Maria, Isaac e Sebastião
Naquele domingo de maio, o Moço das Letras acordou cedo; estava com muitas saudades de seu amigo, o Agricultor Urbano. Sabia que ele deveria estar àquela hora no campo, cuidando de suas árvores; não seria difícil encontrá-lo então.
Caminhou um pouco, seguiu a trilha dos ipês, das sibipirunas, das paineiras, das aroeiras... Pouco tempo depois avistava o seu amigo. Deveria ter madrugado naquele dia o Agricultor; no chão muito capim carpido, mas havia ali algo estranho aos olhos do Moço das Letras: A cavadeira e a enxada estavam encostados em uma árvore, e sob a copa desta, abaixado, o Agricultor escrevia alguma coisa; algo incomum para ele, que gostava mesmo de escrever suas linhas no chão, com suas rústicas ferramentas.
O Moço das Letras aproximou-se com alegria de seu amigo.
— Bom dia Agricultor Urbano, enorme é a minha alegria em revê-lo.
— Bom dia meu amigo — respondeu o Agricultor.
Neste momento, sem mais palavras, o Agricultor entregou para o Moço das Letras um pedaço de papel que estava em suas mãos. O moço então leu o que estava escrito lá...
Um dia na casa de um homem
Na mesa com ele papai almoçou
Na mesa com ele papai almoçou
Esta história ninguém nunca soube
Pois somente a mim papai contou
O nome do homem era Isaac
O de meu pai Sebastião
E a mulher de Isaac, quem diria
Era a bondosa e inesquecível Maria
Lá estavam os três na mesa
Tão próximos, tão irmãos
Naquele dia tão distante
Almoçando e dividindo o pão
Observo Maria na mesa
Na casa do Verbo Divino
Tão belo era o seu olhar
Que encantou o coração do menino
Maria dos olhos fundos
Do profundo olhar dos hebreus
Maria que com o seu olhar
Um dia me comoveu
Olhar simples de menino
Olhar que toca a emoção
Na mesa do Verbo Divino
Maria, Isaac e Sebastião
Amor puro de menino
A história que de meu pai ouvi um dia
Amor que me encanta
Isaac, Sebastião e Maria
O amor chegou somente agora
Na boleia de um caminhão
Perdão pela demora
Maria, Isaac e Sebastião
O amor acabou de descer
Da boleia do meu coração
Perdão pela demora
Mas a estrada era de chão
A história é verdadeira
Do caminhoneiro Sebastião
Que trabalhava com orgulho
Na empresa de Isaac, seu patrão
Ao terminar de ler o que estava escrito, o Moço das Letras olhou para o seu amigo, e, para não se afogar naquelas lágrimas que escorriam de seus olhos, teve mesmo que se apoiar no tronco de uma árvore próxima. Ali mesmo, e no mesmo pedaço de papel ele escreveu:
Dos olhos do Agricultor um rio de Lágrimas, quase um Jordão
Ao escrever sob a copa das árvores um dia
Os versos de amor de Maria
Isaac e Sebastião
Redenção pelo Amor! Muito bonita sua jornada pessoal e literária! Bravo, bravíssimo!
ResponderExcluirMuito bom o texto. Parabéns, primo
ResponderExcluirBom dia Dr. Henrique. Sebastião velho de guerra é mesmo um mar de histórias para se contar.
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