Dionísio, uma Luz na Escuridão
Que Deus te Ilumine meu Tio |
O nome do meu tio era Dionísio, ele era casado com a minha tia, irmã do caminhoneiro solitário que, graças a Deus, ainda vive lá no Bairro de Padre Miguel, na cidade do Rio de Janeiro. Meu tio já partiu a muitos anos, tenho dele poucas lembranças, de vez em quando ele aparecia para visitar meus avós no interior, como de costume na época, pedia a ele sua benção, e quando possível, ficava por ali, perto dos adultos, assim como quem não quer nada, ouvindo aquelas conversas de gente grande. Ele era sorridente, de olhar sereno e manso, passava-me a impressão de um homem sempre muito tranquilo e equilibrado, era calmo no falar. Hoje, passados muitos e muitos anos, passo pela frente do cinema Odeon, na Cinelândia, área central do Rio de Janeiro, região famosa pelos áureos tempos dos grandes cinemas no Brasil, olho para o prédio, antigo e bonito, e agora revitalizado, e então vem à minha mente a saudosa figura de meu tio. Ele trabalhou como lanterninha de cinema, não sei se no Odeon, ou em outro qualquer, não importa. Fico a imaginá-lo deixando a casa com os filhos e a esposa, vindo, quem sabe, de trem até a Central do Brasil, e de lá, até a região da cinelândia, a pé, ou de ônibus, ou ainda de bonde, havia no passado bondes na cidade, e para o ano que vem, ano de olimpíadas, eles voltarão. Chegando ao trabalho, possivelmente vestia seu uniforme bonito, engomado, com botões prateados, ajustava o quepe na cabeça, pegava sua lanterna e ficava transitando pelo cinema, auxiliando as pessoas a encontrarem um lugar para sentar sob a sombra da escuridão. Como naquela época a Capital Federal era o Rio, bem como a capital Cultural, possivelmente ele tenha mesmo iluminado o caminho para políticos ilustres, artistas famosos, jogadores de futebol, sambistas, passistas, turistas, e para os cariocas de um modo geral. Será que ele teve um tempinho durante as sessões para assistir E o Vento Levou, Alice no País das Maravilhas, as Aventuras de Tarzan, os 10 Mandamentos, Ben-Hur, os filmes de Chaplin, e tantos e tantos outros? Não sei! Mas a memória que me vem é de um homem simples e correto, um brasileiro anônimo e querido, que mesmo com sua lanterna apagada possuia uma luz própria, luz que iluminou muitos os que cruzaram pelo seu caminho, segundo a minha ótica, meu tio era em si, uma luz na escuridão.
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