O Marido, a Mulher e o Abraço
Estava na cozinha, havia acabado de tomar uma café e minha mulher veio em minha direção. Abri então os braços e pedi um abraço para ela. Abraço a esta hora meu bem, isto lá é hora de abraço? Questionou ela.
Ainda de braços abertos, disse que a hora do abraço era exatamente aquela, que eu não tinha nenhuma garantia de que ainda estaria vivo para um abraço em outra ocasião, e que os mortos não abraçam ninguém. Ela não se convenceu, então disse ainda que uma de nossas amadas vira-latas foi internada na clínica veterinária, e que na hora em que me despedi ela chorou e eu segui em frente não olhando para trás, pensando lá com os meus botões "Nina Querida — era este o nome da cachorrinha — volto amanhã cedo para abraçar você mais uma vez". Este abraço nunca ocorreu, Nina partiu naquela noite, e desde então passou a existir um abraço vazio dentro de mim — a recordação dos abraços vazios ou abraços não dados costumam trazer no seu bojo a dor do remorso.
Minha mulher ficou um pouco espantada com minhas palavras, então ali no meio da cozinha, na boca da noite daquela sexta-feira de outono, recebi um gostoso abraço de minha mulher, um abraço tão gostoso quanto o primeiro, ocorrido quatro décadas antes — creio que foi no outono também —, e neste inesquecível e inusitado abraço foi se embora toda a minha tensão e o meu cansaço daquele dia — os abraços injetam em quem dá e em quem recebe um sentimento de conforto muito grande, um conforto de amor.
Em breve, estarei aí para lhe dar um abraço… Agradecer pelas árvores 🌴 plantadas e pelas sementes deixadas nos no solo dos nossos corações.
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