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Mostrando postagens de julho, 2019

O Fiel Despertador do Agricultor Urbano

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Domingo, 14 de julho de 2019, 14 graus Celsius; o Agricultor Urbano já está acordado mas ainda não levantou, está esperando pelo seu fiel despertador. Passados mais alguns instantes, o seu fiel despertador anuncia que está na hora de ir para o campo cuidar das árvores. Ao lado da cama, sobre o criado mudo, o Agricultor pega o seu celular e olha: Seis horas e quatorze minutos; o fiel despertador, como sempre, tocou na hora certa. O alarme do celular está desligado, bem como todo e qualquer outro alarme existente na casa. O fiel despertador do Agricultor sempre toca. Quem escreve admite que ele não tem a precisão do britânico Big Ben, ou dos antigos relógios analógicos suíços, ou ainda, dos modernos relógios digitais e atômicos, não tem... O fiel despertador do Agricultor eventualmente adianta ou atrasa alguns minutos (mais ou menos dois). Com o Agricultor presente na sua casa — toca somente neste caso —, com chuva ou com sol, frio ou calor, horário de verão ou horário de Deus, com

O Paradoxo da Criança Interior

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Era uma vez, lá no Reino do Meio da Escuridão, uma Coruja que voava livremente pelas altas árvores da floresta; era a Coruja Iluminada à procura do menino Lampião. Depois de muito voar, ela finalmente o localizou sob a sombra de uma grande paineira, juntamente com sua vira lata, a Luz. A Coruja Iluminada cessou o seu voo, recolheu suas asas, e pousou suavemente em um dos galhos da frondosa paineira em flor — era primavera. Ficou ali anônima e calada por alguns instantes — assim como as corujas normais —, apenas observando aquele menino — a Coruja amava o menino Lampião. Depois de algum tempo, finalmente deu o ar de sua graça. — Boa tarde menino Lampião. — Boa tarde Coruja. Tudo bem com você? — Tudo em paz menino Lampião.  — Está de folga hoje do seu plantão de ajuda aos peregrinos Coruja? — Sim menino... hoje é um dia especial, um dia de voo de gratidão. — Voo de gratidão? — Sim menino Lampião. Hoje venho agradecer-lhe por todas estas belíssimas árv

O Segundo Passo é Uma Ponte

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O Segundo Passo é uma ponte que liga a ilha de minhas doentias emoções, ao continente dos homens que já encontraram a fé em um Poder Superior. Sob a ponte, o pavoroso e depressivo mar, que circunda a minha remota ilha de dor e sofrimento emocional. Já não estou mais na ilha, e não estou ainda no continente; estou sobre a ponte tentando fazer a travessia. Neste momento a ponte é o meu arrimo, é o meu cajado, é a minha segurança e minha única esperança, é mesmo tudo o que eu tenho a fim de afastar-me definitivamente do meu isolamento e profundo sofrimento — a solidão dói como a mais absoluta certeza de que é para sempre.  Não posso, não devo e não quero voltar para a ilha, e não sei ainda como é este continente onde as pessoas entregam suas vidas a um Poder Superior, mas, por conhecer a ilha e todo o tormento que a envolve, preciso continuar andando em frente por sobre esta ponte.  Caminho tropegamente sobre a ponte, e sob um nevoeiro de dúvidas e incertezas não muito

A Coruja, a Peregrina, a Criança e o Menino Lampião

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Era uma vez, lá no Reino do Meio da Escuridão, uma peregrina de pés no chão, que andava pela floresta à procura da Coruja Iluminada ; esta colocava-se sempre à disposição de todos aqueles que a procuravam. Sua fama de sabedoria e amor havia alcançado longas distâncias. Até que um dia, orientada e guiada pelo menino Lampião e sua cadelinha Luz, que andavam pela floresta, a peregrina finalmente conseguiu encontrar-se com a Coruja. — Bom dia coruja — Bom dia peregrina dos pés descalços. — Coruja, há muitos anos procuro em todo mundo, constante e intensivamente a minha felicidade, porém, por mais que eu procure, encontro tão somente a minha própria angústia de viver. — O Mundo não pode oferecer-lhe algo que já existe e é somente seu, e que já está dentro de você. — Coruja, como eu faço então para encontrar o que já me pertence? — Pare de procurar do lado de fora e siga as pegadas de sua Criança. — Você bebeu Coruja? Que Criança? Sou solteira e não

