O Segundo Passo é Uma Ponte

O Segundo Passo é uma ponte que liga a ilha de minhas doentias emoções, ao continente dos homens que já encontraram a fé em um Poder Superior. Sob a ponte, o pavoroso e depressivo mar, que circunda a minha remota ilha de dor e sofrimento emocional.

Já não estou mais na ilha, e não estou ainda no continente; estou sobre a ponte tentando fazer a travessia. Neste momento a ponte é o meu arrimo, é o meu cajado, é a minha segurança e minha única esperança, é mesmo tudo o que eu tenho a fim de afastar-me definitivamente do meu isolamento e profundo sofrimento — a solidão dói como a mais absoluta certeza de que é para sempre. 

Não posso, não devo e não quero voltar para a ilha, e não sei ainda como é este continente onde as pessoas entregam suas vidas a um Poder Superior, mas, por conhecer a ilha e todo o tormento que a envolve, preciso continuar andando em frente por sobre esta ponte. 

Caminho tropegamente sobre a ponte, e sob um nevoeiro de dúvidas e incertezas não muito denso — densa era a escuridão da ilha —, e não tenho a visão do horizonte e de onde quero chegar — o continente —, pois a névoa que me envolve está sempre a dois passos à frente de meus pés. Caminho portanto com insegurança, mas é preferível seguir adiante, mesmo na dúvida, do que voltar para o meu inferno emocional, minha ilha de desolação e dor. 

Não sei o que, ou ainda quem sustenta a ponte, que muitas vezes treme sob os meus pés, devido ao ataque dos monstros emocionais no depressivo mar que me envolve — medo, angústia, insegurança, ansiedade, ressentimento, culpa, remorso, raiva, ódio, etc, etc.

Muitas vezes, a fim de não saltar desta ponte, mergulhando de cabeça neste insano mar, onde meus castelos de areia e sonhos ilusórios convidam-me a pular, entoando lindas canções de fuga e ilusões — como sereias mitológicas —, que chegam aos meus ouvidos, preciso amarrar-me à ponte — como Ulisses no mastro —, a fim de não ceder ao enganoso canto de minhas ilusões, voltando novamente para o meu depressivo mar e para a minha isolada ilha de desterro e sofrimento.

A cada passo sobre a ponte, a luz pouco a pouco vai descerrando o nevoeiro, e eu, paulatinamente, vou alargando minha visão e divisando ao longe um belo horizonte.

A cada passo sobre a ponte vou percebendo a luz manifestando-se mais e mais, e percebo fascinado que já não é mais um oceano depressivo sob os meus pés, e sim, um lindo e belo mar azul, com o vento marinho soprando carinhosamente em meu rosto.

A cada passo sobre a ponte diviso ao longe — não tão longe agora —, o continente dos homens que realizaram a mesma travessia, muitos deles acenando e sorrindo amorosamente para mim, aguardando contentes a minha chegada — estou quase lá. 

Terminei a travessia finalmente; não estou mais só, não estou mais na ilha e na ponte, estou agora no continente, estou agora na terra dos homens. Olho uma última vez para trás e vejo somente a ponte de um tamanho sem fim; a ilha e o imenso mar depressivo não estão mais ao alcance de meus olhos, ficaram — só por hoje —, em algum local remoto do imenso mundo emocional que me permeia. 

Olhando com gratidão para a grande ponte que me trouxe para a terra firme, chego mesmo a duvidar que consegui realizar a travessia, não foi nada fácil; exausto, porém cheio de esperança, pergunto então a um companheiro ao meu lado, que me saúda com alegria e efusão, quantos passos tem aquela enorme ponte.

— A ponte possui exatos doze milhões e doze passos.

Mas companheiro, como eu consegui realizar esta travessia no estado em que estava? Vejo isso agora como algo impossível.

— Você caminhou apenas 12 Passos pela ponte amigo, nos outros doze milhões foi carregado no colo pelo seu Poder Superior, que a cada instante e a cada passo te reconduziu à sanidade.

O Simples "Viemos a acreditar que um Poder Superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade" salvou a minha vida. Abençoado sejam todos os passos, abençoada seja a ponte e todas as irmandades de 12 Passos ao redor do mundo, abençoado seja o Poder Superior, conforme eu o Concebo.