A Jabuticabeira do Agricultor Sebastião

Naquele domingo de primavera pela manhã, o Agricultor Urbano andava pela mata, juntamente com os seus inseparáveis vira latas, providenciando terra para encher os saquinhos para as próximas árvores. 

Instantes depois, estava ele frente a frente com uma visão celestial: Uma jabuticabeira toda carregada de frutos amadurecidos, um mar de bolotas pretas afixadas no tronco e galhos. A árvore  não havia sido plantada por ele, o responsável pela área onde crescia a planta — um espaço público no meio do nada — já havia morrido. O céu era de um azul intenso, e o dia estava claro e cheio de luz solar. 

O Agricultor Urbano ficou ali um bom tempo degustando aquelas frutas deliciosas, e então reparou que o mato estava tomando conta de tudo; viu inúmeros pés de café sufocados pelo capim inculto; bananeiras crescendo com dificuldade, árvores necessitando de poda, touceiras de canas queimadas ... Veio então à sua memória a imagem do homem que cuidava de tudo aquilo  um agricultor também , e com aquela lembrança veio o respeito e um profundo sentimento de gratidão. Então ali, comendo aquelas jabuticabas plantadas por outras mãos, ele resolveu que adotaria e cuidaria daquele local órfão de amorosas mãos, com o mesmo amor dedicado ao chão por onde constantemente  pisavam suas botas.

Meia hora depois, já sentindo o doce das jabuticabas na sua alma, ele foi ao seu viveiro de mudas, e lá pegou uma pequena jabuticabeira e a plantou, desejando sinceramente que um dia um outro alguém pudesse encontrá-la também, e sentir o que ele sentia naquele momento: Um sentimento tão carregadinho de gratidão, tal como aquela belíssima jabuticabeira no alto do morro, a jabuticabeira do Sebastião — era este o nome daquele agricultor.

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