30 Km/h
Eu era menino, e meu pai um caminhoneiro que dirigia uma Scania vermelha, grande, imensa.... Meu pai Tinha por aquele caminhão um amor infinito, era sua segunda casa. Antes das viagens, acordava bem cedinho, ligava o motor e deixava o mesmo aquecer por um bom tempo. Dizia para mim:
- É para circular o óleo meu filho, o veículo funciona melhor assim, este processo simples aumenta o tempo de vida útil do motor.
Possuía um martelinho de madeira, e verificava calmamente, a calibragem de todos os pneus, batendo em cada um deles. Na empresa onde trabalhava era considerado um motorista exemplar, manejava a lona da carroceria como poucos, dirigia sempre com muito equilíbrio e cuidado; quando fazia longas viagens sempre descansava, não tinha pressa de chegar, respeitava os seus limites e os limites da máquina também.
Um dia, nas minhas férias fiz com ele uma viagem para o Rio de Janeiro, juntamente com o meu irmão. Esta foi a minha primeira lembrança da Rodovia Presidente Dutra, tão presente na minha vida nos últimos 35 anos. Lembro-me bem do velocímetro, ficava olhando para ele... 20, 30, 40, 60, 70Km/h... a carreta ganhava velocidade, eu achava lindo, ficava esperando por 80, 90, 100Km/h, porém ele nunca passava dos 70, e assim ele dirigiu seu caminhão por toda uma vida.
Anos mais tarde, já aposentado, dirigia um fusquinha branco, e tinha por ele o mesmo carinho que possuía pela carreta. Quando se aposentou, seu patrão que o estimava muito disse para ele:
- Sebastião, vá na agência, e escolha o carro que você quiser, é um presente que eu te dou por tantos anos de dedicação!
Obviamente que haviam belos e caros carros na loja, porém ele escolheu o fusca; o patrão não entendeu, creio que o mundo inteiro não entendeu, porém a lógica dele era muito simples: "O fusca eu posso manter!" E com aquele fusca ele dirigiu ainda por um bom tempo, ora ia no mercado, ora na feira, ora na igreja, levava as pessoas para os hospitais, visitava os amigos, e por aí afora...
Um dia, estando com ele no fusca e passando por um bairro bem tranquilo, com as ruas vazias, percebi que ele andava bem devagar, 10, 20, 30Km/h. Parava nos sinais e de novo acelerava calmamente, mudando as marchas, sem pressa, e nunca passava de 30. Pensei com os meus botões, "30Km/h é um exagero, ele poderia andar um pouco mais rápido." Criei coragem e perguntei para ele:
- Pai, por que o Sr. está andando a 30 Km/h, não tem guarda, as ruas estão vazias, não tem sinais...
Calmamente ele continuou dirigindo, sem pressa, e então parou o fusca, apontou para uma placa na rua e me perguntou:
Anos mais tarde, já aposentado, dirigia um fusquinha branco, e tinha por ele o mesmo carinho que possuía pela carreta. Quando se aposentou, seu patrão que o estimava muito disse para ele:
- Sebastião, vá na agência, e escolha o carro que você quiser, é um presente que eu te dou por tantos anos de dedicação!
Obviamente que haviam belos e caros carros na loja, porém ele escolheu o fusca; o patrão não entendeu, creio que o mundo inteiro não entendeu, porém a lógica dele era muito simples: "O fusca eu posso manter!" E com aquele fusca ele dirigiu ainda por um bom tempo, ora ia no mercado, ora na feira, ora na igreja, levava as pessoas para os hospitais, visitava os amigos, e por aí afora...
Um dia, estando com ele no fusca e passando por um bairro bem tranquilo, com as ruas vazias, percebi que ele andava bem devagar, 10, 20, 30Km/h. Parava nos sinais e de novo acelerava calmamente, mudando as marchas, sem pressa, e nunca passava de 30. Pensei com os meus botões, "30Km/h é um exagero, ele poderia andar um pouco mais rápido." Criei coragem e perguntei para ele:
- Pai, por que o Sr. está andando a 30 Km/h, não tem guarda, as ruas estão vazias, não tem sinais...
Calmamente ele continuou dirigindo, sem pressa, e então parou o fusca, apontou para uma placa na rua e me perguntou:
- Meu filho, o que está escrito naquela placa?
- 30 pai!
- 30 o que, meu filho?
- 30Km/h pai.
Engatou uma primeira, uma segunda, uma terceira, e partiu com um sorriso interior, não me falando mais nada. Naquele dia eu aprendi com o exemplo de meu pai, homem que não havia concluído nem o curso primário, uma das maiores lições de minha vida, uma lição inesquecível.
Você tem muito dele em você! A cada geração há uma repaginada, que melhora, empata ou piora. A vida é feita de escolhas para semear e consequências para colher!
ResponderExcluirAbençoados são os obedientes e prudentes!