Balaio de Gatos

Em uma das portas de meu universo mental, o feiticeiro encantado vai aos poucos descortinando seu reino mágico e maravilhoso, no qual sou convidado por ele a entrar, abandonando a realidade concreta do viver.

Dentro do mundo do feiticeiro encantado, onde estou agora, tudo é exato como uma equação matemática, tudo é perfeito e programado, tudo é pontual como um relógio suíço, tudo funciona perfeitamente bem.

Depois de tantos anos, estou cansado deste mundo perfeitinho e mental do feiticeiro encantado; o feiticeiro não admite nenhuma emoção ali, "quem afinal de contas precisa delas?", pensa o feiticeiro encantado.

Consigo por alguns instantes ausentar-me do mundo do feiticeiro encantado, voltando novamente para a realidade concreta do viver; sinto agora vazio e angústia, dura é a realidade, e então novamente a porta se escancara, e de novo aparece o feiticeiro encantado sorrindo para mim, prometendo novos labirintos mentais para encher o meu tempo e minha vida, assegurando-me novíssimas equações, mais idealizações, sonhos e magia.

"Venha e entre... Um mundo perfeito te aguarda, um mundo sem emoções e afetos, um mundo sem problemas e dificuldades, um mundo como um céu sem nuvens, céu de brigadeiro, um mundo sem nenhum imprevisto ou incerteza, um mundo totalmente previsível e totalmente controlado por mim, entre, entre..." pensa o feiticeiro encantado. 

"Saia daqui feiticeiro encantado, vá cuidar de sua vida", penso eu sem muita convicção, mas ele não vai, pois sabe das minhas fantasias de fugas mentais, conhece profundamente minhas fraquezas, e é mesmo impossível para ele partir, pois, em última análise, eu e ele somos mesmo farinha de um mesmo saco, ou ainda um enorme balaio de gatos de infinito e exaustivo pensar, pensar até encher o saco... o saco dos gatos no balaio. 

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