Encontro de Quintais
Havia na casa de minha avó, a Francisca, um pé de sete folhas... Eu era um menino e quando ia visitá-lá, o que era frequente, pois morava bem perto da casa dela, ouvia então com frequência o nome da árvore, pois naquela época não existia ainda o GPS, e os antigos utilizavam outras formas criativas de localização.
O Galinheiro ficava abaixo do pé de sete folhas, o limoeiro rosa ficava no sopé do morro, perto do pé de sete folhas, o canavial ficava logo acima do pé de sete folhas, o pé de manga espada ficava abaixo do pé de sete folhas...
Hoje, cinquenta anos depois, numa bela e nublada manhã de sábado, andando pela mata incipiente nos fundos do meu quintal, deparei-me com uma árvore, e como observava com atenção, pois olhava com o coração, notei que cada ramo soltava um conjunto com sete folhas, toda a pequena árvore com conjuntos de sete folhas...
Aquela árvore crescendo ali era o popular ipê de sete folhas, havia plantado um grande número delas, porém, somente agora, em um átimo de segundo, fiz a ligação dela com a outra, a da casa da minha avó. No mesmo instante a saudade daqueles tempos, daquela casa, daquela avó, daquele avô, daquele quintal e daquela gente minha, bateu em meu peito como a força de um vendaval...
- Meu neto, vá ali e traga um pouco de bertalha para mim.
- Onde vovó Francisca?
- Perto do galinheiro menino, abaixo do pé de sete folhas...
- Menino, vá lá fora e colha alguns limões para sua avó...
- Em que lugar vovó Francisca?
- Vá subindo o morro menino, passe pelo paiol de ferramentas de seu avô, fica na subidinha, perto do pé de sete folhas...
- Onde está meu avô Vovó Francisca?
- Está la no alto menino, logo acima do pé de sete folhas, cuidando do canavial...
- Meu neto, traga algumas mangas para sua avó, é verão, e a mangueira está carregadinha...
- Onde encontro vovó Francisca?
- Ali menino... Perto do galinheiro, próximo ao limoeiro, do lado do canavial, onde cresce o pé de sete folhas de sua avó... Colha as mangas menino, ali perto da caixa d'água, onde você planta suas árvores e passeia com os seus cachorros, onde você cuida do chão e olha para o céu contemplando as belezas do eterno, onde cresce o seu ipê de sete folhas... Colha ali menino, onde o tempo jamais nos separa, e nossos quintais e corações permanecem unidos pelo eterno amor que nos une, ali menino, sob a sombra dos nossos amados ipês de sete folhas.
Quando acordei do meu sonho e encantamento de sentir, já estava distante do ipê de sete folhas, descendo o morro junto com os meus vira latas. Descia também dos meus olhos um turbilhão de lágrimas... Lágrimas de avó, lágrimas de avô, lágrimas de neto, lágrimas de todos aqueles que amam a vida e os quintais.
Saudades daqueles tempos inesquecíveis, querido primo.
ResponderExcluirSem palavras Doutor, sem palavras...
ExcluirNesses tempos, torço para que nossos netos tenham um belo quintal como esse. Belo texto, Aloísio!
ResponderExcluirEra uma vez uma doce tempo em que existiam quintais e avós...
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