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Mostrando postagens de janeiro, 2019

O Menino e o Circo

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O Moço das Letras estava na cozinha, na cidade do Rio de Janeiro, terminando de preparar o jantar daquele dia, — uma sopa de lentilhas. — Como tem passado Moço das Letras? — Falou a Criança Interior ali do lado da pia, ainda com aquela camisa vermelha e branca .  — Vou bem Criança, vou bem... — Belíssimas panelas as suas. Todas em aço inox e brilhantes, bem mais brilhantes do que as panelas do circo. — Circo? Que circo Criança? Além do guaraná lá na Praça do Estácio naquele domingo, você bebeu também outra coisa? —  Hoje escreveremos sobre um certo Menino... —  Qual deles? o menino Lampião do Reino do Meio, ou o menino Alecrim do Reino do Norte; ou ainda, o príncipe Zinho do Reino do Sul. —  Nenhum deles; escreveremos sobre o Menino do Reino do Concreto. —  Reino do Concreto? Que Reino é esse que eu não conheço. —  Conhece sim Moço das Letras. É o reino onde você vive. —  Ah... entendi. E é Concreto porque é real. —  Não Moço das Letra

Se Alguém quer Matar-me de Amor, que Me Mate no Estácio

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Já passavam das vinte e uma horas quando o Moço das Letras embarcou em seu ônibus urbano em direção ao bairro de Botafogo, na cidade do Rio de Janeiro. Depois de alguns instantes estava no Estácio, perto do Sambódromo, onde avistou bem próximo uma praça tomada de crianças, jovens, adultos e idosos, todos ali, vivendo aquele instante descontraidamente, de um jeito único, um jeito bem carioca. O Moço das Letras observou a praça atentamente, e neste momento percebeu do seu lado no banco sua Criança Interior em pé, observando a praça também. - O que está fazendo em pé aí Criança? - Sempre gostei de andar em pé ao lado da janela, pois assim posso contemplar melhor a paisagem; faço isto desde os tempos em que ia com a costureira na feira.  O ônibus seguia o seu trajeto em direção ao Catumbi, o próximo bairro das cercanias. - Nenhuma árvore... - falou a Criança Interior. - É verdade Criança - respondeu o Moço das Letras. - A arborização das praças e ruas da cidade é de

Uma Verdadeira Fábula

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O Moço das Letras estava no Rio de Janeiro, almoçando no centro da cidade; o dia estava quente, muito quente. Então ele sentiu um beliscão em sua perna, "algum inseto talvez", pensou ele. Não era inseto, era sua Criança Interior que resolveu aparecer por ali. — Alo Moço das Letras. — Tudo bem Criança ? — Está faltando água!  — Sempre houve problema de falta d'água na cidade do Rio de Janeiro, principalmente na zona oeste, desde a época do império.  — Não... está faltando água no Reino do Sul. Você consegue uma sobremesa para mim.  — Claro Criança...  Poucos minutos depois a Criança estava comendo doce de abóbora, enquanto o Moço das Letras almoçava.  — Posso ditar uma história para você? — Perguntou a Criança.  — Complicado agora, não tenho como escrever aqui no restaurante.  — Fazemos assim: Eu vou comendo o doce e narrando a história, e à noite, na sua casa, você escreve, compreendeu? — Respondeu a Criança toda lambuzada

Conversa de Botequim

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- Garçom, por favor, mais uma cerveja.  Escuta mano... Sou hum mano, não sou dois ou três ou mais, sou somente hum mano; não sou hum mil reais mano, sou simplesmente hum mano. Sendo eu somente hum mano, ocupo-me somente daquilo que é de minha própria conta, pois sendo hum mano, não posso me ocupar da conta de dois ou três ou mais mano, pois sou apenas hum mano, e sendo assim, cuido e zelo somente por aquilo que me compete. Como sou hum, percebo que existem outros que são também hum mano, e assim como gosto e zelo pela minha unidade e liberdade, por ser hum mano, respeito a unidade e liberdade dos outros, que são também hum mano. Está entendendo a conversa mano? Papo reto mano, papo reto... não estou rasgando seda. Na multidão de vários sou apenas hum mano; se fosse eu mano, um fio de macarrão em uma macarronada, seria mesmo apenas hum mano, um único fio de macarrão no meio de todos os demais fios, está entendendo este papo mano? Papo reto mano, papo reto... não

