A Lição da Laranjeira

Havia uma mata em formação, com muitas árvores crescendo. Então naquele dia distante, o homem levou até aquele local uma muda plantada em um vaso, era um jacarandá da bahia. Escolheu para ele um lugar propício, cavou uma cova profunda, retirou o torrão com a planta e carinhosamente a plantou. 

Olhou com carinho o jacarandá tão pequeno,  imaginou que aquela árvore cresceria bastante, questão de tempo, atraindo pássaros e abelhas com suas flores tão perfumadas. Olhou ainda mais uma vez e notou algo curioso: No mesmo vaso onde estava o jacarandá havia crescido também bem juntinho deste uma pequena laranjeira, possivelmente em função de algum caroço que, quem sabe, por acaso estivesse naquele vaso.

Como a laranjeira estava bem juntinha do jacarandá, suas raízes já deviam estar entrelaçadas com a outra planta, ou mesmo por preguiça, ou até quem sabe mesmo por descaso, o homem resolveu não tirá-la dali, e pensou então com pesar... "Pobre laranjeira, o jacarandá vai crescer muito, e brevemente toda esta área estará sombreada, e você não terá muitas chances de sobrevivência...".

Passados alguns anos, em um mês de outono, estava o homem caminhando pela mata, onde já haviam muitas árvores altas e frondosas, e aquilo o enchia de alegria. Encantado ele andava, olhando sempre para o alto, admirando a beleza das copas, observando a luz do sol penetrando entre as folhagens, sentindo naquele ambiente um profundo bem estar.

Depois de algum tempo ele chegou ao ponto onde havia plantado o jacarandá do vaso, e então, curioso olhou para o alto a fim de dimensionar o seu tamanho, e ficou então surpreso com o que viu... O jacarandá estava com mais de quatro metros, porém, por uma razão qualquer havia morrido, e bem ali ao lado dele, com dois metros de altura, havia uma laranjeira carregada de frutos.

O homem lembrou-se daquele dia distante e do seu vaticínio em relação à laranjeira, e meditando sobre aquilo pensou ainda... "Amiga laranjeira, na minha arrogância, não dei créditos a você que, indiferente à minha profecia funesta, cresceu com vigor, cumprindo o seu papel natural, e hoje, trás em si os frutos de seu amor. Perdão irmã laranjeira, por naquele dia ter tirado do bolso a minha carteirinha de Deus, tolo que fui..."

O homem não sabia se a laranjeira havia tomado ciência de seus pensamentos e emoções, mas sentiu pela planta um profundo sentimento de carinho e respeito, havia, sem dúvida nenhuma aprendido algo com ela, como se naquele momento a laranjeira dissesse em seu ouvido: "Independentemente do que pensam a seu respeito, caminhe em frente, mantendo sempre a fidelidade à sua natureza interior, produzindo vida a fora suas próprias e maravilhosas laranjas interiores, bem amarelinhas e repletas de luz".

O homem continuou então sua ronda pela sua mata querida, e resolveu que daquele dia em diante não deixaria mais tão ao acaso tantos caroços de laranjeiras que ele encontrava pelo caminho, depois daquele quadro, não havia mesmo mais lugar para o descaso.


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