O Agricultor, a Semente, o Broto e a Voz
"Aguarde mais um pouco, agora é inverno", diria a voz para a árvore virtual; "este ano teremos um grande período de seca, não germine ainda", continua soando a voz, ou ainda "você está em um terreno pedregoso, aguarde o andar dos acontecimentos." A semente confia plenamente na sua voz interior, e permanece adormecida, confortável e segura, tal como uma criança no colo de sua amada genitora — em decorrência do silêncio das crianças, as mães atestam esta afirmação.
No quintal do Agricultor, numa certa hora do dia — não sei precisar qual — uma das inúmeras sementes do imenso guapuruvu resolve despencar lá das alturas da árvore, mas como é uma semente alada, não despenca em linha reta, despenca de forma livre e irregular, e desta forma maravilhosamente torta, vai bailando suavemente no ar, até cair numa pequena fresta dentro do oratório do Agricultor Urbano — uma área de menos de um metro quadrado, a um metro do chão, com uma pequena abertura e cercada de telhas francesas por todos os demais lados.
A semente, na sua sabedoria intrínseca, percebe que caiu em um lugar totalmente impróprio para germinação; não lamenta o ocorrido, e resolve então adormecer por um longo tempo — férias prolongadas —, pois sua voz interior não teria muito o que dizer para ela naquelas circunstâncias, assim ela imagina.
Mal a semente adormece e chegam as chuvas de verão, e com elas alguns pingos que resolvem, pela ausência de porta, talvez, simplesmente entrarem no pequeno e rústico oratório, molhando a semente solitária e sonolenta. Passados alguns dias, a semente adormecida lá nos seus sonhos de florestas verdejantes, ouve a sua voz interior amorosamente dizendo "desperte agora" e ela, de forma confiante obedece, e obedecendo, morre como semente naquele finalzinho de tarde, nascendo logo em seguida como um pequenino embrião de um diminuto guapuruvu.
No dia seguinte pela manhã, o pequenino guapuruvu percebe que germinou em um local impróprio, sem a menor possibilidade de sobrevivência, pois ali não havia solo, e sem solo, sem nutrientes, e sem nutrientes, sem vida. Antes que qualquer sinal de preocupação pudesse passar pela mente do pequeno broto, ele ouviu e confiou em uma voz vinda do seu interior dizendo para ele "aguarde e confie" — esta afirmação não consta nos livros de ciências botânicas.
O oratório do Agricultor ficava no seu caminho cotidiano e natural, nos fundos do seu quintal, próximo a um portão que levava à mata próxima. Passando então por ali naquela manhã, qual não foi a sua alegria e surpresa ao fazer suas orações, e perceber o broto do guapuruvu bem ali em frente aos seus olhos.
Após fazer suas preces, seus pedidos e seus agradecimentos, o Agricultor Urbano ouviu uma voz, mas não era uma voz externa, era na verdade uma voz interna que dizia "transfira este broto para um saquinho com terra, leve-o para o seu viveiro e, no tempo propício, plante-o no campo." Tal como a semente, tal como o broto, o Agricultor também confiou na voz, e confiando, fez o que lhe foi amorosamente revelado — esta revelação jamais foi comprovada por quaisquer autoridades religiosas do orbe terrestre.
Mto lindo Conto!!!
ResponderExcluirSábias palavras..*de tão genuíno destino,dessa vidinha distinta..
Mto Grata,Companheiro!!!
Parabens por suas sábias postagens. Nosso mundo precisa de pessoas como vc.
ResponderExcluirObedecer é sábio! Bendito sejam os que confiam e obedecem! Senhor converte o meu coração e fortaleça a nossa fé!
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