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Mostrando postagens de maio, 2019

O Quinto Passo é um Teatro

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O Quinto Passo é um teatro, um teatro espiritual; o inverso do teatro da terra dos homens. Neste espiritual teatro o  diretor da peça  —  a  própria vida  —    é o Poder Superior, e o único ator sou mesmo eu; na platéia estão os meus irmãos em humanidade, aqueles que  espontaneamente resolveram assistir à apresentação. Dirijo-me ao palco. É um teatro, mas eu não posso representar  — estranho teatro . Se eu represento, o Poder Superior e o público se afastam, e então   eu fico solitário no palco, jogando ilusão ao vento, sozinho no palco, apresentando meus tormentos. Subo no palco. Nesta hora devo representar tão somente o meu próprio papel, nenhum outro.  O Poder Superior e o público aguardam,  o tempo passa e o silêncio se faz. Olho para a parede ao lado e observo tantas maravilhosas e ilusórias máscaras... Máscaras de medo,  ressentimento, raiva, ciúme; máscaras de indiferença, inveja, ingratidão, falsidade, orgulho, autopiedade... máscaras, tantas máscaras.  Não resis

Maria, Isaac e Sebastião

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Naquele domingo de maio, o Moço das Letras acordou cedo; estava com muitas saudades de seu amigo, o Agricultor Urbano. Sabia que ele deveria estar àquela hora no campo, cuidando de suas árvores; não seria difícil encontrá-lo então. Caminhou um pouco, seguiu a trilha dos ipês, das sibipirunas, das paineiras, das aroeiras... Pouco tempo depois avistava o seu amigo. Deveria ter madrugado naquele dia o Agricultor; no chão muito capim carpido, mas havia ali algo estranho aos olhos do Moço das Letras: A cavadeira e a enxada estavam encostados em uma árvore, e sob a copa desta, abaixado, o Agricultor escrevia alguma coisa; algo incomum para ele, que gostava mesmo de escrever suas linhas no chão, com suas rústicas ferramentas. O Moço das Letras aproximou-se com alegria de seu amigo. — Bom dia Agricultor Urbano, enorme é a minha alegria em revê-lo. — Bom dia meu amigo  —  respondeu o Agricultor.  Neste momento, sem mais palavras, o Agricultor entregou para o Moço das L

O Congelador Emocional

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O congelador da minha casa apresentou problemas; o técnico pediu para abrir as portas, desligar da tomada e  deixar descongelando por 24 horas. Assim eu fiz com o congelador da geladeira; assim eu fiz também com o congelador de minhas emoções... Estou agora descongelando o gelo da geladeira; paralelamente,  descongelando também  a raiva, o ressentimento, a birra de viver; descongelando todas as mágoas, a solidão, o medo... Estou descongelando do congelador emocional todas as minhas doentes emoções. Pois o gelo me preserva, mas sobretudo me isola e me afasta; o gelo me protege, porém esfria profundamente o  meu viver, trazendo no seu bojo o frio bolor da solidão... A geladeira elétrica continua lá na cozinha com as portas abertas, e a água do degelo caindo pelo chão, e eu precisando tanto,  precisando tanto degelar o congelador de minhas emoções. Como dizia o grande poeta português " Navegar é preciso, viver não é preciso", mas descongelar velhas e obsoletas emo

O Sétimo Passo é Uma Sala

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No final do corredor do Sexto Passo , existe uma porta; estreita porta. Esta porta é a porta do final do corredor, o único acesso possível à sala do Sétimo Passo. Nesta sala, em constante plantão, está o meu Poder Superior.  Vindo através do corredor do Sexto Passo, onde, nos escaninhos deixo os meus defeitos de caráter, dirijo-me à porta estreita a fim de abri-la. A porta possui uma chave denominada Prontificação. Se chego na porta sem a chave, por mais esforço que eu faça, a porta não se abre. Nenhuma outra força ou chave em todo o universo é capaz de abrir esta porta; ela se abre tão somente para mim, quando estou de posse da chave, a Prontificação.  Uma vez aberta a porta do corredor, encontro logo adiante uma outra porta mais estreita ainda que a anterior, que preciso também abrir; esta é a porta da sala do Sétimo Passo, onde meu Poder Superior aguarda a minha chegada, pronto para remover os meus defeitos de caráter; aqueles contidos nos escaninhos do corredor do Sex

Inflamável Esperança

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Naquele domingo de outono, o Agricultor Urbano estacionou o carro na beira da rua; foi cuidar de suas amadas árvores. A vizinha próxima  —    simpática vizinha  —     saudou-o com alegria.  — Bom dia Agricultor! Senti sua falta por aqui ultimamente, o Senhor andava sumido... — Bom dia Senhora... não estava sumido, a mata é grande, estava mais acima, além da curva da rua; prazer em revê-la. Pegou então suas ferramentas — enxada e cavadeira —, a fim de começar a limpar as bordas do urbano bosque; a estação das queimadas não tardaria. Carpindo ali calmamente, observou alguém ao seu lado, próximo a uma caroba branca; era uma criança, e o Agricultor a conhecia...  a Criança Interior de seu amigo, o Moço das Letras.  O Agricultor saudou a Criança com um olhar de alegria, e esta respondeu com um enorme sorriso de gratidão. Tal como o seu amigo, o Agricultor também amava profundamente aquele Criança; sabia que ela estava ali a fim de colher em seu coração alguma nova narrat

