Eu sou, tu és, ele é...

Ao fundo ipê branco da casa da costureira
E no canto do quarto de costura de sua mãe o menino estudava os verbos e suas inúmeras formas de conjugação. Eu canto, tu cantas ele canta... Que eu corra, que tu corras, que ele corra..., Eu cantei, tu cantastes ele cantou,... eu dormirei, tu dormirás, ele dormirá, nós dormiremos, vós dormireis, eles dormirão, e assim por diante, lia a gramática e ia tentando aprender aquele montão de verbos, ia aos poucos entendendo o mecanismo de funcionamento daquilo tudo, e sua mãe que tinha somente a instrução primária ouvia e costurava, ela  havia vivido muitos anos na roça, e precisava andar uma légua (seis quilômetros) a pé para chegar à escola rural. E o menino aprendendo os verbos e sua mãe costurando, até que,  em determinado instante, sua genitora interrompe o trabalho de corte e costura, levanta-se e diz para o menino que vai ensinar para ele um verbo que ela havia aprendido na sua infância, lá no interior do Estado do Espírito Santo, na cidade de Alegre, o verbo ser, no presente do indicativo: "Eu sou, tu és, ele é, nós somos, vós sois, eles são". E a mãe volta para a máquina e a tesoura, havia muito trabalho pela frente, e a imagem daquela aula relâmpago fica gravada para sempre na memória do menino, ele aprendeu com a mãe naquele dia o mais bonito de todos os verbos, o verbo Ser. 

Comentários

  1. É tão gratificante conhecer a alma deste agricultor.

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    1. Na alma humana residem tesouros de valores infinitos, o agricultor vive a vida cavando, sedento destes bens interiores.

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