O Outro que Sou

Senhor, muitas vezes por não conseguir caminhar, responsabilizo os outros pela minha própria paralisia;

Senhor, muitas vezes não conseguindo encarar meus fracassos, responsabilizo os outros pelas minhas derrotas;

Senhor, muitas vezes não conseguindo acender minha própria luz, tento desesperadamente apagar a luz dos outros;

Senhor, muitas vezes sentindo em mim o vazio de minha pseudo grandeza, responsabilizo os outros pela minha real pequenez;

Senhor, muitas vezes querendo fugir de mim, e de meus conflitos e dores e medos e anseios, procuro os outros de uma forma equivocada, a fim de tentar me esquecer;

Senhor, muitas vezes, não sendo ainda capaz de assumir diante da vida a responsabilidade de minhas ações, como um homem portador de uma profunda doença da alma, culpo os outros pelas minhas misérias;

Senhor, muitas vezes minto para mim, tentando passar para os outros a verdade de um homem que ainda não sou;

Senhor, muitas vezes crio em mim um campo de guerra, e então, como um tolo, caminho mundo afora tentando levar a paz para os outros;

Senhor, poderia ajudar-me a levantar o véu de minha ilusão, a fim de finalmente perceber que o outro sou eu  mesmo?

Senhor, ainda mais uma vez... Poderia ajudar-me a parar de fugir e voltar... Voltar em direção ao outro, ao outro que sou.




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