Os Outros em Mim

Não sei se escrevo, ou se escrevem através de mim
Pelos canais de minha emoção, muitas vezes, inesperadamente, aqueles que se foram, ou os que ainda estão, me visitam. Chegam de mansinho, com suavidade, e sem dizerem uma única palavra, falam de suas vidas, suas histórias, dores e amores, falam da tristeza, da aventura, da alegria de ser e viver, falam da saudade e sobretudo da esperança. Tudo é muito rápido, não sei precisar o tempo, quando percebo, as palavras já estão brotando de dentro de mim, povoando linhas e linhas, as lágrimas já estão escorrendo pelos olhos, num processo leve que me traz tanta paz e contentamento. Sinto que eles querem me dizer que a vida nunca morre, que vale a pena viver sempre, aceitando tudo o que a vida nos reserva. Não sei se sou eu quem escrevo, ou se sou escrito por eles, mas o que leio depois traz para mim uma infinita alegria, uma alegria que vem de dentro, é como se eu e eles, os outros que estão em mim, formássemos um único ser, algo integral e único, é como se minha humanidade fosse uma extensão da humanidade deles. Talvez exista em mim uma estrada, a estrada da emoção, estrada que vai me levando aos outros, estrada por onde eu saio de mim e vejo e percebo e sinto os outros, todos os outros que também estão em mim, os outros que se foram, os de ontem, os outros que estão, os de hoje, e todos os demais outros que virão, os de amanhã.

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