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Mostrando postagens de dezembro, 2020

O Agricultor, a Semente, o Broto e a Voz

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O Guapuruvu  ( Schizolobium parahyba),  é uma árvore nativa da mata atlântica, e sua semente, tão dura quanto uma pedra, pode demorar muitos meses para germinar. A futura árvore, em estado potencial no interior do seu invólucro, de alguma forma  obedece plenamente a uma  sábia voz interior, determinando o momento do fim da dormência e o princípio do processo de germinação, quando a sorte é finalmente lançada, sem possibilidade nenhuma de retorno  —  isto não é uma afirmação atestada por rigorosos padrões científicos.  "Aguarde mais um pouco, agora é inverno", diria a voz para a árvore virtual; "este ano teremos um grande período de seca, não germine ainda", continua soando a voz, ou ainda "você está em um terreno pedregoso, aguarde o andar dos acontecimentos." A semente confia plenamente na sua voz interior, e permanece adormecida, confortável e segura, tal como uma criança no colo de sua amada genitora  — em decorrência do silêncio das crianças,  as mães

A Criança Interior e o Agricultor Urbano

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Tenho alma de agricultor, porém, nasci, fui criado e educado em cidades cercadas de casas, prédios, ruas asfaltadas, viadutos... apesar de tudo isto, o agricultor em mim jamais me abandonou, então, com o passar do tempo e a pertinaz insistência do homem da terra, acabei transformando-me em um Agricultor Urbano.  Hoje, dia de Natal, acordei cedinho;  um pouco antes de pegar minhas ferramentas,  vi lá uma certa criança num canto da casa. Ela olhava com olhar distante a chuva tamborilando na vidraça da janela, e seu olhar era um olhar distante, um olhar de saudade e de vazio. Cheguei devagarinho perto dela e toquei na janela, e ao tocar, ela olhou para mim. "Vamos lá fora brincar na terra criança!", disse eu. "Eu gosto da chuva e da terra", falou a criança; "eu também gosto", respondi para ela, enquanto saíamos juntos em direção ao quintal, acompanhados pelo meu fiel vira lata Tição. "Eu gosto de quintal e de cachorro vira lata", comentou a criança 

Domingo No Parque

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Era uma vez um domingo, um menino com saudades do pai distante, e um parque de diversões; naquele final de tarde ele finalmente iria até lá. Naquela época, no local onde vivia o menino dinheiro era algo muito raro de encontrar, muito difícil de ganhar, e muito fácil de gastar. Mas finalmente o menino tinha em mãos três dinheiros: O dinheiro de ida no lotação até o parque; o dinheiro para brincar em um dos inúmeros brinquedos, e o dinheiro de volta para a sua casa na condução — os contemporâneos do menino chamavam o ônibus de lotação ou condução. O desejo do menino era gastar todo o dinheiro nos brinquedos, mas o parque era longe, então, já no lotação quase vazio e, com um dinheiro a menos no bolso, ele ia pensando em todos aqueles maravilhosos brinquedos, já brincando mesmo com cada um deles em sua fértil imaginação. Vinte minutos depois e com dois dinheiros no bolso, o menino estava no parque, e no parque música, balões coloridos, pessoas falando por todos os lados e ao mesmo tempo, a