Conhecereis a Criança e a Criança vos libertará

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Era uma vez um homem, jovem ainda, que um dia, no conforto e comodidade do seu lar recebeu um telegrama:  "Sua Criança Interior faleceu. Pêsames". A doença da emoção, ou doença da negação, ou ainda doença da codependência é como o luto diário e por toda a vida, desta Criança que partiu e que aquele homem ama com todas as forças do seu coração; ama profundamente, pois tem a mais absoluta certeza que ela faz mesmo parte de sua humana natureza.  A dor do homem pela perda é irreparável, e a partir do momento em que a Criança não está mais presente, sua infelicidade vai aos poucos chegando e ficando, instalando-se paulatinamente na sua casa emocional, deixando de ser uma inquilina para, pouco a pouco, transformar-se em uma desagradável proprietária.  A partir deste momento sua relação com ela será tão natural e familiar, que ele nem perceberá que ela deveria ser tão somente uma visitante, mas o visitante, porém, transforma-se no mais cruel dos senhorios, tra

Minha Mais Amorosa Metáfora

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No início era o caos e eu estava sofrendo no poço sem luz e esperança. Responsabilizei o demônio por isso, e queria vê-lo bem longe de mim, mergulhado no seu inferno. Com o tempo o demônio transformou-se no meu velho ego; era ainda meu inimigo e queria muito livrar-me dele para sempre, exilando-o em um distante asilo. O tempo continuou avançando, e finalmente descobri que o meu demônio do inferno, ou ainda, o meu velho ego, não passava de uma criança carente, sofrida, desconhecida, perdida e abandonada dentro de mim.  Desde então, a cada dia eu percebo o quanto ela precisa da minha compreensão, da minha atenção e do meu amor. Percebo também o quanto ela me ama. Não Sou eu o demônio, não sou eu o velho ego, sou eu tão somente, a criança que cresce em mim todos os dias, por toda a eternidade. Existe uma criança, uma criança dentro de você; procure por ela e abrace-a com toda a força do seu coração, e dê a ela com toda a intensidade de sua alma todo o amor que exis

O Menino e os Relógios

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O menino estava aprendendo a olhar o passar do tempo, e no cair da tarde, no silêncio e na penumbra que se fez, observou atento e encantado, e ainda sem compreender muito bem, aqueles relógios pendurados na parede de sua casa.  No primeiro relógio o menino notou que  os ponteiros dos minutos e segundos giravam lenta e estranhamente, no sentindo anti horário, marcando a cada instante um tempo passado. Na tabuleta abaixo do relógio o menino leu:  "Relógio das ressentidas horas: Registra somente o tempo passado". No segundo relógio o menino notou que  os ponteiros dos minutos e segundos giravam no sentido horário, porém giravam rápidos, com uma ânsia louca de passar o tempo. Na tabuleta abaixo do relógio o menino leu: "Relógio das ansiosas horas :  Registra somente o tempo futuro". No terceiro relógio o menino observou que os ponteiros dos minutos e segundos estavam parados. N a tabuleta abaixo do relógio o menino leu: "Relógio das depressivas horas :  

O Primeiro Passo é Uma Ilha

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O Primeiro passo é uma ilha isolada no meio do grande mar das minhas conturbadas emoções; sou eu o insulado, sou eu a ilha, sou eu o mar.  Vivendo na minha ilha tão isolada, tenho como permanentes companheiros no mar que me envolve, entre outros: O desespero, a falta de esperança, a angústia; o medo, o ressentimento, a amargura, o desgosto de ser e existir, a solidão... São estes alguns dos emocionais monstros marinhos que habitam neste deprimente mar que me isola; são tantos, quase incontáveis. Se for enumerar aqui todos os negativos pensamentos, e todos os medonhos e devastadores sentimentos que me assolam em minha ignota ilha, faltarão letras no alfabeto para descrever sobre tanta dor. Como dói de forma funda a solidão em minha ilha de desterro ao final de mais um dia, onde sinto simplesmente que não estou vivendo — apenas naufragando paulatinamente —, apesar da respiração e das batidas do coração.  Sinto-me neste isolamento infernal como  um jovem e disfuncional guer

