Conhecereis a Criança e a Criança vos libertará
Era uma vez um homem, jovem ainda, que um dia, no conforto e comodidade do seu lar recebeu um telegrama:
"Sua Criança Interior faleceu. Pêsames".
A doença da emoção, ou doença da negação, ou ainda doença da codependência é como o luto diário e por toda a vida, desta Criança que partiu e que aquele homem ama com todas as forças do seu coração; ama profundamente, pois tem a mais absoluta certeza que ela faz mesmo parte de sua humana natureza.
A dor do homem pela perda é irreparável, e a partir do momento em que a Criança não está mais presente, sua infelicidade vai aos poucos chegando e ficando, instalando-se paulatinamente na sua casa emocional, deixando de ser uma inquilina para, pouco a pouco, transformar-se em uma desagradável proprietária.
A partir deste momento sua relação com ela será tão natural e familiar, que ele nem perceberá que ela deveria ser tão somente uma visitante, mas o visitante, porém, transforma-se no mais cruel dos senhorios, transforma-se na sua angústia.
O quintal do homem está vazio agora; o balanço e os brinquedos estão lá, as árvores estão lá, os vira latas estão lá, porém, tudo sem sentido, tudo negro, árido e vazio, pois, o que vale a beleza do quintal sem a Criança presente nele. O senhorio envia a conta a cada instante, enchendo ainda mais de amargura o coração do pobre homem — como em Crime e Castigo de Dostoievski.
Enquanto existir o luto — que parece mesmo não ter fim —, aquele homem fará tudo no mundo, e tentará todos os métodos possíveis e imagináveis para ver-se livre de seu senhorio, ou sua permanente angústia: Terapias, viagens, relações, dinheiro, poder, política, arte, livros, ciência, religião, drogas receitadas ou não, sexo, trabalho, loucuras, aventuras, tentativas de suicídio...
O tempo vai avançar — o tempo sempre avança —. e chegará finalmente o dia em que aquele homem não terá mais forças para vencer a terrível dor que jamais o abandona, a eterna dor da perda da Criança amada. Então, depois de muitos anos e batalhas infrutíferas, nosso querido e sofrido homem começara a sentir um infinito cansaço, sentirá o peso de pesadas correntes atadas aos seus pés, concluindo mesmo que é absolutamente inútil lutar contra esta dor, contra este senhorio excomungado, contra este luto eterno da Criança amada que partiu.
Devido ao seu grande esforço em superar a grande dor, nesta fase da vida aquele homem poderá até ser um ser humano muito melhor, mas não sentirá jamais a pura alegria e leveza de viver, não sentirá a graça da Criança saudosa, sumida e partida. O luto continuará até o fim de seus dias, e lá no seu quintal o balanço vazio e a folhas caindo no outono, e o senhorio mandando a conta...
Mas acontece uma reviravolta extraordinária, algo como a descoberta da América; trinta, ou quarenta, ou mesmo cinquenta anos depois — não importa o tempo —, um alto representante dos correios vai até a casa daquele homem pedindo-lhe milhões de desculpas, dizendo-lhe: Perdão Senhor, cometemos um grande equívoco; sua Criança Interior continua viva, remetemos aquele telegrama para sua residência por engano. O telegrama correto é:
"Sua Criança Interior está chorando dentro de você. Favor tomar providências".
Neste momento tudo muda na vida daquele homem, que por mais incrível que possa parecer, ao receber aquela notícia, dá mesmo um grande, efusivo e apertado abraço no funcionário dos correios, dizendo para ele: "Tudo bem meu amigo, tudo bem..."
Seu luto cessa, sua dor parte, sua energia e vigor pela vida retornam; o homem então finalmente compra uma passagem somente de ida para o seu poderoso senhorio, uma passagem para um lugar bem distante — os quintos dos infernos —, e, sentindo-se então completamente revigorado, passa a utilizar todo o seu tempo e todas as forças do seu ser para ir ao encontro daquela saudosa e querida Criança Interior que vive, pulsa, e eternamente brinca dentro dele mesmo.
Neste maravilhoso momento da crônica, aquele homem não medirá esforços para entrar dentro dos seus próprios escombros emocionais, a fim de resgatá-la e traze-la de volta para aquele gracioso local mais seu e mais sagrado, o quintal de suas próprias emoções.
Reconciliado aquele homem com sua Criança Interior, a vida dele volta a ter um profundo sentido e significado, e a alegria de viver finalmente visita a sua casa, passando a morar com ele até o último de seus dias, algo assim como um quintal na primavera onde a Criança balança feliz sob as sombras das árvores, rodeada por outras Crianças mais, cercada de amor, carinho, segurança e amizade; algo assim como quando os netos vão passar as férias na casa dos avós.
Conhecereis a Criança e a Criança vos libertará.
O grande poder do emocional na nossa vida. Com a notícia errada, o luto. Com a retificação, o renascimento!
ResponderExcluirQue possamos ter domínio próprio, graça divina!
Independente das circunstâncias exteriores, confiemos no Poder Superior!
Só por hoje, serei grata e rogarei que minha fé seja aumentada!