O Agricultor, Seu Velho Ego e o Cacho de Bananas

O Agricultor Urbano amava o mês de abril. Acordou cedo, pegou sua querida enxada e seguiu para o campo a fim de cuidar de suas plantas e tomar um bom banho de sol. Seu velho ego estava por ali e não estava nada disposto a sair de casa, na verdade, não tinha mesmo disposição para nada, seu universo favorito era um quarto fechado e milhões de livros para ler.

— Agricultor, segundo os cientistas o sol vai brilhar por aproximadamente dez bilhões de anos, portanto você pode aquecer seu corpo em outro dia qualquer, voltemos para casa! — exclamou o velho ego.

— Velho ego, certamente não viverei dez bilhões de anos, nem Matusalém viveu tanto, vou para o campo agora viver intensamente algumas horas por lá, com ou sem a sua presença — retrucou o Agricultor.

O velho ego que odiava ser contrariado não gostou da resposta; bateu os pés no chão, fechou a cara e voltou emburrado para dentro da casa, num profundo e desagradável mal humor.

Três horas depois de trabalhar com intensa alegria sob os raios do sol de abril, o Agricultor retornou para sua casa; chegou cantarolando, bem disposto e muito contente, trazendo um pequeno cacho de bananas amarelinhas e amadurecidas, porém, seu velho ego ainda estava ali pelos cantos do quarto resmungando e aguardando ansiosamente para tomar satisfações — seu velho ego adorava armar um barraco de segunda categoria.

— Você é um ingrato, não deveria ter ido; deixou-me aqui sozinho e eu acabei caindo num profundo processo de amargura e depressão, tudo culpa sua seu desalmado comedor de banana nanica de coração de mármore.

O Agricultor gargalhou, aquilo era mais cômico que trágico; olhou bem para o seu velho ego e não conseguiu perceber se o que via era um velho rabugento ou uma criança imatura batendo os pezinhos e rolando no chão, mas ele tinha uma certeza tão cristalina quanto aquele maravilhoso sol do mês de abril: Ambos estavam fazendo birra e tentando manipulá-lo. Abriu um sorriso, comeu uma das bananas que estava simplesmente deliciosa e foi tomar outro banho, não o de sol, mas o de água encanada mesmo.

Comentários

  1. Oi querido mano!
    Sim! O velho ego querendo pregar peças em nós!
    Temos que pedir que ele aceite a luz.
    Não queremos matá- lo. Queremos iluminá-lo. Comprendê-lo.
    E vc diz muito bem sobre isso em sua inspirada parábola meu querido.
    Abraços saudosos!

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