Uma Criança Interior Em um Mundo de Codependência

Um homem codependente em um lar codependente, em um mundo codependente... escolas codependentes, músicas codependentes, relacionamentos codependentes, sonhos e pesadelos codependentes; casamento codependente, filhos codependentes, pai, mãe, irmãos, irmãs, primos, avós e vizinhos codependentes; vida e morte codependentes, tudo, tudo enfim,  codependente... Codependência do berço ao túmulo.


Um homem codependente em um poço cheio até a boca de codependência — como uma taça transbordando de sofrimento , um pessoal e minúsculo poço de codependência, como uma gota no imenso oceano de todos os demais poços da codependência humana.

Como dói esta doença da codependência; dói assim como a perda de alguém que pode te salvar, dói assim como a partida do pai que te ama, ou a chegada do pai que te oprime;

Dói assim como a ausência da mãe, apesar da proximidade; dói assim como um dedo acusador que aponta para você, ou um olhar duro que pune e culpa; 

Dói assim como alguém que conhece sua fragilidade e brinca com ela  como seu sua dor fosse um mero brinquedo de criança; 

Dói assim como a solidão de um quarto escuro dentro de você  uma prisão pessoal;

Dói assim como um belo e radiante dia de sol, onde a escuridão da própria alma devasta o coração, transformando o dia em um deserto de viver, ou ainda um inferno... um inferno de doloridas e profundas emoções desconhecidas.

Dói assim...

Ah codependência negada, Ah codependência desconhecida, Ah codependência contida, sofrida e reprimida em mim, Ah codependência... tenho uma coisa para lhe dizer: 

Agora eu sei que você existe e vive em mim, não nego. Contudo, de uns tempos para cá, toda semana reúno-me com outros que também descobriram a sua existência, e então, numa poderosa e corajosa corrente humana de coragem, fraternidade e sinceridade, vamos falando de seu efeito devastador sobre cada um de nós; então, pouco a pouco, sobre dores, risos e lágrimas, vamos nos fortalecendo e avançando diretamente sobre você, não com doze porretes nas mãos para espancá-la,  ou expulsá-lá de cada um de nós, não, não... 

Vamos nos aproximando de ti, carinhosamente, com doze passos no coração somente, a fim de estendermos-lhe as mãos, e darmos-lhe um grande e afetuoso abraço — um coletivo abraço , e um enorme e amoroso colo, pois você, codependência, não é uma dessas humanas doenças que assolam e destroem tantos e tantos, não, absolutamente não é... 

Você é na verdade, uma abandonada, deprimida, contida, sofrida, desconhecida e maravilhosa criança dentro de cada um de nós — que amamos profundamente —, tão reluzente como o sol, eterna e poderosa como o próprio amor — uma criança interior.












Comentários

  1. Só vim ler hoje, tenho aprendido com seus depoimentos literários e seu conteúdo mexe comigo e me faz pensar e ter esperança de ter uma sala dessa para crescer em direção ao amor à Deus, à mim mesma e ao meu próximo.
    Crescer dói, mas vai valer a pena! Obrigada, Agricultor Urbano de corações devastados!

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