O Agricultor e o Dia da Árvore

Naquela manhã de quarta-feira de 21 de setembro de 2022 — salve a primavera — o Agricultor caminhava tranquilamente pelas ruas, contemplando alegremente as árvores que vieram através de suas mãos em passadas estações; não trazia enxada ou enxadão, não trazia novas mudas para plantar, não trazia nada, nem mesmo suas velhas botas, seu chapéu e sua costumeira roupa de campo — aquilo era um passeio. Como de costume foi abordado por um transeunte, que desta vez trazia uma muda de árvore na mão.

— Bom dia Agricultor, não vai plantar árvores no dia delas? — interrogou com estranheza o transeunte observando o Agricultor com seus trajes não convencionais.

— O dia 21 de setembro é feriado para mim transeunte, e neste dia eu não planto árvores, tiro folga.

— Mas justamente no dia delas você não planta Agricultor?  Confesso que não compreendi muito bem.

— A propósito, que árvore é esta na sua mão?

— Ah... passei pela praça no centro da cidade e recebi esta muda de presente da prefeitura, mas confesso que não sei qual a espécie.

— Creio que seja um açoita-cavalo (luehea divaricata); com relação à sua pergunta, a resposta é muito simples: Ano após ano costumeiramente todos plantam árvores neste dia... os estudantes plantam; os políticos plantam; as instituições plantam; as crianças plantam; os indivíduos públicos e privados plantam, todos plantam... Muitos destes eventos de plantios individuais ou coletivos alcançarão notoriedade e serão até transmitidos pela televisão e redes sociais, uma verdadeira festa.

— Compreendo... Mas por que você não soma esforços com os demais neste dia, a fim de que mais e mais árvores sejam plantadas?

— Para mim os dias das árvores são os demais trezentos e sessenta e quatro dias do ano onde a imensa maioria das pessoas não plantam árvore alguma — respondeu o Agricultor enquanto olhava admirado o seu frondoso amigo ipê carregado de flores rosas por todos os lados.

— Mas Agricultor... — argumentou o transeunte ainda uma vez — por que você faz tudo isto anonimamente?

— Porque é no anonimato que mora a minha alegria meu caro, mas não sou tão anônimo assim: Sou conhecido e visitado todas as manhãs por muitos pássaros do céu que pousam nos poleiros das árvores do meu quintal, anunciando através de seus maravilhosos e variados cantos a anunciação de um novo dia, independentemente da estação do ano.

— Agricultor... sobre o açoita-cavalo, eu não tenho onde plantá-lo, você gostaria de recebê-lo como presente?

— Com prazer transeunte; amanhã mesmo vou plantá-lo, pois assim como as pessoas necessitam de suas casas, os passarinhos carecem de seus poleiros naturais sob a copa das árvores.

— Existem muitas árvores no seu quintal Agricultor?

— Uma enormidade delas transeunte, mas perdi a conta de tanto plantar.

Comentários

  1. Simbólica e bela lição companheiro Aloísio! Um toque de mestre. Crítica de quem sabe bem o que significa cuidar da terra , das árvores , do seres, da Terra *verdadeiramente*! Parabéns por seu belo trabalho!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

O Agricultor e a Poetisa Ferida

O Marido, a Mulher, o Rio e a Calça

A Finitude das Redes e a Infinitude do Mar