Romeo e Julieta

Gato do Rio de Janeiro, tão belo, um verdadeiro Romeo
 O nome do cinema era Avenida, ficava na Avenida Amaral Peixoto em Volta Redonda, posteriormente transformou-se em um magazine e depois em banco. Lá na sua infância e adolescência o menino assistiu a um sem número de filmes, alguns inesquecíveis. Para ele o cinema era como uma porta para um mundo fascinante, belo, desconhecido e encantador, o menino amava o cinema, quando lá estava esquecia as dificuldades da vida, era como se mergulhasse em um mundo de sonhos e ilusões.  Como ele era muito solitário naquele época, ia na maioria das vezes sempre só, chegava, comprava seu ingresso, suas balas, procurava uma cadeira, sentava-se e assistia muitas vezes ao canal 100 e via também os traillers dos filmes que seriam exibidos futuramente. Ele era um apaixonado pelo cinema, sempre que era possível nos finais de semana, corria para lá. Gostava dos filmes épicos, dos romances, dos Faroestes, das comédias, de todos os gêneros enfim, deliciava-se muito assistindo as películas, era um amante da sétima arte. Lá no Avenida ele assistiu ao "Meu pé de laranja lima" e ficou tão triste com o desfecho, como era possível cortarem aquela laranjeira do Zezé? O menino era muito emotivo, muito sensível, e pouco a pouco os filmes foram revelando sua sensibilidade adormecida. Num determinado dia ele foi assistir "Romeo e Julieta", um clássico de William Shakespeare, bem, que fique claro que ele não conhecia o drama, como também ainda não conhecia o grande dramaturgo inglês. Comprou suas balas, sentou-se no seu canto e foi assistindo ao filme, que beleza, uma produção do italiano  Franco Zeffirelli, tudo muito bonito, a Julieta era uma jovem, a mais bela atriz que ele já havia visto até então, Romeo era um jovem também muito bonito, os jovens ficaram enamorados, apaixonados, fascinados um pelo outro, o cenário era belo, tudo era tão encantador, os jovens se amavam, porém havia muito ódio entre as respectivas famílias, de forma que o romance ocorria sempre às escondidas, sob a sombra da noite, longe do olhar de todos. A história foi ficando eletrizante, aquelas músicas maravilhosas no fundo, o menino não conseguia nem piscar os olhos, tão ligado estava naquilo tudo, e eis que no final ocorre uma grande tragédia, um final de doer, e o menino sentado em sua cadeira assistindo aquilo tudo, que drama meu Deus, pensava ele. Terminou o filme, levantou-se e foi para sua casa muito triste, porque meu Deus, porque aquilo aconteceu com aqueles jovens, que coisa trágica, triste, que coisa meu Deus, pensava e sofria o menino. Naquele dia o menino chorou tanto e chorou também no outro dia e no outro, e no outro, e sua mãe preocupada perguntava para ele o que estava acontecendo, e o menino falava do filme, falava do Romeo, da Julieta, da tragédia, e aquilo tudo doía tanto em sua alma, como é possível mamãe morrer o Romeo e a Julieta daquela forma, e chorava quando ia ao galinheiro cuidar de suas galinhas, e chorava quando ia brincar com o seu cachorro vira lata, o Camborde, e chorava quando ia tomar banho, e chorava quando ia dormir, e acordava chorando no dia seguinte, e naqueles dias, quando ia jogar futebol com os amigos lá debaixo das mangueiras, e ele jogava no gol, como levou gols, os colegas não entendiam, o menino estava tão triste, não conseguia pegar as bolas, era um desastre, e chorou muito o menino, creio que se fosse o seu choro nos dias de hoje, haveria ali lágrimas suficientes para encher o reservatório da Cantareira lá em São Paulo, tão carente de água nestes tempos tão secos. Para encerrar, então,  naquele dia, naquele cinema, o Avenida,  o menino conheceu o Romeo, conheceu a Julieta, conheceu a tragédia, e sobretudo, conheceu também o grande e genial dramaturgo inglês, um certo  William, William Shakespeare.



















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