O Terceiro Passo é Um Salto
O Terceiro Passo é um salto de paraquedas na fria e escura noite, a quatro mil metros de altura, dentro de uma singular aeronave; estou dentro dela.
Não estou só; juntamente comigo, outros companheiros neste insólito voo pelos ares da humana emoção. Enquanto o avião cruza o céu, vou aprendendo paulatinamente sobre meus próprios sentimentos, aprendendo sobre minha humana condição, passo a passo...
Está chegando o momento do Terceiro Passo, aquele que divide águas, o passo que leva dos estéreis desertos da vida aos maravilhosos oásis de serenidade, paz e esperança; está chegando o momento...
Dirijo-me então, passo a passo, para os fundos da aeronave; abro uma porta e deparo-me com uma rampa. No final desta é aberta uma comporta, e lá fora percebo amedrontado a negra escuridão, o frio, a incerteza e todos os meus apegos, descontroles emocionais e receios.
Ao longo da rampa, sentados, estão vários de meus companheiros que também terão que saltar um dia; hoje porém não é o dia deles, hoje é tão somente o meu dia do salto. Os companheiros olham para mim, e sem dizer palavras, simplesmente através da linguagem do coração expressam: Vá companheiro, vá...
Ali na rampa, antes do grande salto, ainda leio pequenos e amorosos dizeres afixados na chapa de metal da aeronave: Nada muda se você não mudar; É só por hoje; Mantenha a calma; Um dia de cada vez; Que a mudança comece por mim...
Sinto-me tão seguro dentro do avião; sinto um relativo conforto na presença dos companheiros; sinto amparo e amizade neste voo, como nunca senti em lugar nenhum, e agora a prova da entrega, agora o grande salto no escuro...
Transbordo de ansiedade, meu coração acelera, minha fé está abalada quando ouço, lá no final da rampa, uma doce e amável voz falando para mim:
Vamos companheiro, vamos, chegou a sua vez, vamos... Solte-se e entregue-se à vida, entregue-se a Deus!
Vamos companheiro, vamos, chegou a sua vez, vamos... Solte-se e entregue-se à vida, entregue-se a Deus!
Minhas pernas tremem... Saltar ou não saltar? Permanecer na zona de conforto e segurança da aeronave, convivendo ainda com a minha doença, ou confiar e abandonar definitivamente minhas relativas certezas e absolutas incertezas; meus anseios, minhas ilusões, minhas falidas estruturas emocionais e meu imenso medo?
Meu coração acelera... Saltar ou não saltar? Se confio no salto, salto para a vida, para a luz, para a fé, para a responsabilidade; salto para a alegria e leveza de viver, para a entrega total de minha vida nas mãos de meu Poder Superior, conforme eu o concebo.
Começo a pensar intensamente... Saltar ou não saltar? Se não confio no salto, permaneço na doença, na escuridão interior, na negação e no viver cheio de culpa, remorsos e ressentimentos; permaneço na aeronave aguardando ainda um pouco mais, como se fosse possível praticar o libertador passo sem o grande salto da entrega incondicional.
Lá no final da rampa a amável e doce voz fala novamente para mim:
Começo a correr pela rampa rumo ao salto, e no derradeiro instante tropeço nos meus próprios e acorrentados passos e desisto, não estou pronto — acorrentados não voam e saltam. Apesar da liberdade de saltar, não estou solto, estou ainda preso dentro de mim mesmo, preso em minhas próprias correntes emocionais.
Abandono a rampa e volto novamente para o interior da aeronave — confesso que um pouco triste. Com humildade e resignação descubro que preciso aprender um pouco mais sobre estes leves voos de liberdade. Permaneço na segurança do avião e concluo que é necessário que eu desenvolva minhas próprias asas, para finalmente voar livremente e sem correntes, pelos ares da emoção, e, sobretudo, pelos céus da vida e da espiritualidade humana.
Ah... antes que eu envelheça e me esqueça: O nome da aeronave que voa mansamente pelos céus da humana emoção é 12 Passos; a noite escura e fria lá fora é a minha visão distorcida da abundante vida, minha doença; e a voz doce e amorosa no final da rampa é a do meu Poder Superior, amoroso piloto da aeronave e de todo o universo, conforme eu consigo conceber.
Lá no final da rampa a amável e doce voz fala novamente para mim:
Vamos companheiro, vamos, chegou a sua vez, vamos... Solte-se e entregue-se à vida, entregue-se a Deus!
Abandono a rampa e volto novamente para o interior da aeronave — confesso que um pouco triste. Com humildade e resignação descubro que preciso aprender um pouco mais sobre estes leves voos de liberdade. Permaneço na segurança do avião e concluo que é necessário que eu desenvolva minhas próprias asas, para finalmente voar livremente e sem correntes, pelos ares da emoção, e, sobretudo, pelos céus da vida e da espiritualidade humana.
Ah... antes que eu envelheça e me esqueça: O nome da aeronave que voa mansamente pelos céus da humana emoção é 12 Passos; a noite escura e fria lá fora é a minha visão distorcida da abundante vida, minha doença; e a voz doce e amorosa no final da rampa é a do meu Poder Superior, amoroso piloto da aeronave e de todo o universo, conforme eu consigo conceber.
Olá! Parabéns pelos lindos textos, em primeiro lugar! Gostaria de saber se poderia contactar você de modo privado, por e-mail, para saber sobre a possibilidade de a irmandade de 12 passos de Hipocondríacos Anônimos poder fazer uso de seus textos como literatura de apoio, dando-lhe os devidos créditos. Desde já agradeço o presente que são suas reflexões!
ResponderExcluirParabéns amigo, pelo belíssimo texto.
ResponderExcluirSó por hoje eu sou a pessoa mais importante da minha vida.