Meu avô João Pereira

Pau Jacaré
O nome dele era João, João Pereira, meu avô paterno. As lembranças que guardo dele são muito remotas, ele partiu quando eu tinha 8 ou 9 anos de idade. Ele foi um dos pioneiros na fundação da cidade, um Arigó, trabalhou duro nas fundações da Usina Siderúrgica, foi lenhador, carpinteiro e também agricultor, como o neto. Migrou do interior do Espírito Santo para o Estado do Rio nos anos 40, nos anos 30 foi detido durante a revolução integralista de 1932, neste período minha avó, meu futuro pai e tios sobreviveram comendo banana verde lá pelas bandas da Serra do Caparaó, vida dura. Era muito simples o meu avô, bom de conversa, saia pela manhã para comprar alguma coisa, e demorava para voltar, pois parava para falar com todos os que encontrava pela rua, era assim o seu jeito. Quando pegava o ônibus, descia sempre um ponto além do seu destino, dizia para minha avó que era para valorizar o dinheiro da passagem. Era mulato, magro, andava sempre com um chapéu, podia passar um dia inteiro serrando um tronco, ou tábuas, era um artesão com a madeira, a princípio, pelo que consigo lembrar-me, não sofria de um mal tão comum nos dias de hoje, a ansiedade, pois fazia tudo com muita calma, as pessoas da época em que ele viveu não tinham tanta pressa, davam mais valor ao tempo. Comi muitas goiabas de suas goiabeiras, chupei tanta manga espada no verão da mangueira que ele plantou, e cana então, os canaviais dele eram grandes, bonitos e bem cuidados, era um agricultor muito caprichoso o meu avô. Houve uma época em que ele andava pelos restos de capoeira onde morávamos cortando eucaliptos para o Damião, aquele da bola de capotão (leia os meninos da mangueira neste blog), e recordo-me de num daqueles dias subir lá no morro juntamente com alguns primos, para levar a comida para ele em uma marmita de alumínio, comida preparada pela minha querida avó, avó Francisca. Sentamo-nos sob a sombra de um pau jacaré enquanto meu avô almoçava, e eu nunca mais esqueci aquela cena, eu e meu avô sob um pau jacaré. Muitos anos passaram-se desde então, hoje em dia gosto muito das árvores, tenho um profundo carinho e respeito por elas, gosto de cuidar delas, e via de regra, sempre que planto um pau jacaré penso no meu avô, naqueles dias passados, e esta árvore para mim é como um elo entre nós, uma lembrança viva de uma amizade que transcende ao tempo, ao espaço e a morte,  uma união e comunhão eterna entre o homem que dependeu tanto da agricultura para viver, e de seu neto que precisa tanto da agricultura para sentir-se feliz. E antes que eu me esqueça meu avô, seu bisneto tem o seu nome, o mais belo de todos os nomes, é João o nome dele, e é em sua homenagem meu amigo e meu avô. Se for possível meu querido avô, dê uma passada pelos campos onde semeia o seu neto, e olhe com os seus próprios olhos, como as suas sementes de amor que outrora você semeou produziram tantos e tão belos frutos. Sua benção meu  avô, ainda hoje, ainda agora, sinto tanta saudade de ti. 

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