A Maravilhosa Espiritualidade dos 12 Passos

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Domingo, dezoito horas, vinte anos atrás; porta aberta, toalha sobre a mesa, livros sobre a toalha, cadeiras organizadas, cartazes carinhosamente distribuídos ao longo das paredes com dizeres simples e profundos. Em um local de destaque, a maravilhosa oração da serenidade. Sento-me na cadeira — hoje eu coordeno a reunião  — , e aguardo a presença dos companheiros... Dezoito e cinco, dezoito e dez, dezoito e quinze... ninguém aparece. Teriam meus companheiros tomado o milagroso já do Jatobão? Não cabe a mim fazer nenhum julgamento.  Dezoito e vinte! Falo em voz alta a oração da serenidade, recolho cartazes, livros, toalha, sineta... Guardo tudo com carinho no armário para a próxima reunião. Com o coração pesaroso retiro-me, e antes de apagar a luz, observo com profunda tristeza a sala completamente vazia; neste dia eu tinha tanto a falar, neste dia eu tinha tanto a ouvir...  Foi esta uma das experiências mais dolorosas na minha jornada pessoal pela estrada dos 12 Passos.

O Terceiro Passo é Um Salto

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O Terceiro Passo é um salto de paraquedas na fria e escura noite, a quatro mil metros de altura, dentro de uma singular aeronave; estou dentro dela. Não estou só; juntamente comigo, outros companheiros neste insólito voo pelos ares da humana emoção. Enquanto o avião cruza o céu, vou aprendendo paulatinamente sobre meus próprios sentimentos, aprendendo sobre minha humana condição, passo a passo...  Está chegando o momento do Terceiro Passo, aquele que divide águas, o passo que leva dos estéreis desertos da vida aos maravilhosos oásis de serenidade, paz e esperança; está chegando o momento... Dirijo-me então, passo a passo, para os fundos da aeronave; abro uma porta e deparo-me com uma rampa. No final desta é aberta uma comporta, e lá fora percebo amedrontado a negra escuridão, o frio, a incerteza e todos os meus apegos, descontroles emocionais e receios. Ao longo da rampa, sentados, estão vários de meus companheiros que também terão que saltar um dia; hoje porém não é

Uma Criança Interior Em um Mundo de Codependência

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Um homem codependente em um lar codependente, em um mundo codependente... escolas codependentes,  músicas codependentes, relacionamentos codependentes, sonhos e pesadelos codependentes;  casamento codependente, filhos codependentes, pai, mãe, irmãos, irmãs, primos, avós e vizinhos codependentes; vida e morte codependentes, tudo, tudo enfim,  codependente... Codependência do berço ao túmulo. Um homem codependente em um poço cheio até a boca de codependência  — como uma taça transbordando de sofrimento  — , u m pessoal e minúsculo poço de codependência, como uma gota no imenso oceano de todos  os demais poços da codependência humana. Como dói esta doença da codependência; dói assim como a perda de alguém que pode te salvar,  dói assim como a partida do pai que te ama, ou a chegada do pai que te oprime; Dói assim como a ausência da mãe, apesar da proximidade; dói assim como um dedo acusador que aponta para você, ou um olhar duro que pune e culpa;  Dói assim como algué

O Agricultor e a Enxada

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Domingo, sete de julho, sete graus Celsius; o Agricultor vai até a cozinha e prepara o seu café. Seus vira latas estão lá encolhidinhos debaixo da mesa — faz frio para cachorro. Enquanto toma sua bebida amarga, vai pensando naquela cama quentinha, naquela flanela maravilhosa, naquela meia luz do quarto... sete graus é uma temperatura bem baixa — pensa ele —, já fui para o campo sob nove graus, mais sete... Sua decisão está praticamente tomada; escuta então uns toque toque na porta dos fundos. Quem seria aquela hora, sob aquele frio, quem seria? Abre então a porta. Sua amiga, a enxada, está ali diante dele, e sua lâmina radia a mais profunda alegria.  — Bom dia meu querido amigo!  — Fala ela com efusão. — Bom dia minha amada enxada — responde o Agricultor.  — Tudo pronto? Podemos ir? — Enxada... você não gostaria de entrar um pouco? Tome um café comigo! A enxada acha um pouco estranho aquele convite.  — Agricultor, você sabe que eu não entro na sua

