O Meu Pessoal Estado de Buda
Eu era jovem e estava namorando uma bela de olhos verdes. Gostava muito de ir à casa dela, e confesso com sinceridade que, além dela, gostava também de alguns livros sobre o budismo que eu encontrava na estante. Lendo alguns daqueles livros, vim a conhecer a história do príncipe Gautama, que conseguiu atingir a iluminação meditando durante muitos meses sob uma grande figueira, alcançando um estado constante de paz; decidi então que um dia seguiria o mesmo caminho dele, o caminho da iluminação, o caminho do Buda.
Com o passar do tempo esqueci completamente aquela ideia, e fui, como quase todos, arrastado pelas atividades do dia a dia — filhos, profissão, obrigações, rotina... Alguns anos depois, um pouco mais velho — talvez ficasse melhor mais antigo —, já um pouco cansado de tantas coisas do mundo, resolvi finalmente começar o processo de meditação — os livros ainda estavam lá, bem como a menina dos olhos verdes —, e então, não foi muito difícil encontrar nas proximidade de minha casa uma árvore bem frondosa, onde, com alguma constância eu me sentava, tentando com sofreguidão e ansiedade atingir aquele maravilhoso estado de paz alcançado pelo antigo príncipe do Nepal.
Confesso que tentei, mas admito com sinceridade que mesmo com muito esforço, não consegui ficar confortável sob a copa das árvores — rádio da vizinhança, veículos passando pelas proximidades, calor, mosquitos, vira latas lambendo o meu rosto, e sobretudo, a minha mente que pulava tal como um macaco nos meus galhos mentais. Então, desistindo daquela forma de meditar, com o tempo eu fui percebendo algumas coisas a respeito de minha própria natureza: Eu descobri que amava as árvores, mesmo não ficando horas sentado debaixo delas; descobri que aquela forma de meditação tão ansiada por mim ao longo de tantos anos era a do Gautama, e que eu, de certa forma, queria imitá-lo, tentando também alcançar a paz interior através do caminho dele; descobri que existem vários caminhos para a paz, e que cada um deve procurar pelo seu, pois cada um é único.
Então, abandonando o caminho do príncipe Gautama, uma de minhas formas de meditação passou a ser o plantio de árvores; já plantei milhares, e nunca me canso de plantar de novo e de novo, e, de forma surpreendente, este simples gesto me transporta para lugares maravilhosos dentro de mim, o meu pessoal estado de Buda. O interessante é que quando estou neste estado interior de paz, nada do lado de fora me incomoda mais — rádio da vizinhança, veículos passando pelas proximidades, calor, mosquitos, vira latas lambendo o meu rosto — , e minha mente, de tão tranquila que fica, mais se assemelha aos passarinhos à minha volta, pulando felizes nos galhos das árvores.
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