Valentim e Valentina
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Valentim e Valentina |
O agricultor estava precisando muito de ajudantes para o plantio de árvores, muitas árvores. A tarefa era bastante árdua, um trabalho anônimo, constante, sem os aplausos do mundo, sem salário, sem benefícios sociais, sem férias, décimo terceiro, licença prêmio, auxílio maternidade ou qualquer outra coisa. Havia ainda um agravante: A maioria das árvores deveriam ser plantadas nos sábados, domingos e feriados, já que nos dias úteis da semana, o agricultor precisava trabalhar no escritório, no centro da capital dos cariocas. Como todos devem saber, dinheiro não cai do céu, e ele, como todos os demais brasileiros precisava pagar suas inúmeras contas, taxas, impostos e outras coisas mais. Posto isto, ele pensou em colocar anúncios nos jornais, fazer apelos frenéticos através das redes sociais, procurar por ajuda nas igrejas e templos, porém ele concluiu que viraria o mundo de cabeça para baixo, gastaria as solas de suas velhas botas, e não encontraria ninguém, todos estariam muito ocupados com suas vidas, afazeres e haveres, e afinal de contas, quem pariu Mateus que o embale, diriam. Mas ele não desistiu, como todo taurino era obstinado, pegou sua cavadeira de ferro maciço, o Valentim, e sua poderosa enxada com cabo de sansão do campo, a Valentina, e, acompanhado dos seus inseparáveis vira latas saiu por ai cavando buracos, cortando o capim e semeando muitas e muitas árvores. Valentim, a alguns anos atrás era usado somente como ferramenta de apoio, os buracos eram feitos com o seu enxadão, o Iqueda, porém, por excesso de entusiasmo e esforço repetitivo, o agricultor lesionou o tendão do ombro direito, e desde então, vem utilizando a cavadeira através do braço esquerdo para realizar o trabalho. No começo não foi muito fácil, mas com a prática e persistência, ele acabou descobrindo técnicas para operar a ferramenta com muita destreza, e em um dia com solo úmido, dezenas de buracos podem ser cavados. Com seus objetos rústicos, ele vai deixando atrás de si um rastro verde, percebendo em si que mais vale um grama de ação do que uma tonelada de teorias, e recebendo como fruto deste trabalho o mais extraordinário de todos os salários, a alegria de viver e servir.
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