O Guarda Florestal Canadense

Era uma vez um menino que vivia em uma cidade; na cidade haviam escolas, hospitais, postos de gasolina, farmácias, havia tudo... havia também uma indústria muito grande, tão grande que demoraria um dia inteiro para alguém percorrê-la de ponta a ponta. 

O menino amava ler gibis, não tinha muito acesso a eles, porém, sem que seu irmão mais velho soubesse, de vez em quando pegava emprestado alguns, e então devorava com os olhos e o coração cada gravura e cada palavra, formando em sua mente maravilhosos quadros.  

Numa dessas leituras ele leu um dia sobre um guarda florestal canadense, com um enorme chapéu, que cuidava de uma imensa floresta, e a imagem do guarda, do chapéu e da floresta ficaram gravadas para sempre em seu coração; então ele disse de si para si: Um dia serei um guarda florestal também.

Como já foi relatado, ele vivia em uma cidade, e não havia nenhuma floresta ou guarda florestal por perto como referência, e então o menino - apesar de seu brilhantismo em geografia -, acabou estudando ciências exatas, e passou consequentemente a viver em uma cidade bem maior que a sua, passando boa parte de sua vida realizando uma infinidade de cálculos. Nesta grande cidade ele via todos os dias muitos guardas,  porém, nenhum deles florestal.

Meio século se passou, e as imagens do gibi continuavam lá, e eram tão fortes e tão eternamente presentes, que um dia o menino preso dentro do homem resolveu sair, e apesar da cidade, da indústria, do asfalto, da falta de conhecimento acadêmico; apesar da idade (os meninos jamais envelhecem), apesar da falta de qualquer coisa, apesar de tudo, o menino aqueceu seu sonho sobre o sol e o transformou em realidade.

Lá está agora o menino com um chapéu canadense, presente de seu filho que viveu nas frias terras dos ursos do norte, zelando por milhares de árvores que passaram por suas mãos e crescem no chão, e um sem número de outras mais, que eternamente brotam em seu coração; mais parecido mesmo com o guarda florestal canadense dos antigos quadrinhos dos gibis do seu irmão.

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