Agricultor Urbano

 E o agricultor caminha pela praia e chega a um local muito agradável, na beira da encosta e do mar, onde encontra a casa de um pescador. Olha para a casa com muito carinho e respeito e logo em seguida vem a lembrança daquele seu iluminado mestre, o professor Hermógenes. Um dos inúmeros pensamentos daquele sábio vem logo à sua mente: "A paz é pobre, muito pobre, a casa do pescador pode ser a sua morada". E o professor partiu, não mais habita este mundo material, pensa o agricultor, porém, foi tão bom tê-lo conhecido e com ele convivido. E o agricultor recorda do mestre com uma profunda saudade, homem simples, cheio de luz interior, homem que com sua presença irradiava amor por todos os lugares por onde passava, um exemplo de vida e ação. E outra frase do mestre vem à sua cabeça: "Que Deus me livre de ser normal", e o agricultor ri sozinho lá naquele cantinho do mar, no fundo, ele começava a achar que também não desejava sofrer da "Normose", doença tão c

Quaresmeira em flor Domingo, 6 horas da manhã, o relógio toca, não quero levantar, quero ficar mais um pouquinho na cama. Levanto mesmo assim, só por hoje andarei pelos campos e plantarei muitas árvores. Ou pela seca, ou por ação do homem, ou por obra das formigas, ou por outro fator qualquer, algumas árvores não sobreviveram. Não desanimo, só por hoje, no mesmo local, plantarei outra muda.  Passo sob um pé de jenipapo, no chão um fruto caído, maduro, cheio de sementes. Só por hoje recolho o fruto, coleto as sementes e semeio. Algumas árvores estão sendo abafadas pelo capim, elas precisam de ar, precisam de luz. Só por hoje pego a enxada e faço uma coroa em volta da planta. O sol já está quente, estou ficando cansado, paro em um determinado lugar, e penso "aqui cabe uma árvore". Pego a cavadeira e, só por hoje, faço um buraco e coloco ali uma nova muda, quem sabe ela venha a crescer um dia. Passo agora por um local onde muitas árvores foram plantadas

E lá na praia, o agricultor acordou e levantou bem cedo, a fim de dar uma caminhada pela areia. E não demorou muito, e o vira lada da pousada apareceu e fez companhia para ele durante todo o trajeto. Qualquer pessoa que cruzasse com ele pela areia juraria que ele era o dono do cachorro, os dois andavam tão próximos um do outro, como se conhecessem a muito tempo. De vez em quando o agricultor dava uma parada e fazia um pouco de carinho no animal, que gostava muito, e desta maneira os dois andaram bastante pelas bordas do mar naquela manhã. Será que o agricultor possuía o dom de cativar os animais, ou, ao contrário, eram os animais que conseguiam sempre cativá-lo, esta é uma pergunta sem resposta. Desde sua infância sempre foi assim, o agricultor sempre gostou dos cachorros, das galinhas, dos patos, dos gatos, dos pássaros, dos gansos, dos marrecos, enfim, da bicharada de um modo geral. Depois de três dias na praia, chegando a hora de ir embora, não duvidem, o agricultor ficou cheio d

Goiabeira E o verão estava chegando ao final, aproximava-se o período em que o agricultor iria parar de plantar suas árvores até a chegada da próxima estação chuvosa. Havia sido um ano com um baixo número de mudas plantadas, em função da irregularidade das chuvas, no viveiro poucas plantas disponíveis, e em menos de um mês o outono já estaria chegando. Não que ele tivesse alguma meta para cumprir, ou relatórios e planilhas para apresentar a alguém sobre o resultado do seu trabalho, não havia isto, era uma tarefa anônima e solitária, porém, ele gostava de plantar o maior número de árvores possíveis nos meses de primavera e verão, coisas de agricultor. E ele andava com os seus vira latas, os filhotes da Alegria, pela área em fase de reflorestamento, e eis que ele se depara com uma goiabeira branca, cheia de frutos amarelinhos, maduros e doces, comeu alguns deles, estavam uma delícia e aí, Eureka, Eureka, tal como Arquimedes lá na antiguidade, o agricultor encontrou a solução para o

Praia de Trindade - Paraty Por onde estaria andando o agricultor urbano que sumiu, não postando nada nos últimos vinte dias? Acertou aquele que disse que ele foi visitar o mar. E o agricultor banhou-se nas águas do atlântico, andou por trilhas na mata, tomou banho de rio, dormiu ouvindo o barulho das ondas quebrando  na praia, curtiu o pôr do sol, caminhou sobre as pedras, contemplou tantas e tantas coisas belas. Mas não se enganem, mesmo no litoral ele coletou suas amadas sementes, retirou com muito carinho algumas mudinhas de palmeiras encontradas pelas trilhas, colocou-as em recipientes adequados e as levou para sua casa, a fim de plantá-las futuramente. O mar é tão bonito e tão grande, sentiu o agricultor, que sua definição não cabe em nenhuma palavra.

Valentim e Valentina O agricultor estava precisando muito de ajudantes para o plantio de árvores, muitas árvores. A tarefa era bastante árdua, um trabalho anônimo, constante, sem os aplausos do mundo, sem salário, sem benefícios sociais, sem férias, décimo terceiro, licença prêmio, auxílio maternidade ou qualquer outra coisa. Havia ainda um agravante: A maioria das árvores deveriam ser plantadas nos sábados, domingos e feriados, já que nos dias úteis da semana, o agricultor precisava trabalhar no escritório, no centro da capital dos cariocas. Como todos devem saber, dinheiro não cai do céu, e ele, como todos os demais brasileiros precisava pagar suas inúmeras contas, taxas, impostos e outras coisas mais. Posto isto, ele pensou em colocar anúncios nos jornais, fazer apelos frenéticos através das redes sociais, procurar por ajuda nas igrejas e templos, porém ele concluiu que viraria  o mundo de cabeça para baixo, gastaria as solas de suas velhas botas, e não encontraria ninguém,

Nina Miúda  O dia estava muito quente, o mês era o de janeiro, verão. O Agricultor ia e vinha nas suas andanças pelo mato, e atrás dele, na frente, do lado esquerdo, do lado direito, sempre aqueles cachorros que ele ainda conhecia tão pouco,latindo o tempo todo, pedindo carinho, atravessando no seu caminho, e o agricultor pensava "que cachorrada chata, não largam do meu pé, estão em todos os lugares". Os vira latas somente não ficavam por cima dele porque não tinham asas, senão, certamente estariam lá também. E o agricultor entrava na casa para tomar água, e as pragas do Egito começavam a latir querendo o dono, e quando resolvia dar uma cochilada depois do almoço, os pestinhas ficavam do lado de fora, próximo ao quarto, arranhando a parede, chorando e chamando por ele. Pela manhã, o agricultor acordava lá pelas 6 horas, e os capetinhas já estavam lá de plantão, queriam carinho, queriam a presença, queriam ração, queriam ir para o mato, queriam a presença do dono, qu