O Sétimo Passo é Uma Sala
No final do corredor do Sexto Passo, existe uma porta; estreita porta. Esta porta é a porta do final do corredor, o único acesso possível à sala do Sétimo Passo. Nesta sala, em constante plantão, está o meu Poder Superior.
Vindo através do corredor do Sexto Passo, onde, nos escaninhos deixo os meus defeitos de caráter, dirijo-me à porta estreita a fim de abri-la. A porta possui uma chave denominada Prontificação. Se chego na porta sem a chave, por mais esforço que eu faça, a porta não se abre. Nenhuma outra força ou chave em todo o universo é capaz de abrir esta porta; ela se abre tão somente para mim, quando estou de posse da chave, a Prontificação.
Uma vez aberta a porta do corredor, encontro logo adiante uma outra porta mais estreita ainda que a anterior, que preciso também abrir; esta é a porta da sala do Sétimo Passo, onde meu Poder Superior aguarda a minha chegada, pronto para remover os meus defeitos de caráter; aqueles contidos nos escaninhos do corredor do Sexto Passo.
Preciso agora da mais nobre, rara e preciosa de todas as chaves humanas, a chave que abre a mais estreita de todas as portas. A chave está ali do lado, ao alcance de minhas humanas mãos.
Se meu ego me acompanhou, não consigo pegar a chave; se meu orgulho soprou algo em meus ouvidos, não consigo pegar a chave.
Se algum sentimento negativo - medo, amargura, rancor, poder, posse, superioridade, inferioridade, glória, dentre tantos outros - passou pelo meu coração, não consigo pegar a chave; se uma minúscula sombra de vaidade humana desfilou pelas minhas emoções, não consigo pegar a chave.
Para apossar-me da chave, preciso sossegar a minha mente, que muitas vezes, como um macaco pula de galho em galho, e sentir em mim o mais profundo silêncio, o silêncio do coração; preciso ainda sentir-me infinitamente pequeno, sem que esta pequenez se traduza em revolta, mendicância ou contrariedade, e absolutamente vazio de tudo o que é negativo em mim.
Para pegar esta chave, é preciso finalmente que morra em mim o velho e doente homem que ainda sou, a fim de que eu me apresente com dignidade e absoluta sinceridade na frente do meu Poder Superior, podendo então, sem nenhuma mácula em minhas emoções, olhar bem fundo em Seus olhos, pedindo-lhe com a mais absoluta simplicidade: Por favor, remova os meu defeitos de caráter; eu não tenho a menor competência para fazer isto, e não suporto mais carregar este tão pesado fardo, que tanto me afasta de Ti.
O nome da chave da estreitíssima porta, é Humildade, irmã da Prontificação e filha do Amor. Enquanto não estou de posse dela, sinto-me como um náufrago em terra firme, perdido em um porto, doentiamente atracado, aguardando o navio que finalmente me conduza para os abençoados mares da espiritualidade humana.
Enquanto isso, dentro da sala do Sétimo Passo, o Poder Superior aguarda paciente e amorosamente o meu ingresso, ou ainda, o definitivo embarque do náufrago da vida, que teima em não embarcar no navio que atraca todos os dias no seu próprio porto.
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