O Agricultor Urbano e o Avatar
Domingo, 11 de agosto de 2019, cinco horas e quarenta e cinco minutos da manhã. O Agricultor Urbano desperta, levanta e chama seus vira latas para uma missão; não foi necessário utilizar o seu habitual despertador matutino, o seu amigo Tição.
Pegou sua enxada, algumas mudas de laranjeiras, e saiu de sua casa com seus amigos, muito sério e determinado. Adentrou sua conhecida floresta, caminhou um pouco, e algum tempo depois, subia uma ingrime colina que terminava em um alto platô desolado, onde crescia medo, ressentimentos, angústia; mágoas, ansiedade, um mar de pensamentos negativos, um ou outro arbusto mais rude... Havia uma pequena casa neste local, o Agricultor aproximou-se e bateu na porta. Instantes depois o proprietário apareceu.
— Bom dia Senhor, o que deseja tão cedo? — falou o dono da casa.
Pegou sua enxada, algumas mudas de laranjeiras, e saiu de sua casa com seus amigos, muito sério e determinado. Adentrou sua conhecida floresta, caminhou um pouco, e algum tempo depois, subia uma ingrime colina que terminava em um alto platô desolado, onde crescia medo, ressentimentos, angústia; mágoas, ansiedade, um mar de pensamentos negativos, um ou outro arbusto mais rude... Havia uma pequena casa neste local, o Agricultor aproximou-se e bateu na porta. Instantes depois o proprietário apareceu.
— Bom dia Senhor, o que deseja tão cedo? — falou o dono da casa.
— Bom dia, desejo falar com o senhor Avatar — respondeu o Agricultor Urbano.
— Pois não, está falando com ele. De onde o senhor me conhece?
— Li uma crônica a seus respeito no Blog de um grande amigo, e achei que deveria vir hoje bem cedo tomar umas providências.
— Como assim tomar providências? Não entendi.
— Vou ser direto senhor Avatar! Por muitos e muitos anos o Senhor vem grilando terras do mundo real, transformando tudo em inúteis pensamentos que levam do nada a lugar nenhum. Olho agora ao redor e percebo que nestas terras mentais usurpadas do mundo real não crescem quase nada, tudo aqui assemelha-se a um grande e deprimente deserto. Estou aqui hoje para comunicar-lhe de forma direta que, pouco a pouco, estou devolvendo estas terras mentais, ociosas, incultas e inúteis ao seu legítimo dono lá no mundo da realidade.
— Quem o senhor pensa que é afinal de contas?
— Quem pensa é o senhor, eu sou mais afeito ao trabalho concreto do que aos pensamentos vazios e destrutivos. Mas se você disse ser o representante legal do meu amigo neste mundo de ociosidade e fantasias mentais, sou então o seu oposto, pois represento a mesma pessoa no mundo real.
— Poderia dizer-me como pretende tirar as minhas terras?
O Agricultor Urbano então convidou o Avatar a sair de sua casa e dar alguns passos com ele.
— Senhor Avatar, o que você observa lá ao longe, além deste deserto onde tem vivido por tantos anos?
O Avatar aguçou a visão e olhou por algum tempo. — Estou vendo uma grande mancha verde repleta de árvores.
— Todas aquelas árvores senhor Avatar, foram plantadas em áreas que foram no passado áridas e desérticas, áreas de seu antigo domínio.
— E como o senhor fez tudo isso?
— Plantando uma árvore de cada vez, ao longo de muitos anos, principalmente em dias de domingo, como o de hoje. O senhor gosta de laranjas?
— Gosto bastante, é uma de minhas frutas preferidas.
— E quando quer uma laranja, o que o senhor faz?
— Ora, ora, muito simples... eu fico pensando na laranja, depois fico pensando na laranjeira, e ainda, ainda pensando, penso em um pomar repleto de laranjeiras, uma verdadeira maravilha verde e amarela em um dia de primavera.
— E qual o gosto destas suas laranjas mentais senhor Avatar?
— Não tem gosto nenhum senhor, o pensamento não traz nenhum gosto.
