ele jogava sempre na defesa, basicamente, quando a bola chegava perto dele, dava uma chutão para frente, a fim de afastar o perigo de gol, dificilmente dava um passe com qualidade, e fazer gol então, era algo quase impossível diante de tamanha limitação. E um dia o menino e os seus colegas foram

O Senhor das Ilusões

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O Caminho do Agricultor O Homem Velho que habita em mim é um embusteiro, ou posso chamá-lo também de o Grande Senhor das Ilusões. Ele me diz diariamente que eu não posso, que eu sou frágil, que a vida não é bela, que não existe esperança, que eu sou melhor ou pior do que os outros, que as coisas vão piorar, que não vai mais chover, que a terra vai aquecer infinitamente, que tudo vai de mal a pior, e por aí afora. O homem velho que habita em mim faz de tudo para desviar-me do meu caminho, vive me iludindo com coisas exteriores, com o passado e o  futuro, sua meta é tirar-me do presente, é iludir-me, roubando de mim a alegria de viver. Homem Velho que habita em mim, ouça bem: Você é uma farsa, uma ilusão, venho sendo por muitos e muitos anos seu escravo, constantemente iludido por você, porém não sou você, não sou medroso, não sou inseguro, não sou mau, não sou desonesto, não sou intolerante, mesquinho, ciumento, ressentido, rancoroso, não sou nada disto. Tudo isto são máscaras que

Os Fios da Costureira

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Ainda não amanheceu e a costureira já está de pé. Levantou bem cedo, foi para a cozinha, preparou angu doce, bolinho de chuva e café para os filhos, que daqui a pouco acordarão para irem à escola.  A meninada acorda, comem e partem para seus afazeres, e a costureira fica na casa, vai para a máquina de costura e fica por lá muitas horas; a filharada vai chegando da escola, a comida já está pronta, além de fazer roupas, a costureira também sabe cozinhar muito bem. Na parte da tarde, enquanto a costureira vai medindo e cortando, seu filho mais novo fica por ali pertinho, brincando com os seus soldadinhos, bem próximo do aconchego da mãe.  A tarde cai, a costureira vai para o quintal, chama o menino, que hora agradável aquela, hora de cuidar das rosas, das galinhas, da horta... A costureira sabe costurar, sabe preparar comidas gostosas, sabe cuidar das plantas, dos bichos, com seu amor infinito cuida de tudo, enfim. Com sua simplicidade vai ensinando o menino a cuidar das galinhas

Tia Mariinha, a Lavadeira de Deus

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Sua Benção Lavadeira de Deus Morava no alto de um morro a minha tia, a lavadeira. De família pobre, com poucos recursos, ganhava a vida lavando roupas, ajudando ao meu tio que era pintor por profissão. Como o dinheiro era curto, conseguiram comprar lá no alto de um morro, nas terras do fazendeiro Damião um pedaço de chão , e lá fizeram a casa. Mais da metade do terreno era rochoso, naquela época não havia água encanada nas casas, cada morador cavava o seu próprio poço. Então seria para a lavadeira uma fatalidade, uma casa em um morro, e em cima de uma pedra, como conseguir água para lavar as roupas? Meu tio, com boa vontade, pegou as ferramentas e começou a cavar na pedra, e louvado seja, depois de furar menos de 1 metro, brotou água, muita água, por um capricho da natureza, naquele terreno, debaixo de uma rocha havia (e ainda há) água com muita abundância. E a tia, sempre bem humorada e feliz lavava muita roupa, tudo ficava muito branco, uma beleza, somente água, sabão, alvejante

A Reunião dos Gregos

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Em cada luz um pedido, em cada pedido uma esperança Boa noite à todos, sejam todos bem vindos a mais uma reunião de todos os Gregos que habitam dentro de mim. Meu nome é  ALFA , tenho medo de ser feliz por um minuto que seja, e logo em seguida perder a felicidade, portanto, por incrível que possa parecer, prefiro continuar infeliz; Meu nome é  BETA , sou um desajustado, e no meu desvario, pretendo ajustar todo o resto do mundo, exceto eu mesmo; Meu nome é  GAMA , passo a vida a fugir de mim mesmo, fujo geograficamente, fujo através da mente, tenho uma profunda dificuldade de olhar para dentro de mim; Meu nome é  DELTA , sou um solitário, mesmo no meio das pessoas sinto um profundo vazio, uma profunda solidão, e a solidão dói, dói muito; Meu nome é  EPSILON,  sinto frequentemente um vazio muito grande, tão profundo que nada pode preenchê-lo; Meu nome é  DIGAMA , sei de tudo sobre todos, leio todos os jornais, sei de todas as notícias, estou sempre muito ligado nos outros

Os Heróis também choram

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Cachorrinha da Serra de Paracambi, bem parecida com o Camborde Meu herói era segundo minha visão infantil muito poderoso. Era forte, seguro, honesto, trabalhador, viajava muito, e quando voltava sempre trazia alguma coisa para a mulher e os filhos. Lembro-me bem de procurar pelos bolsos das calças que seriam lavadas, e encontrar lá muitas cédulas, que maravilha uma cédula para uma criança. Gostava de vê-lo sentado à cabeceira da mesa na hora do almoço, sua presença em casa inspirava autoridade e segurança para todos. Por muitos anos de sua vida, percebi que ele enfrentava situações bem adversas, sem perder o controle de sua emoção, os heróis devem ser mesmo assim. Lembro-me bem do dia da morte de meu avô, eu era pequeno, tinha, quem sabe uns oito anos de idade, meu velho, meu herói, segurou firme a onda, deu orientações, tomou providências, acompanhou o sepultamento do seu pai, e no final do dia, estava em casa, triste, porém sereno, a vida deveria continuaria, dizia ele, quando a