O Sexto Passo é Um Corredor

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O sexto passo é um enorme corredor, imenso... o corredor de minha própria vida emocional. Por este corredor trafegamos todos os dias,  por todos os instantes, eu e o meu Poder Superior. Neste corredor, ao longo das longas paredes, existem inúmeros escaninhos,  escaninhos estes onde prontifico-me a colocar os defeitos de caráter que já consigo identificar em mim, a fim de que o  Poder Superior possa recolhê-los em sua constante passagem. Passo pelo corredor frequentemente, observando minuciosamente os escaninhos, com o mais profundo desejo de que os defeitos  não estejam mais lá, de que tenham sido efetivamente retirados daqueles nichos pelo meu Poder Superior.  Quando encontro o observado escaninho vazio,  minha alma se alegra, a prontificação funcionou, e o Poder Superior o removeu de lá; ou não. Muitas vezes, por uma pseudo prontificação de minha parte, faço eu mesmo  o papel do Poder Superior, e, doentiamente,  recolho o defeito de volta para o meu uso pessoal. 

Entrego Minhas Armas

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Entrego minhas armas Abro meus esconderijos Revelo meus segredos Não aguento mais a doença... Da solidão Da deserção Da negação Da depressão Entrego minhas armas Abro meus esconderijos Revelo meus segredos Não aguento mais a doença... Do premeditar Do ludibriar Do imaginar Do fantasiar Entrego minhas armas Abro meus esconderijos Revelo meus segredos Não aguento mais a doença... Do Fugir Do Fingir Do Deprimir Do Sucumbir Entrego minhas armas Abro meus esconderijos Revelo meus segredos Não aguento mais a doença... Do alheamento Do afastamento Do retraimenento Do ressentimento Entrego minhas armas Abro meus esconderijos Revelo meus segredos Não aguento mais a doença... Da alma Da negação Do coração Da emoção Entrego minhas armas Abro meus esconderijos Revelo meus segredos Não aguento mais a doença... Mental Emocional Racional Espiritual Entrego minhas armas Abro meus esconderijos Revelo meus segredos Não aguento mais a doença... Cega Surda Muda Absurda Entrego minhas

O Menino Nos Escombros

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Mora um menino dentro de mim, perdido e sofrido dentro de meus escombros emocionais. Os escombros são os frutos da guerra das emoções travadas no mundo dos homens. Eu não sabia da existência do menino sofrido lá dentro, confesso que não sabia. Mas escavando meus pântanos, andando pelos meus brejos, mergulhando fundo no meu poço e vasculhando meus porões, acabei chegando em uma região muito desolada, onde finalmente percebi a presença dele. O menino é feliz e quer brincar, é livre como o vento e deseja voar como os passarinhos, ou ainda, soltar pipas nos ventosos meses de outono. Apesar da guerra das emoções humanas, dos escombros, do desterro onde vivia, da solidão e abandono, apesar de todos os pesares, o menino é imortal e feliz. Nunca vi uma criança assim com tanta confiança na vida, com tanta graça, vitalidade e vontade de viver, nunca vi um ser tão presente, apesar de todas as dores.  Vendo-me chegando naquele local, o menino convidou-me a sair dali. Neste instante senti med

A Coruja e o Neófito

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Era uma vez, dentro de uma grande, verdejante e belíssima floresta, uma coruja que — quem diria — conseguiu alcançar a iluminação espiritual; deste então, passou a ser muito respeitada por todos os demais animais ali existentes. A coruja passou a ser um exemplo de leveza, luz, alegria e bem estar, quaisquer que fossem as circunstâncias exteriores. A notícia se espalhou, chegando mesmo fora dos limites da floresta, onde vivia um homem que também buscava muito esta iluminação; conhecer aquela coruja passou a ser o objetivo primordial de sua vida. Algum tempo depois este homem adentrou a floresta à procura da iluminada coruja; não procurou muito, todos os animais ali sabiam onde ela vivia, e ele, sem muita tardança chegou até ela. — Boa tarde Coruja, desejo muito conhecê-la; viajei muitas léguas até chegar até aqui. — Boa tarde homem — respondeu a coruja — Em que lhe posso ser útil? — Gostaria muito de iluminar-me também. Poderia me ajudar?

