A Aljava, a Flecha, o Arco, o Arqueiro e a Presa

Ao longe, como expectador, observo um quadro distante de mim... O habilidoso arqueiro saca de sua aljava uma flecha, retesa ao máximo o seu arco, aponta para a presa distante e dispara; a flecha mortífera voa vertiginosamente pelo espaço em um movimento parabólico, e certeira e impiedosamente atinge a sua presa.

Aquela imagem causa-me indignação; aproximo-me do quadro e observo o arqueiro; sinto por ele raiva e desprezo; caminho agora em direção a sua pobre presa contorcendo-se em dores no chão; sinto por ela uma profunda compaixão; 


Afasto-me do quadro em total desequilíbrio emocional; maldita aljava; maldita flecha; maldito arco; maldito arqueiro; sinto a profunda dor da indefesa presa. 

Sou impelido por uma voz interior e imperiosa que vem de dentro de mim: 

— Volte e olhe novamente!

Aproximo-me e observo atentamente cada detalhe daquele quadro; sou eu a aljava; sou eu a flecha; sou eu o arco; sou eu o arqueiro; sou eu a indefesa presa.

De perto, como protagonista, sinto todo o quadro dentro de mim; sou eu o quadro.

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