A Árvore da Felicidade

Era uma vez em uma cidade não muito distante, uma festa de bodas; o dia estava lindo, todos estavam felizes, os noivos, no esplendor da juventude, eram a própria imagem da alegria.

Naquele dia eles receberam muitos presentes, cada um mais bonito do que o outro. No final da festa, quando todos começaram a partir, surgiu, com sua tez morena e seu chapéu e sorriso largo, o avô do noivo - não cabem aqui palavras para descrever o amor que aquele jovem sentia por aquele homem.

- Meus filhos... - falou o avô. Trago para vocês um presente muito raro. Muitos o procuram palmo a palmo pelos campos, florestas e caminhos da vida, e não conseguem jamais encontrá-lo.

O avô, que era lavrador, lenhador, sábio, e carpinteiro por ofício, entregou para o neto e sua esposa duas mudas de árvores muito pequeninas, porém, de uma beleza estonteante.

- Cuidem destas plantas crianças. São as árvores da felicidade, o bem mais procurado pela humanidade, desde os tempos mais remotos. Para que a felicidade, como as árvores, possa crescer em vocês, é muito importante que cada um cuide da sua. Por maiores que sejam as dificuldades da vida, por mais sombrios que sejam os dias, quaisquer que sejam as circunstâncias, jamais deixem de cativar e cuidar de suas respectivas árvores.

Antes de afastar-se, o avô retirou o seu chapéu e o colocou na cabeça de seu amado neto. Alguns dias depois as duas árvores foram plantadas pelo casal no quintal da casa, e daquele dia em diante eles começaram a cuidar delas. Atentos à recomendação do avô, diariamente eles regavam, providenciavam adubo, faziam podas carinhosas, e paulatinamente as árvores foram crescendo.

O tempo avançou, vieram as tribulações, os filhos, as crises, as dificuldades naturais da vida... O marido passou a chegar em casa mais tarde, sempre muito cansado, e pouco a pouco foi deixando de cuidar de sua árvore; sua mulher, contudo, cotidianamente ia ao quintal e doava seu amor e sua atenção para aquele presente tão precioso.

Depois de alguns anos a árvore da felicidade da mulher estava crescida e bonita, e seu marido, tendo abandonado a sua, contentava-se agora com a felicidade da árvore da esposa, e era muito comum, nas tardes quentes de verão, ele relaxar sob aquela copa tão bem cuidada, frondosa e fresca, colhendo ainda muitos de seus saborosos frutos. "Como me sinto feliz debaixo desta árvore...", pensava aquele homem, inquilino da felicidade alheia.

Mas um dia a realidade bateu à porta, foi tudo muito rápido, rápido como a própria vida. A mulher daquele homem adoeceu, e pouco tempo depois, veio a óbito, como dizem os médicos, ou ainda, voou mansamente como um passarinho, para o céu, como dizem os poetas.

Daquele dia em diante, profunda foi a dor daquele homem, que passou a viver de forma muito deprimida; sua felicidade consistia agora, tão somente, em passar os dias melancolicamente, sob a frondosa árvore da felicidade de sua amada, com o coração raiado de saudade.

Então, veio um dia uma grande tempestade, com fortes ventos, e os ventos passaram e deitaram no chão a grande árvore da felicidade daquele quintal, não por maldade ou outra razão qualquer, coisas dos ventos apenas. 

Depois da tempestade, com a visão da felicidade destroçada no chão, aquele homem somente não morreu de dor porque ainda não era a sua hora. Ficou muito tempo parado no quintal com o olhar perdido, tentando encontrar a razão para tanto sofrimento. Então, pouco a pouco lembrou-se do presente do avô no dia de suas bodas, e finalmente veio à sua mente suas palavras: "Para que a felicidade, como as árvores, possam crescer em vocês, é muito importante que cada um cuide da sua...". 

Deixou sua imobilidade de lado, e dirigiu-se para onde havia plantado sua própria árvore, nos anos de sua juventude. A árvore ainda estava lá, e estava viva, porém, por abandono e descaso, quase não havia crescido. Naquele instante, depois de muito tempo, ele finalmente a regou com suas próprias lágrimas.

Muitos anos depois, as pessoas do lugar contavam que toda tarde, andando já com muita dificuldade e lentidão, em função do avanço da idade, um ancião, diariamente enchia um regador com água, e carinhosamente o despejava no pé de uma árvore muito bonita, que já estava com mais de dez metros de altura. 

Alguns ainda contaram que ele morreu tempos depois, com um sorriso nos lábios e o regador na mão, sob aquela copa, em uma bela tarde de verão. Foi visto também próximo dele um chapéu muito velho, parecido, quem sabe, com aqueles usados pelos lavradores nos campos.






















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