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Mostrando postagens de 2023

O Homem que Plantava e o Homem que Calculava

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O homem que calculava passou pelo pasto infestado de capim, avistando ao longe, no alto de um morro, uma mancha verde repleta de árvores, um verdadeiro contraste. Como ele gostava muito de fazer cálculos, resolveu ir até aquele local a fim de tentar descobrir quantas árvores haviam por lá, "creio que existam milhares", pensou ele enquanto subia lentamente o morro. Logo ao sair do pasto e adentrar o bosque ele sentiu um grande bem estar, pois temperatura sob a sombra das árvores era bem mais amena. Percebeu que o número de árvores era muito grande e que seria muito difícil contá-las; seguiu adiante mata adentro e morro acima, sua ideia era chegar a um local bem alto onde teria uma visão geral da área, e desta forma poderia calcular o número aproximado de árvores ali existentes. Conforme andava, o homem que calculava percebeu que as árvores iam ficando cada vez menores, "coisa estranha", pensou ele, até encontrar árvores bem pequenas que disputavam a luz do sol com o

O Agricultor Urbano e o seu Velho Ego

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Era um dia de primavera do mês de novembro do ano da graça de 2023, um dia quente, muito quente — segundo os cientistas um dos dias mais quentes de muitos séculos. O Agricultor andava pelo campo sentindo um imenso desânimo — provavelmente devido ao calor  — , abrindo desta maneira as portas de sua mente para a manifestação do seu velho ego, que começou a tagarelar em seus ouvidos feito o burro do desenho do Shrek... "Desista deste campo Agricultor, é tudo inútil, o campo é público e ninguém respeita o seu trabalho. Veja bem: Você plantou e cuidou de inúmeras bananeiras, muitas delas estavam com bonitos cachos, e onde estão os cachos das bananas agora Agricultor, onde estão? Não sabe? Os espertos levaram Agricultor, e você neste momento está fazendo o papel de um grande otário." Sob aquele sol escaldante, as palavras do seu velho ego começavam a aumentar ainda mais o seu desânimo. "Abra mão deste campo Agricultor, ou melhor, abra mão deste pasto degradado cujo chão é tão

As Metades do Agricultor

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Metade de mim é Ego Metade de mim sou Eu Quando, enfim realizar  A inevitável metamorfose Não haverá mais Eu Não haverá mais Ego Não haverá mais metades Mas tão somente o imensurável vazio E, finalmente no vazio Da unidade das partes em mim Somente a onipresença de Deus 

O Agricultor e a Depressão

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A Depressão acordou bem cedo naquela manhã, queria muito fazer uma visita ao Agricultor Urbano e, quem sabe, passar um período na companhia dele.  Chegando na sua casa tocou a campainha; ninguém atendeu. Tocou uma segunda vez e nada. Tocou ainda uma terceira vez e ninguém veio atender, até que finalmente percebeu um recado escrito num papel afixado no portão, um recado que dizia:  "Caríssima Depressão, a casa está vazia, acordei bem cedinho e sai para viver. Passe bem, a tenciosamente... Agricultor Urbano"

A Finitude das Redes e a Infinitude do Mar

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Era uma luminosa manhã de outono; o Agricultor Urbano e sua fiel vira-lata Golila — é este mesmo o nome dela — estavam plantando árvores nas margens da via pública; já eram quase onze horas, o Agricultor estava encerrando suas atividades, quando surgiu por ali um anônimo e sorridente Jovem com um celular na mão. — Bom dia Agricultor, como tem passado? — Tudo bem Jovem, "A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos - Mateus 9:37", conto somente com as sementes, com Deus e com a ajuda de minha fiel vira-lata para plantar as árvores neste campo público, degradado e abandonado pela população, que muitas vezes faz dele um depósito de lixo. — Agricultor, você está gastando muito de sua energia desnecessariamente, saiba que, hoje em dia com o progresso da internet é possível para qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, plantar milhares e milhares de árvores com apenas um simples toque na tela de um celular. Você ainda não conhece as maravilhas das redes sociais? — Creio q

O Marido, a Mulher e o Abraço

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Naquele 19 de maio de 2023 havia acordado quatro horas da manhã e trabalhado ao longo de todo o dia  —  era uma ocasião excepcional. Depois de mais de 14 horas na frente do computador estava exausto, mas estava em paz, tudo havia ocorrido de forma satisfatória  —  o só por hoje é uma verdadeira graça. Estava na cozinha, havia acabado de tomar uma café e minha mulher veio em minha direção. Abri então os braços e pedi um abraço para ela. Abraço a esta hora meu bem, isto lá é hora de abraço? Questionou ela. Ainda de braços abertos, disse que a hora do abraço era exatamente aquela, que eu não tinha nenhuma garantia de que ainda estaria vivo para um abraço em outra ocasião, e que os mortos não abraçam ninguém. Ela não se convenceu, então disse ainda que uma de nossas amadas vira-latas foi internada na clínica veterinária, e que na hora em que me despedi ela chorou e eu segui em frente não olhando para trás, pensando lá com os meus botões "Nina Querida — era este o nome da cachorrinha —