— Creio que seja o gosto amargo do desgosto senhor Avatar, creio que seja o gosto do vazio e do nada, o gosto da negação.
— E como mudar este gosto senhor?
-— Observe senhor Avatar, simplesmente observe...
Enquanto o Avatar ficava ali parado feito um mourão de cerca, o Agricultor pegou sua cavadeira, abriu doze covas no chão, e plantou em cada uma delas uma muda de laranjeira da terra.
— Daqui a alguns poucos anos senhor Avatar, teremos aqui laranjas bastante amargas, porém laranjas belas e reais. Apesar de amargas, com estas laranjas podemos fabricar doces verdadeiramente maravilhosos. Amarga não é a laranja senhor Avatar, amarga é a vida povoada de pensamentos inúteis, vazios, e até mesmo destrutivos.
O Avatar continuava ainda parado no mesmo lugar, sem dizer palavras.
— Preciso agora ir embora senhor Avatar, eu e meus vira latas temos ainda muitas árvores para plantar neste domingo tão bonito. Chegará o dia senhor Avatar, que aquela floresta que você agora avista ao longe chegará finalmente às suas portas. Neste tempo que há de vir, talvez eu esteja já bem velhinho, mas terei certamente vivido caro amigo, cada precioso dia que a vida me deu. O Senhor não está errado em pensar senhor Avatar, pensar é fundamental, e através do pensamento podemos construir coisas maravilhosas, mas o pensamento sem ação é como pipa sem vento, o pensamento sem ação e emoção é como um grande livro ininteligível com letras de um alfabeto morto e caduco.
Os vira latas latiram então para o Avatar, que finalmente saiu do seu estado de letargia de mourão de cerca, e meio assustado com aquele choque de realidade perguntou pela derradeira vez:
— Qual a sua graça senhor?
— Meu nome é Agricultor Urbano, e quem latiu para você foram os meus reais amigos: Miúda, Nina e Tição. Se um dia senhor Avatar, resolveres deixar de tanto pensar, procure por mim nas manhãs dos domingos, sempre tenho uma ferramenta disponível ao alcance das mãos. Passar bem.
— Saia já de minhas terras mentais senhor Agricultor Urbano, e vá para o inferno com estes vira latas imprestáveis e comedores de ração.
Neste momento o vira lata Tição rosnou para o Avatar, e só não o mordeu porque o Agricultor Urbano interviu antes, gritando pelo seu nome.
— Por que ele ficou assim tão indignado na justa hora de ir embora?
— Ele não gostou de ser chamado de comedor de ração senhor Avatar, e como o próprio dono, adora mesmo é comer macarrão com angu. Ah, e se for possível, jogue um pouco de água nas laranjeiras de vez em quando, elas vão gostar.
Os vira latas e o Agricultor Urbano desceram felizes da vida ladeira abaixo, em direção à floresta, e o Avatar ficou ali pensando em alguma forma de deter aquele homem tão direto, rude e determinado, bem como aqueles vira latas pulguentos e insuportáveis.
Imaginou então uma grande cerca de arame farpado em torno de todos os seus domínios. Pensou logo que não daria muito certo; pensou logo em seguida que uma cerca elétrica seria melhor. Não, não, pensou novamente... Melhor mesmo seria eu construir um grande e intransponível muro à prova de Agricultores, vira latas, mexicanos e pessoas de um modo geral, um muro onde posso continuar vivendo feliz e solitariamente em meu reino de fantasias e ilusões, bem distante da realidade e das espinhetas laranjeiras, um muro mais resistente que o muro de Berlim, e mais longo que o muro do Donald Trump; um muro de egoísmo.
Lhe enviei um e-mail. Veja se você recebeu. Meu nome é Tainá e preciso entrar em contato com você
ResponderExcluirMeu e-mail tainalima_19@yahoo.com.br
Nossa!!!..*Arrasou na continuidade (construção) do personagem!!!
ResponderExcluirTb gostei da analogia dos muros,rs..Abçs..