A Formiga e a Cigarra

Era uma vez, numa belíssima manhã de primavera, uma cigarra cantando em paz e alegremente em um tronco de árvore. Passava por ali uma formiga cortadeira muito atarefada, que ouvindo aquele canto, deixou sua folha no chão e foi tomar satisfações com a cantora matinal.

- Dona cigarra, muito bom dia.

- Bom dia formiga...

- Olhe aqui, a esta hora da manhã a senhora deveria estar trabalhando, ainda não aprendeu a lição? Por gentileza, quando vier o inverno, não vá, por favor, ao meu formigueiro pedir comida e abrigo.

- Formiga... - tentou ponderar a cigarra.

- Não tem conversa, a senhora é um péssimo exemplo para os jovens aqui da floresta, com esta sua cantoria inútil.

- Formiga...

- A senhora me ouviu Dona Cigarra?

- Ouvi sim formiga, ouvi sim... Agora ouça amiga: Sou uma adulta agora e aprendi muito, internet sabe, está tudo lá, uma verdadeira enciclopédia... Vivi mais de dezessete anos no subsolo como uma ninfa, já vivi todos os meus invernos e outonos; já vivi na escuridão todos os meus verões. Agora cresci amiga, e daqui a pouco tempo estarei partindo para sempre, estou no fim. Porém, agora que sai do subsolo, descobri que a primavera é belíssima, e canto em busca de uma namorada, pois quero viver os últimos dias que me restam amando profundamente. Seu conhecimento a meu respeito data do século VI antes de Cristo.

A cigarra continuou seu canto feliz, cheia de encanto, aguardando pela sua amada, e a formiga saiu pisando duro em direção ao formigueiro, deixando caída ali no chão a folha ao abandono. 

Naquela noite, no interior do formigueiro, ela teve uma grande crise hipertensiva e precisou ser levada às pressas pelas amigas para um posto de saúde, onde foi sedada; passou, desde então a viver seus dias de forma muito melancólica, deixando de ser uma útil e participativa formiga saúva, transformando-se paulatinamente em uma formiga mala sem alça, dando muito trabalho para todas as suas laboriosas companheiras lá no seu formigueiro.


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