O Marido, a Mulher, as Velhas Botas e o Sapo

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Era uma vez um marido que diariamente calçava suas velhas botas para trabalhar no seu roçado; grande era a preocupação de sua mulher, no lugar onde viviam não era incomum o aparecimento de escorpiões, e ela temia que um deles pudesse picá-lo, podendo levá-lo à nefasta condição de bater as botas prematuramente. — Marido, verificou as velhas botas antes de calçá-las? Lá no bairro onde cresci, um vizinho foi picado por um escorpião após calçar os seus sapatos. — Sim mulher, acabei de verificá-las, estão todas limpas — respondia o marido sempre bem humorado após bater as velhas botas no muro do quintal. Como o marido ia para o quintal praticamente todos os dias, todos os dias batia as velhas botas após ouvir a costumeira advertência da mulher. — Marido, verificou as velhas botas antes de calçá-las? Isto acontecia de forma tão sistemática, que mesmo quando a mulher não estava em casa, no momento de seguir para o campo o marido ouvia mentalmente a indagação "marido, verificou as velhas

O Agricultor Urbano e a Mula Sem Cabeça

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Naquela manhã de domingo, enquanto caminhava em direção ao seu campo, o Agricultor Urbano foi abordado por um homem que cruzava o seu caminho em sentido contrário. — Bom dia Agricultor. — Bom dia senhor. — Está indo cuidar do seu campo. — Sim, Hélio já despontou no céu. — Cuidado Agricultor, ouvi dizer que tem andado por lá a feroz Mula Sem Cabeça que costuma escoicear quem dela se aproxima. — Ah... O senhor está falando daquela pobre Mula que possui labaredas na cabeça e que assusta a todos aqueles que dela se aproximam? — Isto mesmo Agricultor, parece que ela anda pastando lá pelos lados do seu campo. — Isto é a mais pura verdade meu senhor, ela de fato pasta por lá tranquila e absolutamente em paz. — Mas Agricultor, você não tem medo? Dizem que ela é amaldiçoada. — Quando eu a vi pela primeira vez naquele estado tão infeliz, simplesmente me aproximei, dizendo que ela era uma belíssima mula; falei também que aquele seu atormentado estado de espírito com a cabeça em chamas era apenas

O Sonho da Floresta Verdejante

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— Sábia Coruja, venho tendo um sonho recorrente; gostaria muito que você pudesse interpretá-lo para mim. — Qual é o seu sonho Peregrino? — Sonho, praticamente todas as noites, com uma linda floresta no alto de uma colina, repleta de muitas variedades de árvores e uma infinidade de passarinhos empoleirados nos seus galhos sem fim. — Qual o seu sentimento ao recordar-se do sonho todas as manhãs? — Um misto de alegria e tristeza; alegria por aquela floresta tão verdejante e bonita, e tristeza pelo fato de que não passa de um sonho. Eu poderia simplesmente não pensar mais nisto, mas acontece que sonho todas as noites, e consequentemente sinto a mesma estranha angústia e frustração todos os dias, com meu pensamento teimosamente fixo naquele constante sonho noturno. — Desta forma seu belo sonho noturno acaba transformando-se num constante pesadelo diurno. — Exatamente isto Sábia Coruja. — Peregrino, nas proximidades de sua casa existe uma colina? — Sim, existe; moro numa colina com um enorme

As Duas Mensagens de Alegria

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A primeira mensagem de alegria eu recebi alguns dias antes do Natal; estava solitariamente no alto de um morro plantando árvores, quando em minhas dependências emocionais fui visitado por um amado mecânico da Rua 7 de Setembro da cidade de Alegre, meu amado e inesquecível tio e padrinho, com um bombom em suas mãos, um daqueles deliciosos bombons da Garoto embalado em um lindo papel amarelo — eu conhecia muito bem aqueles bombons. O mecânico estava feliz e sorria abertamente, e ao afastar-se e sem uma única palavra sequer, deixou em mim um pouco de sua alegria interna. Fiquei muito feliz com aquele incidente e pensei lá com os meus botões: "Preciso de alguma forma retribuir esta presença e este antecipado presente de Natal". Passou o Natal e o ano novo começou a avançar, e eu simplesmente esqueci completamente do incidente da feliz visita do meu padrinho; chegou então a segunda mensagem de alegria, ocorreu quando dirigia o carro num sábado chuvoso de janeiro, um dia depois do