O Menino Lampião e o Menino Invento

Não era uma vez, era um dia de outono lá no Reino do Meio, onde o menino Lampião e sua amiga, a Luz, coletavam sementes para serem plantadas na próxima primavera. Ventava muito naquela manhã, um vento constante e agradável, e o menino amava o vento.

Então, de repente, como que surgindo do nada, apareceu na frente do menino Lampião um outro e risonho menino.

- Oi menino, meu nome é Invento...

- Que nome mais estranho o seu! O meu nome é Lampião. Como você chegou até aqui Invento?

- O vento me trouxe Lampião.

- O vento?

- Sim... o vento, sou o filho do vento, e tudo invento.

- Como assim, tudo inventa?

- Por onde passa o vento, tudo invento... invento o amor, invento a dor, invento o mar, invento a alegria e a tristeza, invento o medo e a solidão, o oásis e o deserto, a noite e o dia... invento tudo, tudo o que você pode pensar e sentir...

-Você pode inventar uma árvore para mim menino Invento?

- Já inventei muitas, milhares menino, olhe ao seu redor...

- Mas estas árvores Invento, eu as plantei uma a uma, não são invenção sua.

- Tudo invento menino Lampião.

O menino Lampião achou que aquele menino era meio maluco, devia ter alguns parafusos fora do lugar. 

 Você pode inventar para mim uma vira-lata bem companheira?

- Já inventei menino, olhe ao seu lado, olhe a Luz, invenção minha.

- Ora Invento, a Luz está comigo a muitos anos, é filhote da Alegria, aquela vira-lata amarelinha que encontrei perdida.

- Inventei a Luz, inventei a Alegria,  invento a escuridão, invento a tristeza, invento enfim, tudo o que você pode pensar e sentir...

- Desculpe a sinceridade menino Invento, mas acho que você é mesmo uma ilusão, uma miragem, ou mesmo uma invenção; você não pode ser real.

- Menino Lampião, sou capaz de inventar tudo o que você possa sentir ou pensar, tudo...

- Tudo?

- Sim, tudo... inventei o Reino do Meio, o Reino do Norte da Escuridão, o Reino do Sul; inventei a grande guerra da escuridão, inventei o seu passado, invento o seu presente e inventarei o seu futuro, tudo invento ao sabor do vento.

O vento voltou a soprar, estava na hora do menino Invento ser novamente levado pelo vento, olhou então para o menino Lampião antes de desaparecer definitivamente.

- Lá vem a ventania; está na hora da minha partida menino. Inventarei ainda uma última coisa que você sentirá daqui a pouquinho, e que te dará sempre forças para continuar. Adeus Lampião, adeus amigo... tudo invento ao sabor do vento, pois sou um menino, o menino Invento, a mais pura expressão do seu pensamento, a realidade do seu encantamento, a pureza do seu sentimento.

O menino Invento, assim como apareceu, desapareceu rapidamente. Naquele mesmo instante Lampião começou a sentir dentro de si algo muito forte, sentia uma grande determinação para continuar seu trabalho, quaisquer que fossem as dificuldades; então tudo era mesmo real, pois o menino Invento, no derradeiro soprar do vento, inventou em seu coração um enorme alento que o encheu de contentamento.

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