O Menino Lampião e o Professor Silvestre

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Era verão e o dia estava quente, muito quente; o Moço das Letras dirigiu-se à cozinha, precisava beber água. A porta da geladeira estava aberta, e bem em frente dela sua Criança Interior comia alguma coisa. O Moço das Letras não levou nenhum susto, já conhecia aquela Criança . - Tudo bem com você Criança?  - Sim... estou comendo beijinho de coco, um doce...  - Sim, é um doce muito gostoso, impossível mesmo comer somente um pedaço.  - Um doce a Gata de Olhos Verdes , aquela que fez o doce. Gostou da história da Vaca Malhada e a Anta Letrada ?  - Confesso Criança, que senti muita compaixão pela bicharada no final, principalmente pela pobre Vaca.  - Precisava ser escrito Moço, precisava ser escrito... Trago para você hoje uma história sobre um certo Silvestre. - A do Rato Silvestre você já me contou.  - Não é a do Rato Silvestre, é a do professor Silvestre. Podemos começar?  - Sim - respondeu o Moço das Letras.  Então, enquanto degustava o doce d

A Vaca Malhada e a Anta Letrada

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Era uma vez uma Anta que vivia próxima a um grupo escolar nas cercanias de uma cidade do interior. Como nas proximidades da escola haviam muitas árvores frutíferas, a Anta ficava sempre por ali comendo as frutas. Com o passar do tempo ela foi se familiarizando com aquele ambiente escolar, com os professores, com os alunos, com os livros... passou então a ficar cotidianamente por ali, sempre por perto, de forma que, com o tempo, tal era sua proximidade com as salas de aulas, a Anta acabou — acreditem se quiserem — aprendendo a ler.  Quando os professores descobriram aquilo ficaram todos muito felizes com a Anta, que passou mesmo a frequentar as salas de aulas com as demais crianças, bem como a receber gratuitamente uma série de livros, que ela lia todos, com todo o gosto. Alguns anos depois, quando toda aquela geração de alunos concluiu o segundo grau, os professores perceberam também que a Anta havia acompanhado todos eles em conhecimento, podendo mesmo ser considerada uma An

O Menino Lampião e o Menino Invento

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Não era uma vez, era um dia de outono lá no Reino do Meio, onde o menino Lampião e sua amiga, a Luz, coletavam sementes para serem plantadas na próxima primavera. Ventava muito naquela manhã, um vento constante e agradável, e o menino amava o vento. Então, de repente, como que surgindo do nada, apareceu na frente do menino Lampião um outro e risonho menino. - Oi menino, meu nome é Invento... - Que nome mais estranho o seu! O meu nome é Lampião. Como você chegou até aqui Invento? - O vento me trouxe Lampião. - O vento? - Sim... o vento, sou o filho do vento, e tudo invento. - Como assim, tudo inventa? - Por onde passa o vento, tudo invento... invento o amor, invento a dor, invento o mar, invento a alegria e a tristeza, invento o medo e a solidão, o oásis e o deserto, a noite e o dia... invento tudo, tudo o que você pode pensar e sentir... -Você pode inventar uma árvore para mim menino Invento? - Já inventei muitas, milhares menino, olhe ao se

O Menino Lampião na Terra da Promissão

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O nome do menino era Lampião, e ele habitava o Reino do Meio, onde passava os seus dias com sua amiga, a cadelinha Luz, plantando árvores. O relato que agora se inicia ocorreu no tempo da Guerra da Escuridão. Nas bibliotecas e livros de história não existe absolutamente nenhum registro relativo a isto, de forma que alguns acham que tudo não passa de uma lenda, como muitos outros afirmam mesmo que existe uma grande lacuna, uma falha histórica.  Numa manhã, enquanto cuidava das árvores na floresta, o menino notou um grande número de pessoas - como uma procissão em dia santo -, andando em direção as serras que ficavam para o lado do leste. Todos, notou o menino, tinham pressa de chegar ao seu destino. As pessoas passavam totalmente indiferentes a presença do menino ali, caminhavam com o olhar perdido no horizonte, como se estivessem buscando longe, muito longe, algo muito precioso. Depois de algum tempo, Lampião ficou curioso com relação àquilo, então, aproximando-se da multidão em

É No Humano...

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É no humano que vivo, é no humano que cresço, é no humano que rio e choro;  É no humano que me realizo, é no humano que me revolto, é no humano que canto e me encanto;  É no humano que me perco, e na minha humana perdição encontro todas as minhas frustrações, medos, conquistas e realizações; É no humano que tento acreditar, esquecer e fugir, é no humano que existe paz e guerra, ódio e amor, medo e segurança, certeza e negação;  É no humano que nego, é no humano que rezo, é no humano que danço e sofro, é no humano que habitam todos as minhas certezas e paradoxos, crenças e descrenças, graças e desgraças; É no humano que existem todas as portas e janelas, todas as entradas e saídas, todo o passado, o presente e o futuro;  É no humano que está o tudo e o nada, a luz e a escuridão, é no humano que existe a incansável busca e o inesgotável desejo de ser; É no humano que estou, e tento insistentemente mesmo, a cada instante simplesmente ser...  ser humano.