O Congelador Emocional

O congelador da minha casa apresentou problemas; o técnico pediu para abrir as portas, desligar da tomada e deixar descongelando por 24 horas. Assim eu fiz com o congelador da geladeira; assim eu fiz também com o congelador de minhas emoções...

Estou agora descongelando o gelo da geladeira; paralelamente, descongelando também  a raiva, o ressentimento, a birra de viver; descongelando todas as mágoas, a solidão, o medo... Estou descongelando do congelador emocional todas as minhas doentes emoções.

Pois o gelo me preserva, mas sobretudo me isola e me afasta; o gelo me protege, porém esfria profundamente o meu viver, trazendo no seu bojo o frio bolor da solidão...

A geladeira elétrica continua lá na cozinha com as portas abertas, e a água do degelo caindo pelo chão, e eu precisando tanto, precisando tanto degelar o congelador de minhas emoções. Como dizia o grande poeta português "Navegar é preciso, viver não é preciso", mas descongelar velhas e obsoletas emoções é fundamental, a fim de que eu encontre o doce e suave calor do viver, calor este que habita não nos desligados congeladores elétricos, mas na maravilhosa lareira do meu coração descongelado. 

Descongelar dói, pois dói ficar desligado da elétrica tomada da humana ilusão. Passado o susto inicial, é maravilhoso o degelo, é maravilhosa a paz e a serenidade, é extraordinário sentir o calor do sol, das relações humanas, o calor do viver.

Só por hoje continuarei degelando meu congelador emocional, preferencialmente de forma facultativa, pois compulsório é o descongelamento provocado pelo aquecimento global;  compulsória também é a dor, que ainda permito-me sentir nos desertos gelados de minhas equivocadas emoções, nas frias planícies de minhas ilusões. 

Preciso do humano calor, pois quem precisa de gelo são os pinguins, as focas, os leões marinhos e os ursos polares, dentre outros... Só por hoje serei feliz.

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