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Mostrando postagens de abril, 2019

A Vira Lata Dor

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Era uma vez uma belíssima e bem cuidada granja, onde moravam dois vira latas: Medo e Raiva. A granja, de tempos em tempos era visitada por uma outra vira lata — ora muito agressiva, ora suportável — chamada Dor, um animal sem dono. Quando sua fome apertava, Dor começava a vagar por aquela região, entrando em quaisquer daquelas inúmeras propriedades existentes, mesmo sem ser convidada.  De um modo geral, todos espantavam a pobre Dor, ninguém gostava de sua companhia; Dor não era má. A grande maioria das pessoas também possuíam um certo receio de Medo e Raiva, os cães da bela granja.  O nome do granjeiro da bela granja era Equilibrado  — isso mesmo, Equilibrado — , que no seu natural equilíbrio, gostava de todos aqueles cachorros, até mesmo da Dor, a quem sempre que podia, acolhia sem queixumes, doando mesmo a ela um pouco de sua atenção. Quando ao anoitecer Dor se aproximava, Medo, através de seus latidos dava os primeiros sinais de alerta, ficando sempre atento, por

A Viagem Ao Planeta Vermelho

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O carnaval já havia terminado; a vida ia aos poucos voltando ao normal, e o ano novo de fato iria começar. O Moço das Letras estava cansado, contente porém, dentro de poucos dias estaria finalmente de férias; na sua cabeça tudo planejado, crônicas agora somente no mês de abril. Chegou do seu trabalho e tomou o seu habitual café com pão e manteiga; notou algo em cima de sua mesa: Um objeto escuro que estava lá há muito, muito tempo, como que esquecido, já mesmo empoeirado. Pegou-o; havia nele uma inscrição. No exato momento em que faria a leitura, surgiu ao seu lado, como em um passe de mágica, a sua Criança Interior, toda vestida de astronauta, dos pés à cabeça. Riu muito o Moço das Letras com aquela aparição, riu muito... — O que é isso Criança, você está fantasiada de astronauta? Tarde demais, o carnaval já passou, desfiles e blocos agora somente para o próximo ano. A Criança tirou serenamente o capacete da cabeça, e olhou atentamente para o seu amigo,  abrindo um largo s

A Voz Dos Meus Avós

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Naquele sábado, lá estava o Agricultor Urbano, próximo a um grande cedro rosa, procurando pequeninas mudas deste, em algum local ao redor da frondosa árvore. Foi observando atentamente cada pedacinho do solo, cedo ou tarde, se ali houvessem mudas, ele as encontraria com o seu olhar observador.  Não demorou muito e ele viu o que buscava. O detalhe é que próximo ao grande cedro, havia também um frondoso flamboyant, e este, assim como aquele, também deixou algumas de suas crias pelo chão. Abaixou-se o Agricultor e começou a recolher as mudinhas, a fim de providenciar para cada uma delas um saquinho com terra.  Recolheu indiscriminadamente os cedros, bem como todos os pequeninos flamboyants que encontrou por ali. Neste exato momento, alguém estava por ali, alguém que conhecia profundamente das atividade do Agricultor Urbano e do seu amor pela mata atlântica. Quando viu as mudas da árvore exótica nas mãos dele, refletiu um pouco antes de falar. Pelas suas conversas com aquele ho

Na Impermanência do Olhar, A Permanência do Amar

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Paralisado olhar, paralisado pelo medo... medo de que? Medo de quem? Anestesiado olhar, anestesiado e mergulhado na inércia... medo de olhar, medo do olhar...  Medo do duro olhar, olhar de pedra, olhar frio; olhar distante, olhar destoante, olhar inconstante; olhar reprovador, olhar inquiridor, olhar que afasta, olhar que isola, olhar que assola... Difícil olhar, não consigo olhar, não posso olhar, não posso... olhar que não chora, olhar que não molha, olhar que não brilha; olhar que dói, olhar que corrói...  Dói olhar o doido olhar, o insano olhar, o negado olhar, o carente olhar, o doente olhar, o ausente olhar; dói olhar o sofrido, oprimido, comprimido, perdido... perdido olhar. Depois da impermanente tempestade do duro olhar vem a bonança, que traz consigo a esperança do suave olhar, que de tão profundo e leve, alcança a infinita constância do divino olhar... olhar a eterna permanência do amar.

Helius, Aquele Que Tudo Revela

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Ainda não eram oito horas da manhã, quando o Moço das Letras entrou no escritório lá na capital dos cariocas. Chegando à sua sala, deparou surpreso com sua Criança Interior, que estava ali na mesa ao lado banhada pelo sol, olhando lá para o alto, lá para o céu azul de abril. — Bom dia Criança, veio trabalhar comigo hoje? — A luz do sol demora aproximadamente oito minutos para chegar aqui na terra. — Sim... Hoje falaremos de astronomia? — Você pode me dar uma dessas suas paçoquinhas que estão em cima de sua mesa Moço? — Claro Criança, claro... — O Moço das Letras entregou a paçoca para a Criança, que começou a comer com um doce prazer.  — Você tem um tempinho para escrever antes do início do seu expediente? — Tenho sim, geralmente dou uma olhada no jornal neste horário; podemos conversar então. — Não quero conversar, quero contar para você uma história sobre Helius, o deus do sol na mitologia grega.  — Sem problemas, sou todo ouvidos.  A Criança Interior então narrou a his

O Continente dos Homens

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Era uma vez, há muito tempo atrás, em uma terra muito, muito distante, um homem que habitava uma caverna. Esta era funda, escura, desconfortável e úmida, mas como aquele homem era tão fechado em si mesmo, dormindo ali dentro um sono milenar — como um urso em estado de hibernação —, não havia jamais notado todos aqueles desagradáveis aspectos exteriores. Mas assim como os ursos despertam, a fim de viverem plenamente a primavera e o verão, chegou finalmente também para ele o tempo do seu próprio despertar. Acordou então um dia, acendeu uma tocha e observou todo o espaço ao seu redor. Com a tocha na mão, caminhou em direção à saída da caverna, e do lado de fora percebeu que estava dentro de uma belíssima floresta; sentiu alegremente o frescor daquela manhã, ouviu os pássaros, o marulhar das águas no riacho próximo, sentiu a luz do sol, respirou ar puro...  O Homem percebeu que, além de estar dentro de uma floresta, sua caverna estava também no alto de uma pequena montan

A Voz do Vento

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As pequeninas palmeiras jussaras estavam preocupadas e aflitas; era comum elas crescerem ali rente àquele muro naquele terreno baldio, debaixo da sombra de um limoeiro. Suas sementes eram varridas da pousada ao lado e jogadas ali constantemente, mas, ano após ano, vinha alguém com uma enxada limpar aquela área, e então, todo o esforço de desenvolvimento de cada uma delas era em vão, todas eram, como o mato, carpidas e deixadas ao sol.  O processo ia se repetir  —  pensavam elas  —  pois lá vinha um homem com uma enxada na mão, mais uma vez seria o fim.  O homem foi até o limoeiro e carinhosamente recolheu cada uma delas, colocando-as em uma bacia onde jogou terra e um pouco d'água. Minutos depois todas as palmeiras estavam dentro da mala de um carro. As plantas continuaram aflitas, achavam que estavam sendo contrabandeadas  —  por seu grande valor comercial constavam na lista de espécies em risco de extinção  — , e resignadamente achavam que seus dias seriam de solidão e iso