A Montanha

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Tem dias que a angústia chega; nem bate na porta, simplesmente entra e fica em minha casa, mesmo sem a minha aparente permissão. Tem sido assim desde que eu era menino; lembro-me de ter que ir para a escola primária, e ao sair de casa sentir a presença dela ao meu lado.  Lá se vão então mais de cinquenta anos de convivência. Aqui e agora, neste exato momento em que escrevo, ela está do meu lado. Digo para ela sair, mas ela não sai, ela fica; digo que não gosto dela, que não quero senti-la, mas ela, de forma impassível fica; posso ler a Bíblia, o Torá, os Vedas, posso ler todos os livros do budismo, ler mesmo todos os livros sacros da humanidade... tudo em vão, ela não vai embora.  Tento então falar com ela sobre os 12 passos e nada, nada... nem 12 passos, nem 1000 passos, nem uma peregrinação à Meca ou Aparecida do Norte, nem o caminho de Santiago, nada, nada... a angústia vem e fica e ponto, mas ainda não é o final. Neste estado de angústia sinto um isolamento mortal, sinto

O Homem que Alumiava o Céu

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Naquele princípio de noite, no outono de Botafogo, o Moço das Letras, sentado no banco da varanda de sua casa, observava com certa nostalgia as poucas estrelas que ele conseguia enxergar no céu. — Nas poluídas cidades dos homens, com suas luzes artificiais, fica mesmo muito difícil encontrar as estrelas — falou a Criança ali do seu lado no banco.  — Você por aqui Criança? Estava tão absorto nas estrelas que não consegui mesmo perceber a sua presença. — Avistou Marte Moço das Letras? — Não quero nada com Marte por agora Criança; faz muito frio lá. — Você gosta de contemplar as estrelas Moço das Letras? — Gosto muito. — E o que você sente quando as contempla? — Sinto uma certa saudade Criança... — Eu conheço, Moço das Letras, um certo Homem que alumia o céu todas as noites. — É uma história Criança? — Sim... é uma história! — Poderia contá-la para mim? Então, sob o céu de Botafogo, sentados no banco, sob o manto da noite e as

Um Abraço de 12 Passos

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Hoje é quarta-feira, dia abençoado como todos os demais, dia em que eu vou à sala de 12 passos. Ainda são quinze horas, e a reunião é somente à noite, mas, tal como a raposa de Saint Exupery eu já estou exultando de alegria.  Gosto demais da sala, gosto demais daqueles rostinhos tão parecidos comigo — parecem mesmo meus irmãos.  Na sala eu posso livremente falar de mim e ouvir os demais; na sala eu vou me exercitando na busca de encontrar um Eu bonito e verdadeiro que vive dentro de mim; na sala eu me sinto em um lugar maravilhoso, cheio de paz, solidariedade e sinceridade — assim é o céu de minha crença.  Entrei em uma sala há mais de 20 anos, tentando resolver alguns probleminhas existências. Confesso que no início não levei muita fé, tudo era muito simples, muito pobre, um pouco decadente mesmo. Mas eu fui ficando, mesmo com dúvidas fui ficando... Até que um dia ouvi alguém falar algo que estava dentro de mim.  Naquele dia comecei a despertar, naquele dia minha solidão come

O Poema do Presente

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Acabei de receber um presente O presente não é passado O presente não é  futuro O presente é um presente Um presente simples Um presente singelo Um presente sincero Um presente de fé Um presente de esperança Um presente de vida Um presente de doação Um presente de amor Cada sala, uma parte do presente Cada companheiro, uma engrenagem do presente Cada passo, um detalhe do presente Cada depoimento, uma manifestação do presente Com o presente que norteia a vida Com o presente que preenche a alma Com o presente que ilumina o coração Eu preciso permanecer presente O presente me encanta O presente me ilumina O presente me desperta O presente me revela O presente embala o meu coração O presente revela a minha razão O presente ilumina a minha escuridão O presente combate a minha solidão Eu quero andar no presente Eu quero brincar no presente Eu quero navegar no presente Eu quero viver no presente Estou tão contente Acabei de abrir o presente O pres

O Verde Olhar da Esperança

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Bom dia doutora dos olhos de esmeralda... Olhar verde que leva a esperança em quem já nada espera da vida; Olhar que sobe morro aliviando quem pede socorro; Olhar que de tão contente trás tão grande alegria aos doentes; Olhar tão esperado por tantos tão desprezados; Olhar tão amado por tantos doentes acamados; Olhar que sem nada julgar, entra em ninhos de dor para curar; Olhar que de tão verdinho, até encanta os passarinhos; Olhar que de tão feliz, sem nada dizer tudo diz; Olhar que de tão solidário, encantou o Caminhoneiro Solitário ; Olhar de divino tecido pela Costureira reconhecido; Olhar incansável de olhar o eterno instante de amar; Olhar que me olhou um dia, libertando-me de minha agonia; Olhar que de tanto amor um dia me cativou. Bom dia doutora do verde olhar...  Verde olhar da esperança; Esperança... Olhar de Deus; Verde Olhar de Deus.