O Menino Lampião no Reino do Então

Era uma vez um mês de inverno, no Reino do Meio, onde havia, entre outras coisas, um menino, sua cadelinha, uma floresta e muitas outras coisas mais. O menino Lampião e Luz, sua amiga de quatro patas, passaram o dia plantando árvores, e estavam bem longe de sua casa, no interior da floresta; quando o menino percebeu, a tarde caia e a noite já vinha próxima. 


Largaram o trabalho e voltaram, a noite caiu logo, e então perderam-se pelo caminho. Lampião, muito atento e observador notou logo algo de anormal: Apesar de estar na floresta tão familiar a ele, as árvores agora pareciam diferentes e estranhas, como se ele estivesse em um lugar desconhecido. Andando desorientado pela floresta, Lampião encontrou um lenhador cortando árvores, preparando um grande e pesado feixe.


- Bom dia lenhador, meu nome é Lampião, pode por favor me dizer que lugar é este, creio que me perdi por estas veredas.- Bom dia menino, você está no Reino do Então, governado há muito tempo pelo grande Rei do Então.

- Estou precisando voltar lenhador, você sabe qual o caminho de volta para minha casa, o Reino do Meio?

- Me acompanhe então menino, vou levá-lo até o palácio do Rei do Então, e somente ele então poderá indicar lhe a forma de sair dos seus domínios então.

O lenhador levantou do chão o grande feixe de lenha e o colocou nas costas.

- Mas Lenhador, o senhor está carregando muito peso, por que tanta lenha assim?

- Ordens do Rei do Então Menino Lampião, se eu não levar toda esta lenha, então o rei vai ficar muito bravo, e na sua ira poderá então me impedir de continuar pegando lenha na floresta real, o que seria então muito ruim para mim, pois vivo deste ofício.

Enquanto andavam em direção ao palácio, Lampião, Luz e o lenhador encontraram um homem coletando com muita pressa e preocupação laranjas em um belíssimo laranjal, o que despertou a curiosidade do menino...

- Bom dia Senhor, por que tanta pressa assim?

- Bom dia menino, são laranjas para o Rei do Então, preciso levá-las para o palácio antes do meio dia; o rei não gosta de atrasos, e se eu não chegar a tempo, ele ficará de muito mau humor, e então vai falar barbaridades em meus ouvidos, e o que é pior, pode mesmo me dispensar deste trabalho, o que seria então desastroso para mim.

Logo adiante Lampião notou um padeiro assando um grande número de pães, que depois de prontos colocava em um grande cesto, de forma muito afoita, e começou a desconfiar para quem ela...

-Bom dia padeiro, como tem passado?

- Tudo bem menino, passo todo o meu tempo assando pães para o Rei do Então, e preciso levá-los diariamente para o palácio, duas vezes ao dia, e se não chegar no horário, então o rei pode ficar muito irritado, interrompendo o fornecimento de trigo, o que arruinaria de vez o meu comércio. 

Já nas portas do palácio que era muito bonito, majestoso e bem cuidado, Lampião viu uma luxuosa sala, e lá dentro um menino que muito concentrado lia um livro, - era o príncipe Herdeiro, filho do Rei do Então -, e ao lado dele sua mãe, a belíssima rainha, que observava o estudo da criança cheia de preocupações...

- Príncipe, estude tudo, se você não tirar nota 10 nos exames reais, seu pai ficará possesso, e então adeus suas férias de verão, adeus as cavalgadas, adeus os passeios pelo bosque, adeus meus novos vestidos, adeus meus chás vespertinos, adeus minhas jóias, adeus os bailes, adeus tudo...

- Mas mamãe, eu gostaria de brincar um pouco agora.

- Estude menino, estude, não queira despertar a fúria do Rei do Então, - retrucou a atormentada rainha.

Enquanto entrava no palácio, Lampião pressentiu que aquela história não terminaria muito bem, olhou então para Luz, falando baixinho, para somente ela ouvir...

- Luz, minha amiga... prepare-se, talvez tenhamos que sair daqui numa repentina carreira.

Chegando ao grande salão real, onde estava naquela hora toda a realeza reunida, Lampião e luz foram levados até a presença do Rei do Então, onde foram apresentados a este pelo secretário geral do reino:

- Vossa majestade... Trago aqui em sua magnânima presença este menino, juntamente com sua cadelinha, que vieram do Reino do Meio, e estão perdidos por aqui, e solicitam então a sua permissão, bem como o mapa, para saírem do seu majestoso e grandioso reino.

O Rei do Então fixou o olhar no menino e o observou por um tempo que parecia infinito.

- Pois então menino, você deseja voltar para a sua casa?

- Sim, vossa majestade.

- Pois então... o que você sabe fazer menino?

- Vossa majestade... no Reino do Meio, juntamente com Luz, planto árvores.

- Muito bom menino...pois então, precisamos de muitas árvores aqui, a cada ano o consumo de carvão aumenta muito, e a floresta que temos não tem sido o suficiente. Pois então, pois então... darei para você o mapa e a permissão para a sua partida, depois que você plantar nos bosques reais vinte mil árvores.

Lampião percebeu toda a empáfia e arrogância do Rei do Então, olhou para Luz, e através do seu olhar deixou o pequeno animal em estado de alerta.

- Rei do Então... - falou novamente o menino.

-Pois então menino, quando você vai começar o plantio?

- Rei do Então... VAI LAMBER SABÃO, - gritou para todos ouvirem o intrépido menino Lampião.

A partir daquele instante foi tudo muito rápido, o rei ficou então rubro de ódio, os súditos ficaram todos apavorados, e o rei como um monstro mitológico, aos berros ordenava aos guardas, apavorados então, que prendessem imediatamente aquele moloque atrevido, aquela peste do inferno, e sua pequena vira lata, pulguenta e ordinária.

- Então, enquanto o rei gritava, Lampião e Luz corriam pelos corredores do palácio seguido pelos guardas, e dos corredores foram então para os jardins, e dos jardins então para o bosque, e do bosque então para a floresta, onde aceleraram o passo, ouvindo ainda ao longe os brados do Rei do Então... "Se eles não forem presos então vai faltar pão, então todos serão castigados, então todos serão expulsos do meu reino, então todos irão para os quintos dos infernos, então, então, então...."

Depois de muito tempo correndo na floresta densa, Lampião tropeçou na raiz de uma grande e frondosa gameleira, e agarrando sua cachorrinha, rolaram juntos por uma ribanceira, e quando deram por si estavam na beira de um rio familiar; não havia mais gritos e guardas, de alguma forma eles estavam de volta ao Reino do Meio. Lampião olhou feliz para Luz, que lambeu alegremente sua mão.

- Que aventura mais louca Luz, vamos agora, sem mais então, de volta para nossa casa minha amiga.

Assim termina o conto do menino Lampião no Reino do Então, onde habitavam os súditos do rei, os Doentinos, cuja rainha era a Doentona, e o príncipe era o Doentinho, que herdaria finalmente um dia todo o reino de seu pai, o grande Rei do do Então.







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