Príncipe Zinho, Garboso e Formoso

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Era uma vez, no Grande Reino dos Confins do Sul da Escuridão , o Reino do Sul, um rei, senhor de todos aqueles domínios, de nome Zão; seu filho, o Príncipe Zinho, um hipódromo, um domingo perdido no tempo e uma corrida de cavalos. Rei Zão possuía um cavalo de raça, um grande vencedor de corridas, adquirido a peso de ouro de viajantes distantes. Sua empolgação era total: No próximo domingo, Garboso, seu fabuloso cavalo, estaria competindo pela primeira vez no grande hipódromo de seu amplo reino; uma barbada.  Ao longo daquela interminável semana, Rei Zão cantarolava e assobiava por todos os cantos do palácio, cheio de ansiedade. A corrida seria um dia glorioso para ele e o seu invencível cavalo, o garanhão Garboso. — Príncipe Zinho, domingo iremos juntos ao hipódromo. Você assistirá a um grande espetáculo, venceremos com muitos corpos de vantagem — Falava o rei alegremente com o seu filho. Príncipe Zinho foi aos poucos entrando na empolgação do grande rei,

Assim Como os Vira Latas

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Domingo, dezoito horas; chegou o momento de sair de casa e ir ganhar o meu pão a cento e trinta quilômetros de distância. Vou até a cozinha, entro debaixo da mesa, acaricio e abraço meus três vira latas — Miúda, Nina e Tição. Digo baixinho para eles que em cinco dias estarei de volta, mas não adianta, eles ficam lá tristes por mais de doze horas; os cães não pensam e imaginam, simplesmente sentem e vivem  —  assim como os meninos . Na porta da sala despeço-me de minha mulher, que fica triste também, e me diz: "Passa rápido, sexta-feira está logo ali". Já foi um pouco pior: Quando meus filhos eram meninos e moravam lá em casa, era ainda mais duro aquele adeus, era mesmo difícil olhar para trás, muito difícil... Ainda é difícil olhar agora. Desço rua abaixo em direção ao ponto de ônibus, e ainda escuto: "Boa semana meu bem, boa semana...". Domingo, dezesseis horas, c inquenta anos atrás ... chegou o momento de meu pai partir no seu caminhão, e ir ganhar o s

A Repressora Voz ou O Dedo que Aponta

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O Quarto estava escuro, nenhum vira lata latia, e o menino estava deitado e pronto para dormir. — Psiu... — Ouviu o menino na escuridão. — Quem está aí? — Perguntou ele. — Sou eu, a voz do seu silêncio. — Deve estar havendo algum engano silenciosa voz; estou te ouvindo muito bem. — Você de fato houve a minha silenciosa voz, que fala, mas não consegue ouvir suas próprias emoções, que calam. — É algum enigma silenciosa voz? — Enigma nenhum menino. Somente existo e me expresso na dor calada e muda de suas emoções reprimidas; seu silêncio doloroso é o meu glorioso pão. — Mas por que você age assim silenciosa voz? — Cada qual segundo a sua própria natureza menino. Todos precisam viver, inclusive eu, seu silêncio repressor. Fui contratado pelo seu velho ego para fazer este servicinho.  — Meu velho ego? — Sim... ele mesmo. — Quem é ele silencio repressor, quem é o meu velho ego? — Difícil a resposta menino. Sinceramente não sei, e mesmo

O Crachá dos 12 Passos

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Papai contraiu depois de uma certa idade a terrível  Doença de  Alzheimer . Depois de algum tempo, a família percebeu que  muitas vezes ele saia na rua e ficava desorientado, e então tinha uma grande dificuldade de encontrar o caminho de volta para o seu lar. Foi então pendurado no pescoço dele um crachá plastificado com o nome dele, endereço e telefone para contato, em caso  de alguma emergência. Obviamente que ele não quis utilizar o artefato, mas quando mamãe amorosamente disse para ele que aquilo era na verdade  um crachá da Força Expedicionária Brasileira, ele orgulhosamente mudou de ideia  —  papai esteve na Segunda Grande Guerra. Hoje na rua pensei em algo parecido para o meu caso. Vou preparar um crachá parecido com o de papai, com os  seguintes dizeres: Nome: Aloisio; Sofre de Co-Dependência, Doença das Emoções, Doença da Negação e Neurose (Até o presente momento); Caso seja encontrado perambulando pelas ruas da cidade, ou outro lugar qualquer, com alg