O Plantador Solitário
Era uma vez uma cidade onde havia um rio muito bonito, tão bonito que fazia uma volta redondinha, quase perfeita... Nesta cidade havia um homem que, frequente e solitariamente, plantava árvores pelos caminhos por onde costumam passar carros, cachorros e pessoas; o trabalho daquele homem era tão constante, que com o passar do tempo todos acharam aquilo absolutamente natural, assim como o sol, como a lua, como o céu...
Na rua onde o homem plantava as árvores, vivia em uma casa grande e bonita, um menino que frequentemente andava de carro com o seu pai; quando o carro passava pela rua das árvores e do plantador solitário, o menino, com o olhar do seu coração observava tudo aquilo...
- Papai, quem é aquele homem que está sempre ali plantando árvores?
O pai, que estava com a atenção no noticiário do rádio, abaixou o volume e respondeu para o menino:
- Ele é um amante da natureza meu filho, e já há muitos anos planta árvores em várias ruas da cidade.
O menino registrou aquela informação no escaninho do seu coração, e daquele dia em diante, sempre que passava pela rua com o pai, indagava sobre o plantador solitário.
- Papai, a rua está toda arborizada, ele já deve ter plantado milhares de árvores. Onde ele consegue tantas mudas?
As notícias do rádio estavam interessantes, mas, por atenção ao filho, o pai abaixou o volume...
- Ele possui um viveiro em sua casa, e conforme vai coletando as sementes, vai preparando novas mudas. As árvores são muito importantes meu filho, ajudam a embelezar a cidade, diminuem o aquecimento global, atraem os pássaros, valorizam o bairro...
Novamente o menino abriu o escaninho, ou ainda o caderninho do seu coração, e anotou lá o aprendizado daquele dia: "Meu pai e o plantador solitário possuíam muita sabedoria".
O tempo foi passando, passava também o pai, o carro e o filho diariamente, e com muita frequência lá estava o homem com sua enxada e suas árvores, solitariamente.
- Olha lá papai, olha lá... hoje é Natal, e o homem está lá plantando mais árvores, que bonito papai. Será que ele nunca tira folga?
Tocava naquele momento uma linda música no rádio, e o pai abaixou o volume ao máximo e então falou com o menino:
- Ele trabalha em uma cidade distante daqui meu filho, seu tempo é curto, e é mais comum encontrá-lo cuidando das árvores nos finais de semanas e feriados, ou ainda em seus períodos de férias. Por esta razão, ele está lá agora, neste dia de Natal. A natureza agradece meu filho, a natureza agradece; o mundo precisa muito de homens como aquele.
O menino mais uma vez abriu o caderno de seu coração e lá anotou as lições daquela manhã de Natal: "O plantador solitário e o meu pai são homens de muitos conhecimentos".
Chegou então um domingo, e naquele dia o pai levaria o seu filho no horto florestal para passear; mostraria para ele inúmeras árvores, comeriam pipoca, andariam pelas alamedas, jogariam pedras no lago... Quando desciam a rua, o menino observou o plantador solitário com inúmeras mudas no chão; naquele rua tão comprida, somente ele, sua enxada, sua cavadeira e suas pequenas árvores. Havia aprendido muito com o seu pai sobre aquele homem...
- Papai, papai... olhá lá o plantador, olha lá papai. Não poderíamos deixar de ir ao horto hoje papai, e ficarmos por aqui? Poderíamos ajudá-lo a plantar aquelas árvores papai, são tantas, e ele está só.
O rádio estava ligado... Continuou ligado. O pai, naquele momento não tinha a resposta para o filho. Não ficaria muito bem, ali perto de sua casa, pegar em um rústica enxada e cavar buracos pela rua, o que os vizinhos pensariam dele? O que a mulher diria para ele se o menino chegasse em casa todo sujo de terra?
- Meu filho... melhor irmos ao horto hoje. Lá tem muitas árvores já crescidas com muita sombra, lá tem bichos nas jaulas; lá tem pipoca, picolé, pirulito; lá poderemos brincar e passarmos juntos uma agradável manhã... Outro dia paramos e ajudamos o plantador, outro dia...
Naquele dia, enquanto ouvia o som que vinha do rádio, o menino silenciosamente abriu o escaninho do seu coração e lá registrou: "O plantador é solitário porque ninguém o ajuda; ele é sábio, e os sábios não precisam ouvir o rádio o tempo todo".
Foi efetivamente ao horto com o pai, mas no fundo do seu coração, desejaria mesmo era ter ficado ali ajudando o plantador solitário a deitar as árvores no berço do chão. Quando retornou à sua casa, horas depois, suas mãos estavam toda melada, mas gostaria mesmo é que elas estivessem sujas de terra. A rua era comprida, muito comprida, e aquele homem estava só.
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