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Mostrando postagens de setembro, 2022

O Sono Milenar

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  — Moço das Letras, percebo que você tem uma grande facilidade de comunicação com seres inanimados, animais e plantas, isto é um verdadeiro talento — comentou o leitor. — Isto não é um talento, é na verdade uma grande dificuldade que me impulsiona constantemente na direção de minha busca. — Como assim? — Por trás da facilidade de comunicação com os animais, as plantas e os seres inanimados através das letras, está minha grande dificuldade emocional de comunicação com as pessoas mais próximas, principalmente com a mais próxima de todas elas. — E quem seria a mais próxima de todas as pessoas Moço das Letras? — Eu mesmo meu caro leitor. — Onde afinal de contas reside a dificuldade Moço das Letras? — Reside no meu sonambulismo, faz muito tempo que adormeci, e adormecendo me perdi, por isto escrevo tanto; escrevo, coloco dentro de uma garrafa, fecho com uma rolha e jogo no mar de minha própria ignorância, na esperança de que o náufrago à deriva, ou melhor, o analfabeto emocional que habita

Os Baldes Sem Alça e Sem Fundo

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Os velhos baldes viviam felizes na presença do Agricultor Urbano; muitos deles foram recolhidos em entulhos de obras por onde pisavam suas botas: baldes rachados; baldes deformados; baldes desprezados; baldes grandes; baldes pequenos; baldes tortos; baldes direitos; baldes perfeitos; baldes imperfeitos... Os  baldes eram geralmente utilizados para carregar mudas para reflorestamento morro acima, terra para futuras mudas morro abaixo, sementes, algumas pequenas ferramentas e outras coisas mais, e neste vai e vem de baldes a mata renascia, e aos poucos, o solo degradado pelos homens de outrora era paulatinamente recuperado pelo Agricultor de agora. Um dia, um dos velhos baldes com alça perdeu o fundo, sendo  colocado em um canto do escritório do Agricultor, o velho galinheiro desativado.  Num outro dia, um dos velhos baldes com fundo perdeu a alça, e foi também colocado no mesmo canto do seu rústico escritório, bem pertinho do outro balde; ambos os baldes estavam encostados e sem condiçõ

O Agricultor e o Dia da Árvore

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Naquela manhã de quarta-feira de 21 de setembro de 2022 — salve a primavera — o Agricultor caminhava tranquilamente pelas ruas, contemplando alegremente as árvores que vieram através de suas mãos em passadas estações; não trazia enxada ou enxadão, não trazia novas mudas para plantar, não trazia nada, nem mesmo suas velhas botas, seu chapéu e sua costumeira roupa de campo — aquilo era um passeio. Como de costume foi abordado por um transeunte, que desta vez trazia uma muda de árvore na mão. — Bom dia Agricultor, não vai plantar árvores no dia delas? — interrogou com estranheza o transeunte observando o Agricultor com seus trajes não convencionais. — O dia 21 de setembro é feriado para mim transeunte, e neste dia eu não planto árvores, tiro folga. — Mas justamente no dia delas você não planta Agricultor?  Confesso que não compreendi muito bem. — A propósito, que árvore é esta na sua mão? — Ah... passei pela praça no centro da cidade e recebi esta muda de presente da prefeitura, mas co